Page 293 - Revista da Armada
P. 293
& Nota de Abertura
Lisboa e o edifício da Marinha
isboa das sete colinas (1) e casario mul·
ticor I que assististe orgulhosa à maravi· nau
Llhosa epopeia dos Descobrimentos ... que dE!
foste famoso porto de mar, onde desembarca- pedra
vam riquezas vindas de todos os continentes ...
cabeça de um Império, dqs maiores que o
Mundo já viu, construído com muito trabalho
e sacrifícios. mas também com humanidade e
sem preconceitos rácicos, à imagem e seme-
lhança do nobre povo que vive nesta nesga da
Europa ...
Lisboa das vielas e das tascas, de marinhei-
ros e varinas, de guitarras e violas gemendo 3diffcios e palácios antigos, bairros típicos,
o fado em bairros castiços, do café e do baga- igrejas, no Tejo que lhe beija os pés e em mui-
ço ...
tos outros pormenores que a tomam única no
Quem te viu e quem te vê !
Mundo.
Agora. navios a navegar no Tejo, a entrar
E por falar nisto: ultimamente, têm-se ma·
ou a sair a barra? Só um ou outro, e de vez em
nifestado algumas pessoas de alto gabarito no
quando!
sentido de se mudar a Marinha do seu secular
Marinheiros gingões com andar de navio
casulo da Ribeira das Naus para qualquer outro
a dar balanço bombordo-estibordo ? Idem,
local.
aspas !
Pessoalmente entendo que seria uma bar-
Aspirantes pínga..amores, da Escola de
baridade. A famosa Nau de Pedra, (3) fundeou
Guerra ou da Naval, luzindo as suas fardas nas ali, há 500 anos, para ficar ... Tudo o que lhe diz
ruas da Baixa lisboeta? Idem, aspas!
respeito está carregado de história. Construi-
Meninas casadoiras, escoltadas por mamãs
ram-se navios dos Descobrimentos na Ribeira
ou tias solteironas? Idem, aspas!
das Naus; construíram-se e repararam-se mui-
MagaJas, guitas, chuis, pica-cbounços e
tos dos da República no velho Arsenal da
sopeiras (2) à Bordalo Pinheiro? Esses ainda
Marinha; da antiga Escola Naval saíram oficiais
se vêem, mas com um visual e uma mentali-
que se notabilizaram nos mais variados cam-
dade completamente actualizados!
pos, militar, científico, literário, etc., muitos
Tudo isso, reside apenas na memória dos
deles mortos ao serviço da Pátria, no mar, em
mais velhos e só se revive em quadros de
terra e no ar ...
revista! A Marinha tem que ficar onde está. As rai-
A Lisboa de hoje ... é barulho, confusão, zes são tão fortes e tão fundas que não há
encontrões, má-criação, droga, assaltos, insul-
forças humanas capazes de as arrancar!
tos, lixo, cães vadios, correrias, manifestações,
Com tanto que há a fazer pela cidade de
greves, pedintes, cauteleiros, turistas de pé
Lisboa, do que se haviam de lembrar ...
descalço ... uns oásis de bom gosto aqui e aco-
lá. Apesar de tudo continua bonita e digna de
ser vista e admirada, nos seus monumentos,
(1)· Só agora soube que as sete ro/ftlas 510: S. Vicente, Castelo, (3)· Nome que os marinheiros tUo ao Edificio da Marinha. Para
Santo André. Santa Ana, S. Roque. Chagas e Santa: Catarina. quam quiser conhecer a sua história aronselha-se a lejtura da
(2) - Soldados. guardas·republicanos, policias, guardas·fiscais, publicapIo com asse titulo editada pela «Revista da Armadao
empregadas domésticas, respectivamente. em 1988.
3