Page 335 - Revista da Armada
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submersos pela imensidão dos inimigos, sele navios e para cima de setenta euro-. a sul de Anila. Vasco Femandes man-
não escapando nenhum com vida. peus. além de um número cenamente dou equipar com alguns . berços» os ba-
Completamente desorientado com os elevado de auxiliares malaios. com o que téis que a nau e as caravelas, como era
sucessivos golpes que a sua armada es- o seu prestígio naquela região ficou mui- habitual. levavam a reboque e enviou-os
tava sofrendo, D. Sancho Henriques aca- to quebrantado. em perseguição da fusta que, entretan-
bou por decidir regressar a Malaca para to, já se tinha metido pelo rio dentro.
se reforçar, na intenção de voltar a com- ARZILA (Verão de 1523) Vendo a sua guarnição que os nossos ba-
bater com Laqueximena. Mas este não téis tinham também entrado no rio e iam
era homem para se deixar embriagar pe- Durante o verão de 1523. ficou na em seu seguimento. pãs-se em fuga para
los fumos da vitória. Compreendendo patrulha do estreito de Gibraltar Vasco terra. abandonando a fusla que foi levada
que a derrota dos portugueses se devera Femandes César com a nau que fora para Arzila.
principalmente a um golpe de azar e a apresada aos Franceses e duas caravelas.
alguns erros do seu chefe. e temendo a Certo dia. andando a cruzar nas pro-
desforra deste. achou preferível regres· ximidades de Arzila foi acomelido por $(1I11n1;1I0 Moflteiro,
sar vitorioso a Bintão. deixando. por al- uma fusta de «mouros-. possivelmente de C.UG
gum tempo, Malaca em sossego. Larache. que, obviamente. confundira OS
Os combales do rio de Muar de 1523 seus navios com mercantes mal armados.
Bibliografia; «Anais dr D. IOdo III~ de Fri'f LM(s
constituiram a mais pesada derrota que Mas. logo que a nossa artilharia come-
di' Sousa: .0 esstnc/al 5<Jbre o CorJO i' a Plrmo-
os Portugueses tinham sofrido alé então çou ti disparar, os mouros perceberam ,;a~ de Alia Marli' P. Ferrl!;m: _AtltUli'S tia Mari·
nos mares do Oriente. Neles perderam o erro e puseram-se em fuga para um rio 111m P"'1JiglH·~a. df IS'lddu lia COS1/l Quin/i'III/:
Bibliografia
«Andanças de um marinheiro»
Acaba de sair da impressora abranje a biografia do facto vivido, in- olhos abertos e espfrito atento.
- das edições "Texto», tem que do todavia muito mais além de um As suas observações sobre ter-
dizer-se - um livro cuja leitura há- curriculum, para nos deixar a foto- ras, gentes e costumes do Oriente
-de reavivar em muitos saudáveis grafia humana de uma época. O al- são parte muito inlereSS'inle, onde
recordações, nostálgicas, talvez. mirante Malheiro do Vale mostra sobressai a dos segregados Tán-Ká,
mas amenizadas por uma escrita aqui, realmente, quanto vale ... de vida flutuante, pouco à-vontade
fluente, simples, directa, com aque- Evocação de um princIpio de car- em terra; ou o vfcio do jogo; a ele-
la percentagem de humor quantum reira como piloto-aviador, de comls· gância das cabalas, "ou do que está
satis, que sabe bem. Para outros, pa- sões de embarque, de andanças e dentro delas", e a das timorenses
ra aqueles a quem os verdes anos desandanças de um navio oceano- com a sua lipa justa e decote gene-
não dão ainda suficiente perspecti- gráfico em missão nos mares de An- roso; o mundo colorido, belo, estra-
va em termos de recordações, mas gola, de imediato de destroyers, de nho e vivo dos bancos de coral; e
são em si capazes de as entender um comando em longa comissão no tanto mais qua em cada página nos
numa espéCie de reposição ao vivo Oriente, e da guerra em terras da é dado, às vezes em .. f[ash-back ..
do passado, a leveza e graça das Guiné. São páginas de reconstitui- bem inserido. com frases talvez
inúmeras histórias contadas ao cor- ção viva de uma época em que tanta comuns, .. pão-pão. queijo-queijo»,
rer da pena, de permeio com a vera- coisa aconteceu: é história autêntica mas por isso mesmo de leitura leve.
cidade que é denominador comum aqui transmitida para o futuro. Não fácil, descontrafda.
em todas elas, para estes, também. cremos ser afirmação gratuita que o Um bom retraio da guerra na
as - páginas deste livro serão per- escrito permanecerá válido para ser Guiné, tarrafe, lodo, turras, tiros, ba-
corridas com o gosto do passatempo lido daqui a muitos anos, com o judas e bazucas, minas, embosca-
que não se quer largar, e não se vai gosto de quem aprecia hoje uns das, drama e anedota.
esquecer. «Quadros Navais" de Celestino Soa- Não vamos, obviamente, espre-
Estamos a referir-nos às "AN- res. umas "Narrativas Navais- de mer aqui o conteúdo, Mas queremos
DANÇAS DE UM MARINHEIRO- do Brás de Oliveira, só que estas "an· deixar uma opinião. Em poucas pa-
almirante A. J. Malhelro do Vale, cuja danças", não sendo restritamente lavras, já agora: é um livro que vale
prosa, bem conhecida já de quantos "navais", possuem quanto a nós a a pena ler.
leem a Revista da Armada, adquire vantagem, não despicienda, de se-
aqui um outro folego, outra dimen- rem testemunho de quem viveu Sousa Machado,
são, rasga horizontes mais vastos, acontecimentos muito variados de CMG
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