Page 115 - Revista da Armada
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palavritas em inglês, outras em portugue& espanholado, muitos E, por falar em aviação .. : No Centro da Aviação Naval
gestos ... lá nos fazemos compreender. do Bom Sucesso, em meados de 1942, foram recebidos hidra-
Outro sargento em destaque a bordo 6 o enfermeiro, por aviões .. Grununan G 21_, tendo vindo uma equipa, da fábrica
razões mais que evidentes. Não tem o direito de enjoar. por- americana construtora. para dar instrução aos nossos mecâ-
que a sua obrigação é estar sempre pronto a atender os doen- nicos e artffices.
tes, que felizmente não são muitos, a não ser em ocasião de Antes de regressar aos Estados Unidos. o chefe da equipa.
temporal que quase fazem bicha para arranjar dispensa do um engenheiro aeronáutico, foi pedir autorização ao engenhei-
serviço ... Tem o raro privilégio de poder mandar despir tooa ro do Centro para convidar dois sargentos artffices para irem
a gente, incluindo o próprio comandante! trabalhar na América com ele, .porque eram extraordinaria-
De tooos os que tive - sempre competentes e cumprido- mente competentes e trabalhadores e iriam ganhar muito
res - não posso deixar de des!aCar um. realmente excepcional. dinheiro_o Apesar das condições serem tentadoras nenhum
Comandava o navio oceanográfico .Baldaque da Silva_, nos deles aceitou, argumentando que não tinham nascido pam ricos
mares de Angola. e tinha a bordo um cientista, biólogo alemão. e o pouco que ganhavam chegava para a vida rnooesta a que
responsável pela parte científica da nossa missão - estudos estavam habituados ...
de pesca. Como não tinha sido possível contratar biólogos Mais recentemente, tive a sorte de ter ao serviço da .. Re-
portugueses para o auxiliar, leve ele que deitar mâo de vários vista da Armada .. um sargento-ajudante, excepcional também
elementos da guarnição. Um deles, com tarefa de maior res- - inteligente, culto, trabalhador, organizado, assíduo, era
ponsabilidade, foi o enfermeiro, que pOs a trabalhar no labo- sempre o primeiro a chegar e o último a sair. A sua cabeça
ratório de análises. era um verdadeiro computador que respondia a todas as per-
Cheio de receios, a prindpio, verificava tudo o que ele guntas sobre o seu serviço. Organizou ficheiros, biblioteca,
fazia, mas, passado pouco tempo, veio dizer-me muito satis- arquivo fotográfico e de revistas publicadas; zelava pelo cum-
feito que já tinha tanta confiança nas detenninaçães de salini- primento do calendário da revista; estava atento à colaboração
dade, oxigénio, etc., feitas pelo enfermeiro do navio, como que faltava; etc. Para se poder avaliar bem da sua categoria
nas que ele próprio fazia. basta dizer que quando foi licenciado e abandonou alugar.
Este sargento linha realmente muita classe. Como enfer- foi substituido ... por duas pessoas!
meiro, como homem, educado e culto, honrava a classe dos
sargentos e, em especial, a dos enfermeiros. Já faleceu, mas Muitos exemplos mais podia apresentar para atestar a qua-
hei-de recordá-lo sempre com saudade, até porque me valeu lidade dos nossos sargentos, uma classe que honra a Marinha
numa situação delicada, quando dei uma queda a bordo e fiquei e que muito tem contribufdo para a eficiência e a conservação
muito abalado. dos navios de guerra portugueses que, de uma maneira geral.
Dos restantes sargentos. os menos conhecidos da guarnição morrem de velhice e . nunca por falta de assistência técnica.
- maquinistas, radaristas, artilheiros, telegrafislas, etc. - de
tooos fiquei com a melhor das impressões, com raríssimas
excepções. que até justificam a regra. Entre eles encontrei
também alguns notáveis, pela sua competência, seu saber, sua
cultura, sua dedicação ... Na vida civil sabem disso e vêm
frequentemente contratá-los para trabalhar em empresas da sua
especialidade, onde têm honrado a Marinha.
Lembrei-me agora de um, artilheiro, que prestou serviço
na Esquadrilha B da A viação Naval, estacionada no Aeroporto
Internacional da Portela de Sacavém, durante a 2.' Grande
Guerra.
A seu respeito, escrevi na altura em que de lá sar:
Na secretaria reinava um homem providencial, absoluta-
mente talhado para as circunstâncias (20 e tal bimotores ao
ar livre, um barracão de madeira e pouco mais).
Dinâmico e sempre bem disposto, verdadeiro espírito de M. do Vale,
safa-rascadas. tanto tratava um arranhão com mercurocromo. CALM
como ajudava o pessoal de voo a ajustar os pára-quedas, ou
se embrenhava na minuciosa escrituração dos livros de registo
dos voos. Nos intervalos, fazia a escala do pessoal, passava
N. A. - AlgW1lOS coisas t,.'rtltmIO IrIwdDrrsm com o lf!mpo. CO/fIO. por
revista às licenças, requisitava os transportes, preenchia requi- atmp/o. unas fonç«s do _Slrt. mt11 erom assilrl qUlUIdo Ikixf!i dt'fin(ri·
sições de material ... Grande homem na verdade! WlIM1ltt o MOI t os navios - jd M ~ quase 3D tJIIOS!
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