Page 23 - Revista da Armada
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HISTÓRIAS DE MARINHEIROS


       110-Um improviso









             m  velho  contador de  histórias.
             por  vezes  bastante  rrescas.  foi
       U um dia censurado. por um  ami-
       go.  por  não  se  coibir  na  presença  de
       senhoras.  Mas, para ele,  tudo  era  sus-
       ceptível  de  ser  contado.  Decerto  que
       jamais  usava  expressões  grosseiras  ou
       descrevia. cruamente, cenas mais vivas.
       Nas panes mais delicadas socorria-se de
       (ormas eurellÚsticas, salvadoras de toda
       a decência.
          Ainda quanto a audiências femininas
       havia. em seu entender, duas classes de
       senhoras. Umas, por boas entendedoms,
       atingiam  a  intenção das  histórias,  por
       inteiro.  sem  se  ser  explícito.  Não  se
       molestariam,  pois,  com  atrevimentos
       encobertos. Nada se lhes acrescentava ao
       que já sabiam.  Outras, eram  ingénuas.
       Essas.  po<Ham ouvir, sem melindre,  as
       histórias  mais  audazes.  Inocentes.  não
       lhes alcançariam a  malícia oculla.  Per-
       maneceriam,  assim,  tal  como estavam
       antes.
          Ao  contar-se a história de hoje,  um
       tanto  atrevida,  veio  à  lembrança  esse
       velho original. Os leitores mais experien-
       tes  entenderão  logo  as  sucessivas
       cacofonias e o eufemismo - este no dis-
       farce de uma palavra em itálico. Porven-
       tura, um mais inocente nada entenderá.   cola  Naval  - o que. cacofonicamente,   plosiva. determina a  pressão dos gases
       Perderá.  apenas,  a  pretensa  graça  da   não  lhe  seria  muito  lisongeiro.   quando  aquela  rebenta.
       história ...                         Entra, agora, na história um aspirante   Na  aula a seguir, o Fó da Marinha-
          Pois, em principio da década de 20,   desse tempo. Chamavam-lhe o Velhadas.   ria falou dos patarrazes - um tipo de ca-
       era  instrutor  da  Escola  Naval  um   A alcunha viera·lhe dos tempos do liceu,   bos usados a bordo com função fixadora.
       1.  O-tenente  cuja  assinatura.  abreviada.   que frequentara  em  Lisboa.  O  pai,  ex-  em tudo semelhante à dos suspensórios
       constava.  apenas,  de  duas  maiúsculas,   tremoso  pelo  filho,  acompanhava-o   que  seguram  as  calças dos  homens.
       seguidas  do  último  apelido.  este  por   sempre,  na  ida e no  regresso das aulas.   Logo o VeIJuukts. em breves momen-
       'extenso. As maiúsculas - um «F,. e um   Era um caso único.  Os colegas achavam   tos. fez circular na turma um  improviso
       -a,. - correspondiam, respectivamente.   exagero  tais cuidados.  E.  por chalaça.   que seriamente penurbou a compustura
       ao nome  próprio e ao primeiro apelido.   puseram o nome de  Velhadas ao pai do  dos  camarlldas.  Risos  mal  contidos
       Os aspirantes, colaborando na simplifi-  rapaz.  Veio  este  a  herdar  a  alcunha.   irromperam. por aqui e por ali, na leitura
       cação. referiam-se-Ihe. tão-somente, por   Foi  infeliz  na  vida.  Morreu  cedo.   de uma  quadra.  que corria assim:
       Fó.                                Mas  tinha  um  talento  inspirado  para
          Oficial dedicado e trabalhador, estava   versejar.  Com  graça  natural  e  sentido   Dizem  que  o  F6.  ceno dia,
       sempre  pronto  para substituir qualquer   crítico agudo. as  suas poesias ressuma-  Arriou  os  patarrazes,
       instrutor que faltasse  à  lotação.  Veio a   vam  humor em cada  linha.   Meteu  um  crusher  no  ..  bolso,
       acumular.  deste  modo,  várias  discipli-  Ora certo dia  o  mestre de  Balística   Para  medir a  força  aos  gases ...
       nas.  E  os  aspirantes,  irreverentes.   Interna explicou o que era e para que ser-
       chamavam-lhe o  Fó do  Desenho. O Fó   via o crusher.  Em lermos simples. trata-          Silm Bragil.
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       dos Sinais. o Fó dos Cálculos Náuticos.  -se de um pequeno dispositivo cilíndrico
       o Fó da Fotografia, o Fó de tudo da Es-  - que, colocado junto de uma carga ex-  ••••••••••••••••••

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