Page 237 - Revista da Armada
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relas. Depois quartos 8 Tá B come· foi-me entregue aqui a bordo por um ;rrepreenslvel asseio, como de-
çoU 8 formatura 80S dois bordos. um rapaz da minha terra que de- pois se reconheceu, t:a1vez por com-
Apareceu então o sr.imediato, c0- sembarcou na vl!fspera da partida e preender a sua situação de
meçando 8 revista de corpos e de pecliu-me para a guardar bem e me pertencer A equipagem de um na-
uniformes. De cima da ponta era cu- fizesse amigo dela. Ora eu sem sa- vio de guerra da Marinha portugue-
rioso ver o movimento da pequena ber que fazia mal, tenho tratado sa, que isso, atl!f nos animais era
oscilação dos 200 homens forma- delA antigamente motivo de justificado
dos, que seguiam os balanços do _ Está bem, o senhor coman· orgulho.
navio de EB 8 EB. dante decidirá ... «Mimi» deixou-se lavar pelo ma-
Mas quem era a 1fMimi»? rinheiro seu protector, o «ParciaLII. e
.Mimi» atá agora n40 tinha apa-
«MimiJl era a mais linda cabri- ficou amarrada ii abita como um
reddo em cima. ou pelo menos pou-
nha branca que eu tenho conheci- condenado no pelourinhO à espera
ca gente a tinha visto e por uma
do, muito nova, muito elegante e da sentença.
destas resoluções rápidas, que de-
cidem ás vazes de uma existência evidentemente de uma raça nobre, Mas quem era então o «Parda1n?
de pernas finas e elásticas, ~10 se- IIPardal» era um voluntário que
inteira. parece que 8 «Mimi», farta
doso e liso, uns pequenos comichos uma tarde se apresentou no quar-
de 58 achar sequestrada lá para o
que davam vontade de os dourar, tel de Alcántara para se alistar na
• fundo dos porões ou outros escon- um focinho rosado, movediço e uns Armada.
derijos. talvez necessitada de ar pu-
olhos - era preciso que os vissem· - O que I!f que tu sabes fazer?
ta, sozinha subiu um dos lanços de
parecendo que falavam e por vezes - Tudo o que for preciso.
escada da coberta e logo que se
cheios de ironia. Era, segundo to- - Mas já embarcaste?
apanhou em cima ao ar livre. em
das as probabilidades, virgem de - Pelo mar, nAo senhor.
plena magnibciência dessa manhã
dos trópicos. ébria de ar, de luz, de corpo e ia a clizer de alma, graciosa - Pelo mar? Então o que é que
em todos os seus movimentos e de tu queres dUzer?
movimento, /fMimj. abriu a boca e
pronunciou algumas frases, que
não foram desde Jogo percebidas. Ul
começando 80S pulos pelo convés rr
nas mais engraçadas cabriolas de
criança pequena.
Não se imagina o efeito que is-
to produziu na guarnição toda_ O '<Vj) \ t
que era? O que se passava?
E a nossa «Mimill, indiferente a
todas as hipóteses, tranquila na sua
ideia da liberdade, aspirando a ple-
nos pulmões o ar, saltando de cima
de uma capoeira para a tolda e da-
qui para uma escotilha, enfim nu-
ma doiclice interessante e cómica,
gritando e cantando, vem aM a ré.
- O que é isto? - perguntou o
imediato.
- Saberá V.Exa. que não sei -
clissa o contramestre realmente ado
mirado.
- Mas como veio isto para
bordo?
- Nílo sei, sr. imediato.
E era verdade.
• - Está bem. Agarrem-na,
amarrem-na á proa que eu já lhe
dou destino.
A sentença ia executar-se quan-
• do do quarto de folga saiu uma voz
clizendo:
- Dá licença, sr. imecliato?
- Que I!f?
Era o primeiro grumete, o «Par-
dal», da gávea de proa, cliacho de
garoto sempre pronto para as maio-
res partidas e que vinha de primei-
ra viagem a bordo.
- Saberá V. Exa. que a ItMimi»
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