Page 24 - Revista da Armada
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Uma oficina de instrumentos náuticos . ..
ou talvez não
ntes de terminar o século XVIII, criou-se em o contrato foi celebrado no dia 16 de Agosto de
Portugal a Sociedade Real, Mar/tiros e Geográ· 1800, e Jacob Haas obrigava-se a residir dez anos em
A fica para Desenho, Gravura e Impressão das Portugal. recebendo anualmente 100 moedas de ouro
Cartas HidrográBcas, Geográficas e Militares. Esta - o equivalente a 480$000 - e a ensinar tantos apren-
instituição mais conhecida pelo título abreviado de dizes quantos o governo lhe quisesse mandar.
Sociedade Real Marftima, ficou a dever-se à iniciativa As obras para o Estado eram-lhe pagas, assim
de D. Rodrigo de Sousa Coutinho, que fqf um ilustre como os materiais e a mão-de-obra, podendo. nos
ministro da Marinha e Ultramar. Aliás, esta Sociedade tempos disponíveis, fazer trabalhos particulares. Era
iria ter uma vida bem curta, pois não conseguiu resistir como se vê, um contrato bem vantajoso, pois além do
à catástrofe motivada pelas invasões Francesas. que já referimos, ainda lhe era fornecido local para a
O objectivo principal desta instituição era fazeI oficina e habitação, tendo-lhe sido cedidos para o
renascer a arte da cartografia, em que os Portugueses efeito compartimentos na Fábrica Real de Cordoaria.
tinham sido mestres incontestáveis. Todavia, pre- Sabe-se que Jacob Haas nasceu na Alemanha em
tendia-se também criar condições para o fabrico, no 1753. Um dos seus irmãos foi, como ele. fabricante de
nosso país. de instrumentos náuticos, dado que, como instrumentos e presume-se que seja o pai de João
acontecia com as cartas de navegação, estavam a ser Frederico Haas ao qual, em breve. nos iremos referir.
importados, especialmente de Inglaterra. Conhecem-se alguns dos instrumentos que Jacob
Para o efeito, enviaram-se artífices para Londres, fabricou quando trabalhou em Inglaterra. mas aqui,
a fim de estagiarem na oficina de Jesse Ramsdem, a em Lisboa, a primeira notícia de uma obra por si exe-
mais célebre do seu tempo no fabrico dos chamados cutada, aparece na Casa da Moeda. É dos fins de 1802
instrumentos de matemática. Por outro lado contratou- e rerere-se a uns pesos encomendados para o labora-
-se, naquela mesma cidade. o mestre Jacob Bernard tório de química que existia naquele estabelecimento.
Haas, um anffice que, neste domínio, tinha o seu pres- Em 1813 Jacob publica no Jornal de Coimbra, um
tígio já assegurado, longo anúncio, onde informa o que está apto a fazer
na oficina: barómetros, termómetros, balanças hidros-
táticas, quadrantes solares, pluviómetros, óculos de
teatro e outros mais, indicando, naturalmente, os
respectivos preços.
Entretanto, Haas surge-nos empenhado na cons-
trução de um engenho de serrar madeira, de desenho
seu, destinado ao Pinhal de Leiria, mas da sua activi-
dade fora dos instrumentos científicos, há que refe-
rir, um outro projecto que ficou ligado a um aconte-
cimento de grande relevo no nosso pais. De facto, Haas
foi o fabricante dum tórculo destinado à Imprensa
Nacional e que foi cedido, em fins de 1822, ao Banco
de Lisboa, que tinha sido criado no ano anterior.
Este prelo serviu para nele serem impressas as pri-
meiras notas de banco que houve em Portugal. Esta
bela peça ainda existe na Casa da Moeda. onde tem
O lugar de destaque que merece.
Em 1823 Jacob, com 69 anos de idade continuava
a receber os mesmos 480$000 anuais, facto que mostra
que, na época, o flagelo da inflação tinha pouco sigrti-
ficado, ou então, lhe faltava a coragem para exigir
melhor paga. dado que pouco trabalhava para a Mari-
nha, empenhado que estava a fazer obras para parti-
culares, como lhe era permitido por contrato.
Alguns anos mais tarde, precisamente a 16 de
Fevereiro de 1826, devido à incúria de um operário,
manifestou-se um terrível incêndio na Fábrica de
o tdrcuJo, referido no lexlQ, de que fO/ autor J. A HaliS. Cordoaria mas, milagrosamente. ficou intacta toda a
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