Page 242 - Revista da Armada
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ta,  na direcção  em  que  partira  o   Foi  feita  a  chamada  geral.   quem diabo era?
            bote,  à  espera de vê-lo  regressar   Enunciaram-se todos os oficiais, te-  E exacto. Então,  quem era? -
            com o corpo do infeliz, ou o que era   da a guarnição, toda a taüa. Todos  repetiram cinquenta, cem, duzen-
            pior, sem ele.                    responderam, quer por um - pron-  tas bocas, do comandante ao últi-
               -  Mas  viste  mesmo  alguém   to!  rápida e  incisivo, quer por um  mo grumete.  Ninguém mais  pOde
            cair ao mar? -  indagou o  coman-  número, sonolento e  arrastado.   dormir, às voltas com aquela ocor-
            dante do vigia de proa, um miquim-    Quando o sargento chegou à c0-  rência  fantástica.  Quem  seria  o
            bf  preto,  que  o    encarava    luna dos grumetes faltava um: Ma-  náufrago?
            espantadIs!limo.                  né  Filipe.  Foi  o  único  que  não   No dia seguinte,  já o  facto co-
               -  Vi. sim senhor, seu coman-  respondeu à chamada. Era, portan-  meçava a  ficar esquecido, quando
            dante. Vi um sujeito despencar co-  to,  o  náufrago.  Bem  haviam dito.  o  cozinheiro,  passando  revista  à
            mo uma carga. e fazer - tchibuml   Foi o  raio do sono que o  perdera.  criação, deu por falta de um porco ...
            dentro d 'água.                   Não  se emendara.  Quantas vezes
               -  Enfim -  disse o  oficial,  de-  estivera  no  livro  de  castigos  por   ln d'atesca5' e ManunbajQSJo (Ediçâo Brasilei-
            soJado - esperemos a embarcação.   dormir em serviçal Lá estava mor-  ra),  de asstlo Penalva.
               Veio  o  bote,  Ninguém.  Não   to.  no imenso túmulo do oceano.
            acharam ninguém. Bem que procu-       A  guarnição debandou, tristo-   N.R . • Termina neste n tlmero da Rflvis!a
            raram,  apesar  da  escuridão  e  da   nha  e  cabisbaixa,  pela  desgraça   a  s~rie de  20  excertos  seleccionados pelo
            agitação das águas. Só se fora apa-  que acontecera.  Pobre  rapaz!  Tão   vlalm. Sjlva Brage., de uma maneira crltflrlo-
            nhado e  estralliaçado pelo  hélice.   criança! E sua mãe, muito velhinha.   Soa, pois, através deles podflm verificar·se as
               - Mande formar a guarnição -   lá no sertão da Paraíba, como havia   vllrias circunstAncias em  que o  grito alTe-
            ordenou o  comandante.            de sentir, quando o  soubessel    piante de dlomem 80 Mano, pode surgir ines-
                                                                                penldamente em qualquer navio. S6gundo
               Logo soaram toques de come-        Meia  hora  depois.  o  cabo  de   diStJe o autor na introduç4o ao primeiro, pu
            ta, desusados a  essa hora, e  a  ma-  quarto, rondando a coberta, de lan-  bliotdono N . - J961F~8(eiro J988, _  excer·
            ruja reuniu-se em dois quartos, de   terna em punho, esbarrou num far-  toa  que  se  reUDem  nesta  colactllnflft  de
            um bordo e  de outro.              do  que  atravancava  um  corredor   _Homem ao Mar., slo a dBSCriç40 de factOll
               -  Todo  o  mundo  em  forma.   sombrio.  Abaixou·se,  espevitou o   vividos, perenemente fbaJdos nas nossas 16-
                                                                                corda~ navaip.
            Mesmo os que estão de serviço. Só   archote, desembrulhou aquele con-  A  Revista da Almada agradsce roê B&-
            fica o  homem do leme.             trabando, e  do meio de uns capa-  ta brilhante coJaboraç4o do almirante Silva
               Vieram os restantes. Não falta-  chos velhos e de uma manta suja e   Bl1Iga, sem IflSquscer a vaJorizaç4o que lhe
                                                                                foi dada pelos megnilicos desenhos do c0-
            va ninguém, Apenas o  timoneiro,   esbwacada surgiu um vulto a cam-  mandante Sousa Machado,  tifo bem feitos
            que lá ficara  no  passaruço sob as   balear como um ébrio. Mané Filipe!   que  cU  gosto  vê--Josl
            vistas  do oficial de quarto.      -  Não era ele  o  defunto -  russe
               -  Faça a  chamada.             consigo o vigilante. - Mas. então,  • •••••••••••••••••



                                                 Rep  rtagem








                                                                                 ARTE DE MARINHEIRO
                                       .. -                                        A  Marinha  tem, com  a colaboração da

                                     f.  .                                       Escola  de  Marinharia,  apresentado  uma
                                                                                 exposição  itinerante  sobre  a  _ARTE  DE
                                                                                 MARINHEIRO •.  Dado o  interesse que tal   •
                                                                                 u:posição  suscita,  foi  decidido  criar  um
                                                                                 espaço na  Escola de  Marinharia,  onde esta
                                                                                 exposição ficará permanentemente montada,
                                                                                 a fim  de possibilitar a  todos os  militares da
                                                                                 Armada nomeadamente os do SMO. ver algo   •
                                                                                 da  nossa  tradição  naval  de  que  muito  nos
                                                                                 orgulhamos: a .. ARTE DE MARINHEIRO •.






                                                                                 Naj%podrmo! l'tralguns trabalho! de nwrinJw·
                                                                                 rio  (colaoora('t'Ia  da  Escola de Marirlhorio) .
                                                                                 ••••••••••••••••••
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