Page 89 - Revista da Armada
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tizaram de Kochab, se situa relativa-  Muita gente do povo ainda dizia  três divisões - ou seja três horas -
          mente  à  Polar,  considerando  esta   por vezes: _Abril meado, meia-noite   para  a  esquerda,  isto  é,  além  da
         como estando no centro (umbigo) do   no telhado  .. - em alusão à Kochab,   meia-noite; são, portanto, 3 horas da
          Homem do Polo. E assim, terfamos   que, nessa altura do ano, se encon-  manhã.
          ao redor deste as indicaçOes tempo-  tra  nQ  telhado  (ou  cabeça),  em   Este  é  um  exemplo  simples,
          rais: JANEIRO MEADO, FIM DE JA-   relação à  Polar.                 apresentado para se entender a apli-
          NEIRO, FEVEREIRO  MEADO, FIM         Assentes, pois, nas ideias-mães   cação  do  noturlábio.  Claro  que  a
          DE  FEVEREIRO, etc. , etc., até FIM   atrás deixadas, que são: rotação da   prática, e um pouco de olho, permi-
          DE  DEZEMBRO. E  assim  temos o   Ursa Menor durante  o  decorrer da   tiam intercalar datas e horas, e obter
          nosso  instrumento  apto a  ser utili-  noite, em torno da Polar, e apresen-  um rigor bastante satisfatório, para
          zado. Como? Vamos ver já a seguir,   tação diferente, à  mesma hora, da   quem, naqueles tempos, andava no
          mas  quer(amos  abordar  ainda  um   mesma constelação, durante  o de-  mar e não tinha (outro) sinal horário.
          aspecto, que não deixa de ser curio-  correr do ano, se soubermos a data   O  noturlábio  não  permaneceu
          so. É que havia também um código   em que estamos, e se observarmos   sempre, nem teve sempre, o aspecto
          escrito,  por  muitos  marinheiros  (e   a  posição  em  que  se  apresenta  a   aqui  apresentado  de  Homem  do
          não  só)  sabido  de  cor  e  salteado.   Ursa,  definindo,  por  exemplo,  a   Polo.  Um maiorquino, de sua graça
             Por este código se podiam saber   direcção Polar-Kochab, deduziremos   Raimundo Lulo (ou Lulio), já no séc.
          as· horas (e  ainda pode, hoje,  caso   imediatamente  a  hora.     XIII  imaginara um instrumento com
          se esqueça o relógio em casa), sem   O noturlábio do Homem do Polo   base semelhante, mas desenho dife-
          recorrer ao  noturlábio.  O  rigor já é   é materializado numa rodela com 10   rente, e até diferente aplicação, e o
          menor, claro, pois se trata de cálculo   a 12 cm de diâmetro, possuindo no   nosso  rei  D.  Duarte,  150  anos  de-
          a olho, mas dá para entreter, ou até   centro um oriffcio por onde se aponta   pois,  descreveu  outro,  com  duas
          fazer uma aposta.  O código rezava   à Polar, e, em redor, aquelas inscri-  rodas,  Que  ficou  conhecido  como
          da  seguinte  maneira,  referindo-se   ções radiais referidas atrás. Para o   Rodas de D. Duarte. Nos anos 500
          sempre à posição da «guarda- dian-  utilizar, o observador pega na rodela,   o noturlábio evoluiu, aperfeiçoando-
          teira, ou avançada, (isto é, a que vai   homem na posição direita, (possui às   -se,  e  passou  a  usar  um  ponteiro
          à frente) da Ursa Menor, ou Buzina,   vezes  uma  pega  para esse efeito),   real, até mais comprido, para maior
          ou  seja,  a  Kochab,  para  nós,  que   aponta à Polar, e aproxima ou afasta   rigor, que apontava às «guardas- da
          começamos  a  tratar  estas  estrelas   ligeiramente o Instrumento de si, até   Ursa Maior, e foi até adaptado para
          por tu:                           ver a Kochab a tangenciar o disco.   observações com o Cruzeiro do Sul,
             Janeiro  meado,  mela-noite  no   Lê  a  data  correspondente  a  esse   quando  os  nossos  navegadores.
          braço esquerdo.                   ponto de tangência;  finalmente  faz   passado o Equador, deixaram de ler
             Fim de Janeiro, uma hora acima   uma pequena conta, com o seguinte   a  Polar  à  vista.  Um  instrumento,
          do braço_                         raciocfnio:                       enfim, que nos pareceu ser curioso
             Fevereiro  meado,  duas  horas    Estou a ver a Kochab a tangen-  divulgar.
          acima do braço.                   ciar o noturlábio na posição de (caso
             Fim  de  Fevereiro,  na  linha  do  da figura) Maio meado; mas a minha
          ombro esquerdo.                   data de observação é fim de Março;
                                            portanto,  neste  dia,  a  Kochab,  à
             Abril  meado, meia-noite  na  ca-  meia-noite,  devia  estar  na  posição
          beça.                             correspondente ao final de Março; se               Sousa Machado.
             E assim  por diante.           Já está em Maio meado, encontra-se                            CMG



                                                  Voz da Abita








          CARTAS AO  DIRECTO~               de Comunicação Social. Mas, quan-     Como  é  óbvio,  ninguém  neste
                                            do  as  coisas  atingem  proporções   mundo é  capaz de ter graça desde
             Dos  nossos  leitores  e  amigos   que ultrapassam o razoável, alguém   Que  se levanta até que se deita. E
          recebemos  a  seguinte  correspon-  terá Que  deitar a mão.         como há os Que  começam  logo de
          dência:                              Refiro-me a certos figurOes Que,   manhã, em programas da rádio, con-
             00 «PezlnhoSoo, cabo M, Lisboa,   por  convenção  e  conveniência,  se   tinuam durante o dia em anuncias,
          a  carta  que  transcrevemos  na  (n-  Julgam muito engraçados e monopo-  e só terminam à  noite  na televIsão,
          tegra:                            lizam lugares certos em estaçOes de   claro Que  cansam  o  auditório,  que
                                            rádio  e  na televisão. Nesta  ultima,   acaba  por  não  os  poder  ver  nem
          TENHAM TERMOS, SENHORESt
                                            especialmente em concursos, mon~  ouvir. Alguns enveredam pelas ane-
             Somos frontalmente contra Qual-  tonos, desenxabidos, em que é real-  dotas  e  conversas ordinárias,  con-
          quer espécie de censura aos órgãos   mente muito ditrcU  fazer humor.   vencidos  de  que  fazem  sucesso,

                                                                                                            t5
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