Page 230 - Revista da Armada
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Depois da rota de Colombo,
a verdadeira descoberta da América
Esperávamos encontrar a emoção e o
perigo nesta parte da Regata Colombo,
que terminou com a chegada a Porlo
Rico.
Durante cerca de quatro semanas pre.-
parámos a viagem que consideramos um
dos pontos altos das nossas carreiras.
Embaixadas, serviços de saúde e ban-
cos, fOfam alguns dos vários locais obri-
gatórios para a preparação com sucesso
desta aventura que irá durar cerca de oilo
meses.
Carregados de malas com material
obrigatório da nossa profissão e talvez
um pouco de roupa a mais (mais vale
muito do que pouco), chegámos a
Alcântara na noite de 24 de Abril e pas-
sámos a nossa primeira noite naquele
que seria o nosso lar durante tantos
meses.
Nunca mais lX>deremos esquecer a fan-
tástica saída de Lisboa para Cádis.
Centenas de pequenos veleiros e outro
tipo de embarcações acompanharam OS
vários navios-escolas que partiram de
Lisboa. O Tejo permitiu uma das mais
espectaculares partidas desta Regata
Colombo 92.
A nossa adaptação à vida de bordo foi
bastante fácil e hoje, ao final de 42 dias
de viagem, já estamos integrados na vida
da guarnição, sentindo que nos aceitam
como seus membros.
Fomos surpresos com o dia-a-dia da
guarnição, de todo o trabalho de manu-
tenção efectuado periodicamente para
que a "Sagres" continue a ser um dos
mais belos veleiros do mundo.
A vida dos cadetes tem sido intensa, mos que iríamos enfrentar um mar agita- nossa primeira grande tirada no mar, e,
com aulas todos os dias, ginástica e ainda do e receber a influência de fortes ventos, para surpresa da maior parte dos mem-
faina de mastros; o pouco tempo que mas fomos surpreendidos com um mar bros da guarnição, não mostrávamos ves-
resta é para estudar ou apanhar um de damas, assim lhe chamaram os mari- tfgios de cansaço. Dez dias em terra
pouco de sol, se as condições atmosféri- nheiros, e o vento mal quis soprar. iriam ser cheios de trabalho, devido às
cas o permitirem. Afinal a Regata Colombo foi para nós várias comemorações do Qu into
Mas o trabalho da guarnição não fica um simpático cruzeiro até às Caraíbas, Centenário e ainda as da comunidade
por aqui; com as paragens nos portos, no qual tivemos a oportunidade de ser- portuguesa local e, possivelmente, só
como foi em Cádis e las Palmas, houve mos recebidos por uma quantidade de quando a "Sagres" voltar ao mar é que
sempre que manter o navio apresentável animais marinhos, que não conseguimos nós, jornalistas, poderemos descansar e
e acolher os 75 mil visitantes que acorre- identificar, mas que nos pareceu perten- apanhar um pouco de sol.
ram à "Sagres~. cer à famma dos golfinhos. Não podemos Estamos ansiosos por regressar ao mar
O busto do Infante D. Henrique, que esquecer aquela andorinha que entrou para viver a prometida aventura e, com a
foi encomendado pela mais pequena pela escotilha do camarote de um oficial chegada a Nova Iorque, no quatro de
comunidade portuguesa na zona das e, morta de cansaço, adormeceu, depois Julho, para o maior desfile de sempre na
Caraíbas, serviu de ex-/ibris para o gran- de ter comido um pedaço de pão. Refeita bafa de Hudson. .t
de veleiro que leva as cruzes de Cristo daquela tirada, partiu. voando antes em
nas suas velas. tomo da "Sagres" como quem diz adeus. Carlos Charneca e José Maria Corte-Rea/,
Pela fama que o Atlântico tem, pensá- Com a chegada a San Juan, terminou a jOrNfl5filS di~ !.usa. ~ IIO NE ~
12 JULHO 92 . RlvfsrA$A1lMA1M