Page 34 - Revista da Armada
P. 34

~

              ~                  Ouarto de Folg





            * QUADROS NAVAIS ...
               EM MINIATURA


           MAU TEMPO  NO TEJO
              Há  dias  que  o  navio  balizador   Agora, com tudo a postos, só nos   lhe  pudessem  valer,  e  a  conduzia
           .. Almirante Schultz" estava no Tejo,   restava esperar.             com  pulSO  firme .
           fazendo a descarbonlzação dos mo-    A certa altura vieram  avisar-me   Era o comandante  Marques Es-
           tores principais.  Para este  trabalho  que uma embarcação, com bandei-  parteiro  (o  António).
           o comandandante tinha escolhido a  ra,  se  aproximava da margem  sul,   Aquele itustre marinheiro nem se
           bóia  mais próxima de terra,  ali de-  zona  mais  abrigada  para  o  tempo   deu  conta  do  apito  com  que,  de
           fronte  do Cais do Sodré.         que fazia.                         bordo do meu navio, se cumprimen-
              Na  madrugada  daquele  dia  o    Quando  cheguei  à  borda  já  lá   tou  a  sua pessoa.
           tempo, que até essa altura estivera   estava parte do pessoal que comen-  A nós é que chegaram, bem nfti-
           bom, tinha  vindo a piorar.       tava com certa preocupação o avan-  das,  as pancadas da vaga naquele
              Chuva e vento fustigavam Lisboa   ço dela para o norte, arrostando com   frágil  costado,  e  um  vago  matra-
           e o pessoal, com dificuldade, chega·  mar e maré.                    quear, vindo da sua pequena máqui-
           ra a bordo. Durante a manhã a silua-  A  embarcação  era  conhecida;   na a vapor que todos desejávamos
           ção  nao  melhorou  e  o  navio  dava  um  pequeno  escaler  a  vapor  que   aguentasse tão rude  prova,  e o le-
           fortes eslicOes na amarra. Como era  pertencera aos Serviços Marftimos e   vasse a bom  porto.
           de prever que durante a tarde o tem-  que fora posto ao serviço de um dos
            po piorasse, dlcidiu-se que um oficial  contratorpedeiros que estava no AI-         Carvalho Afonso,
           ficasse  a bordo  e se  tomassem  as  feite; devia vir de lá e encaminhava-                     CALM
           providências  que  nos  permitissem  -se  para  Lisboa,  no  meio  daquele   ••••••••••••••••••
           encarar,  o  que  pudesse  vir,  com   temporal, devagar mas determinan-
           alguma segurança.                 temente. A chuva já não era tão for-  * CRUZADA EM TRIÂNGULO
              A escolha do oficial para ficar era  te, mas os saltos que o escaler dava,
           inevitável: o guarda-marinha de má-  não só levantavam nuvens de espu-   12345678
           quinas, que também desempenhava  ma que o envolviam, como parecia
           as funções de imediato, é que devia  que o iam  mergulhar para sempre.   1                          II
           ficar.                               Com  a  ajuda  de  um  binóculo   2
              Quanto às providências a tomar  "aproximei-me  ..  dele.  Para meu es-
           foram as que pareciam adequadas.   panto vi, que a ré da embarcação, no   3
           Como não dispunhamos das máqui-   pequeno  varandim  onde  estava  a   4
           nas principais, só podlamos contar  roda do leme, em vez do patrão far-  5
           com  os  ferros  para  nos  aguentar-  dado que esperava ver,  estava um   6
           mos, caso a amarração à bóia reben-  homem, em cabelo, gabardina civil
           tasse.  Assim  puseram-se  os  dois   muito batida pelo vento governando   7
           diesel-geradores em paralelo, prepa-  aquela casca de noz que, por vezes,   8
           rou-se o guincho eléctrico, deixaram-  parecia que se  virava.
           -se os ferros prontos a largar, desta-  Indiferente  à  chuva  que  cala,   '==
           cou-se  um vigia para a amarra e o  olhos postos naquela luta do poder
           pessoal  de  serviço,  reforçado,  a  contra  o  querer,  vlamo-Ia  avançar   HOAIZONTAIS:VEATICAIS:  1
           quartos.  A embarcação,  depois  de   lentamente.  Percebfamos  que  ela   Espécie  de  cegonha  do  Brasil
           umas tentativas para passarmos um   não conseguia, ir para a caldeirinha,   (pI.). 2 - Que se não deixa atraves-
           cabo  pelo  anete  da  bóia,  recolheu   pois a corrente e a vaga não deixa-  sar pelo calor. 3 - Género de crus-
           - com dificuldade - à caldeirinha  vam; agora já estava mais próxima   táceos  decápodos  da  famllia  dos
           do Arsenal.                       de  nós  até  que  nos  cortou  a  proa   pericerfdeos, (zoo!.). 4 - Vigitante ou
              Com o cair da tarde a maré pas-  a  pequena  distância  e  lá  seguiu  a   fiscal incómodo (fig.). 5 - Despeitar.
           sou  a  vazar  bem  e,  com  as  fortes   caminho da doca do Cais do Sodré.   6  -  Pavimento.  7  -  Palhoça  dos
           rajadas  de  vento,  a  carneirada au-  Deu perfeitamente para reconhe-  fndios tupis. 8 - Nome dado a Adó-
           mentou e passou a vaga.  O  tráfego   cer  o  improvisado  patrão  daquele   nis  pelos antigos dórios (mit.).
           do  rio  acabou,  praticamente,  e  o  escaler a vapor que, tão afoitamente,
           balanço do navio tornou-se bastante   tinha enfrentado aquelas águas re-                 Carmo Pinto,
           pronunciado.                      voltas, deserta de embarcações que                          ITEN DT

           32
   29   30   31   32   33   34   35   36   37   38   39