Page 44 - Revista da Armada
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Batalhas e combates





            da Marinha portuguesa (XXXIII)







            Bit"  (Ma~ de  1~21J                 E  assim,  em  princípios  de  1521,   Fernandes de Beja de imaginar um estra·
                                              depois  de  ter  despachado  as  naus  de   tagema  que lhe  permitisse  recuperar O
                  ntre as  principais tarefas de que   carga  para o  reino, que era a  principal   feitor e os seus companheiros bem como
                  D.  Manuel  encarregara  Diogo   preocupação dos governadores. voltou a   a  fazenda  da  feitoria .  E  conseguiu-o
            E Lopes  de  Sequeira  quando  o   sair de Goa com uma armada imponente   duma  forma extremamente engenhosa.
            escolhera  para  governador  da  fndia .   constituída  por cerca  de oitenta  navios   Tendo começado  por  convencer  Meli-
            contavam-se a destruição da armada dos   em que iam embarcados perto de três mil   queaz de que Diogo Lopes de Sequeira
            Rumes. que Lopo S'oares de Albergaria   portugueses. além de grande número de   lhe  havia ordenado que ficasse  em  Diu
            não conseguira levar a cabo,  e a cons-  auxiliares canarins e  malabares, e di ri-  com cinquenta homens, durante a .. mon-
            nução  de  fortalezas  cm  Massuá  (ou   giu-se a  Diu onde Meliqueaz.  que já o   ção., para prOteger a feitoria e que man-
            Adém)  e Diu.                     esperava, tinha reforçado consideravel-  dasse os navios para Goa, pediu-lhe que
               A  13  de  Março  de  1520,  largou   mente  as defesas da  cidade.   lhe  fornecesse  algumas  lanchas  para
            Diogo Lopes de Goa com uma frota  de   Tendo  chegado  em  princípios  de   levar  mantimentos  para  bordo  e.  na
            vinte  e  qualrO navios  (dez.  naus.  dois   Fevereiro  de  1521,  Diogo  Lopes  de   volta, trazer o pessoal para terra. É claro
            galeões, seis caravelas, cinco galés e um   Sequeira logo voltou a dar provas de falta   que  Meliqueaz  ficou  encantado  com  a
            bergantim)  na  disposição  de  tomar  de   de  capacidade  de  decisão.  Receando   ideia, uma vez que quaOlos mais ponu-
            assalto Judá e queimar  as  galés  turcas   pelas vidas do feitor e dos outros ponu-  gueses tivesse nas suas mãos mais segura
            que aí se enCOnlravam c.seguidamcmc.   gueses que ali estavam, receoso de sofrer   ficaria a cidade,  e apressou-se a dar as
            construir uma  fOr1aleza  em  Massuá  ou   muitas baixas se optasse por um assalto   embarcações pedidas. Tratou o feitor de
            Adém, conforme -in loco- achasse mais  à viva  força,  sentindo  a  falta  de  apoio   meter nelas diversos mantimentos. entre
            conveniente. No entanto, acabou por não   dum ceno número de capitães que esta-  os  quais  algumas  vacas  e  carneiros,
            fazer uma coisa ncm outra.  Devido a ter   vam  mais  interessados em ir tratar dos   acompanhados das respectivas forragens.
            encomrado  ventos  contrários  no  Mar   seus negócios do que em fazer a guerra,   E à socapa  foi  embarcando também as
            Vermelho, nem sequer conseguiu chegar   reunia  conselho  atrás  de  conselho  e   mercadorias de valor que havia  na  fei-
            a Judá: tendo perdido. por erro de nave·   embrenhava-se em negociações intermi-  toria! Já de noite, dirigiram-se as lanchas
            gação. a  nau  que  levava a maior parte   náveis  com  o  astuto  Meliqueaz.  sem   para  os  nossos  navios.  escoltadas  por
            das ferramentas e dos materiais destina-  saber que  fazer.  Por  fun.  agarrou-se à   uma  pequena  fusta,  sem  ninguém  ter
            dos à edificação d3  fortaleza,  viu·se for-  ideia de que. em vez de atacar Diu, seria   notado que o feitor e os seus companhei-
            çado  a  desistir  desta.  acabando  por ir   mais sensato construir uma fortaleza em   ros se tinham metido nelas! Descarrega-
            invernar (passar o tempo da _monção.)   Madresaba  que  pudesse  ser  utilizada   das  as  lanchas  ., .  foram  deixadas  ir à
            a Ormuz onde foi  recebido com grandes   como base para lhe fazer guerra por mar.   deriva!
            festas e onde. segundo  parece. ele e os   E, apesar da grande celeuma das guar-  Quando  Meliqueaz.  foi  avisado  do
            seus capitães e soldados terão feito bons   nições,  que  estavam  a  contar  com  o   que se passara e de que a feitoria estava
            negócios.                         saque da cidade, decidiu mandar regres-  praticamente vazia, percebeu o logro em
               Tenninada a ... monção», Diogo Lopes   sar a Goa D. Aleixo de Meneses com os   que  caíra  e compreendeu  que a  guerra
            de Sequeira dirigiu-se a Diu na esperança   navios de remo, seguir com as naus para   com os PQnugueses, que nunca desejara,
            de poder fazer ali  uma fortaleza confor·   Ormuz, a tratar de negócios. deixar dian-  era inevitável. Ao outro dia, de manhã,
            me  o  rei  lhe  recomendara.     te de Diu Diogo Fernandes de Beja com   Diogo Lopes de Beja declarou-a fonnaJ-
            Mas,  também  desta  vez  não  foi  feliz .   um galeão e duas ·caravelas  para  tentar   mente e as hostilidades começaram nesse
            Meliqueaz  encontrava·se  ausente  da   recolher o  pessoal e a  fazenda da feito-  mesmo  instante.
            cidade e seu  filho.  que a governava em   ria  e.  depois,  declarar  guerra  a  Meli-  Do  alto das  muralhas  da  cidade.  a
            seu lugar, recusou·se a dar a necessária   queaz e ao rei de Cambaia de que aquele   anilharia  começou  a  bombardear  os
            autorização, alegando que não dispunha   era  vassalo.  No  fundo,  é  possível  que   navios  portugueses,  ao  mesmo  tempo
 •          da  aUloridade  necessária  para  decidir   esta  intempestiva  declaração de  guerra   que  sessenta  fuslas  saíam  de  Diu  e,
            sobre um assunto de tanta monta. Encon-  tivesse por finalidade principal deixar a   divididas em três esquadrilhas de vinte
            trando-se  Diu  muito  bem  fortificada  e   Diogo Lopes e aos seus capitães as mãos   cada  uma,  os  vinham  atacar  por  mar.
            guarnecida.  Diogo Lopes entendeu que   livres para poderem capturar à vontade   Sabia Diogo Fernandes que as fustas
            não seria prudente recorrer à força para  as ricas naus de Cambaia que, aliás, foi   de Diu eram  um adversário de respeito
            levar por diante os seus desígnios e optou   o  que  fizeram  a uma  que  encontraram   e, por isso, tinha mandado proteger com
            por  regressar  a  Goa,  na  intenção  de   poucos dias depois. quando iam a cami-  arrombadas o galeão e as caravelas. tinha
            voltar no ano seguinte com mais meios   nho de Ormuz.                ordenado ao pessoal para se manter abri-
            e  fazer  a  fortaleza  a  bem  ou  a  mal.   Panido o governador.  tratOu  Diogo   gado  no  interior  enquanto  durasse  o

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