Page 42 - Revista da Armada
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Timor, terra mártir









            INTRODUÇÃO                                                             Durante os '  i rios anos que perma-
                                                                                 neceu  no  reino  daquele chefe.  influen-
               Muito se  tem  falado  ultimamente  sobre  Timor.  mas  são  poucos  os  que   ciou  grandemeflle  o  gentio,  influência
            conhecem a sua  história.  Uma estadia de  dois anos (1959/61)  possibilitou-me   que  jria ser  alargada por outros  frades
            contactar essa  realidade muito especial,  que  me  deixou  muito boas  recorda-  e  se  manteve  alé  aos  nossos  dias.  Foi
            ções e algumas tristezas. Tive a sorte de, nessa altura, se viver em paz, o que   célebre a  resposta que um  régulo timo-
            me pennitiu percorrer a ilha de ponta a ponta, a pé, a cavalo, de carro, e de   rense deu no século XVIII ao governador
            barco.                                                              - «Lembre-se Vossa Senhoria que esta
               Li algures que não se  pode enfrentar o futuro sem se saber o que fomos   terra não  foi conquistada  pelas  armas,
            capazes de  fazer  no  passado.  Por isso,  aqui faço  uma síntese da  história de   mas  pela  água  e  pelo sal .....
            Timor, passando depois a descrever alguns aspedos da sua realidade naquela   Em 1585, o vice-rei da india chamou
            época.                                                              à sua jurisdição a fortaleza de Sólor, que



            A  HISTÓRIA
               Depois da  conquista de Malaca por
            Afonso de Albuquerque, em 1511 , mer-
            cadores e aventureiros ponugueses lan-
            çaram-se  pelos  mares  de  Malaca e  da
            China,  à  procura  de  especiarias  e  de
            riquezas.
               Timor já era conhecido dos merca-
            dores  chineses  e  malaios  que  ali  iam
            esporadicamente  nos  seus  navios  para
            carregarem, sobretudo, sândalo.  A ilha
            já figurava num mapa de Francisco Ro-
            drigues. de 1512, e a «Suma Oriental.,
            de Tomé Pires. 1514, refere a ida de um
            junco  português  a Timor.
               Em Malaca sabia-se que a ilha, além
            do sândalo branco, de grande valor co-
            mercial e de  eltcelente qualidade. tinha
            muito mel e muita cera. mas «não tinha
            juncos para navegah, o que não deveria
            ler suscitado muito o interesse dos por-
            tugueses.
               A história de Portugal em Timor co-
            meça em  1562 com a chegada de frades
            dominicanos ponugueses, da Missão de
            Malaca,  para  cristianização do  feroz  e
            bárbaro gentio  malaio  e melanésio das
            ilhas de Sólor, Flores e Timor. Estas três
            ilhas estiveram durante mais de três sé-
            culos  na  soberania  portuguesa  e,  caso
            único  na  história,  foram  frades  e  não
            militares que as ocuparam e conservaram
            até  se  tornarem  domínio  dos  reis  de
            Portugal.
               De  1562 a  1565, Timor foi  visitado
            por  frades dominicanos, e o  primeiro a
            converter um chefe gentilico foi  fr.  An-
            tónio da Cruz, que ali desembarcou com
            a  cruz  na  mão  em  vez  da espada,  ao
            constar que o sultão de Ternale preten-
            dia  invadir Timor.               O Rigulo D.  Amónio.
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