Page 77 - Revista da Armada
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& Nota de Abertur
Uma Marinha para Portugal
avendo na Armada tantos e tão valiosos elemen- de âmbito quer bilateral quer multilateral, de que são
tos muito mais aptos do que eu para opinar sobre exemplos concretos a velha aliança com a Inglaterra e
H a tio complexa, controversa e discutida temática a adesão à OTAN em 1949.
da estratégia nacional, designadamente sobre a estra- A relativa grande distAncia entre a parcela continen·
tégia naval, é lícito perguntar-se qual a razão que me tal e as parcelas insulares e entre estas duas, formando
levou a escolher o tema em epIgrafe para esta nota de o tradicionalmente chamado rtriAngulo estratégico por-
abertura. Direi entio que foi simplesmente o facto de há tuguês., confere ao nosso país a fruição de um extenso
pouco tempo. mais precisamente em Dezembro passado, espaço marítimo que, além de constituir a maior zona
ter sido publicada. no Ambito do Instituto Superior Naval económica exclusiva dos países da Comunidade Euro-
de Guerra, uma obra intitulada .contributos para uma peia, possível e desejável base de desenvolvimento do
Estratégia Portuguesu, que mais não é afinal do que uma potencial estratégico português, permite, pela conse-
notável colectânea de intervenções do ALM Fuzeta da quente capacidade de manobra, alargar, para além das
Ponte, feitas de Março de 1985 a Outubro de 1990, em suas fronteiras territoriais, a defesa em profundidade e
jornadas, cursos, colóquios, congressos, conferências, se- escalonada de cada uma e de todas elas. Se a isso se
minários e painéis, sob a forma de palestras, exposições, acrescentar que é por esse vasto cma.r portugu~ que
comunicações e comentários, em que a estratégia naval passam, além das linhas de comunicação marltima inter·
assume papel preponderante e donde emana uma ilaçao territoriais, as grandes linhas de comunicação madti.ma
clara, que consiste em poder afirmar-se, como judiciosa- que ligam o Ocidente às suas principais áreas aba.stece-
mente o faz o autor do prefáciO VALM Ouesada Andrade, doras exteriores, que por ai passarão também eventuais
que, 1l1um. país marítimo como Ponugal, constituirá reforços marítimos e aéreos para a Europa, em caso de
sempre uma realidade insofismável a importância do ten.slo ou de guerra, e que, finalmente, Portugal depende
poder maritimo como elemento vital do poder nacional». da via' ma.r1tima para o transpOrte da quase totalidade
Achei assim por bem servir-me destas colunas para das suas importações e até das suas exponaç6es, é'óbvio
divulgar uma obra de tio grande interesse para os leito- que a Nação Portuguesa necessita, no contexto de uma
res desta revista, tentando ao mesmo tempo sintetizar adequada e crectivel capacidade autónoma de defesa e
as abalizadas opiniOes do autor do trabalho, que, embora de contribuição séria nas organizações internacionais em
emitidas antes da assunção do cargo de Chefe do Estado- que está inserida, como a OTAN e a UEO, nesta muito
-Maior da Almada pelo ALM Fuzeta da R>nte, não deixam mais recentemente, de dispor de meios aeronavais que
de constituir, pela sua validade e actualidade, conceitos possam dar resposta satisfatória às exigências d ecorren·
a preservar e a ponderar e propostas a valorizar e a tes da sua situação geoestratégica acentuadamente
fomentar, dignas de merecerem a devida atenção por marítima, em que a Marinha terá que assumir papel
parte do poder politico, que é , em última análise, quem relevante. Mas, como os meios de que d.ispõe actual·
deve definir e decidir sobre as opções estratégicas fun· mente são, além de escassos, em grande parte obsoletos,
damentais e as consequentes prioridades de defesa. com excepção quase só das três modernas fragatas
Com a nítida consciência das dificuldades inerentes l.MekOll, há que, na necessária reestruturação e redimen-
à formulação de uma síntese, que, neste limitadissimo sionamento das Forças Armadas, atribuir·lhe a importln-
espaço, terá de ser obviamente muito reduzida, e com cia e os consequentes meios a que tem direito, se se
a natural preocupação em não desvirtuar o sentido das quiserem. manter, o que nAo parece oferecer dúvidas para
ideias manHestadas pelo autor, afigura-se-me poder quem considere inalienáveis a independência nacional
traduzir, nas necessariamente breves palavras que se e a integridade do território, os objectivos permanentes
seguem, algumas delas transcritas do seu trabalho, o de defesa escolhidos. Eu, por mim, que sou optimista e
pensamento subjacente às suas intervenções, nomeada- que acredito na clarividência, no sentido das realidades
mente em relação' estratégia naval portuguesa: e na recta intençio de quem tem que decidir sobre tão
Portugal, com a sua faixa continental europeia e os magno problema, estou confiante nesse futuro, pelo
arquipélagos da Madeira e dos Açores, ele próprio no seu menos a médio prazo, de uma Marinha moderna e eficaz,
todo com uma configuração arquipelágica, é uma nação como pane importante de umas Forças Armadas que
europeia e maritima, de vincada vocaçIo atlântica - uma possam assumir o devido papel de factor integrador da
constante desde os primórdios da nacionalidade - que comunidade nacional e de instrumento de afirmação
lhe tem permitido ir buscar ao cmar oceano» o apoio externa de um Portugal de prestígio, de dignidade e de
necessário contra a atracção centripeta do vizinho caso progresso.
telhano, mediante a procura de alianças e contactos com
todas as naçêes e povos para os quais o mar, e o Atlântico
em especial, representa também um papel vital, numa
associação a que, com muita propriedade, designa -co-
munidade informal marltimaot, para além de alianças
formais·com a potência marítima dominante na ahura, CALMMN
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