Page 313 - Revista da Armada
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ENf'REVISf'A

                                           ÓSCAR JOSÉ  NUNES








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       Durante 28 anos, Óscar Nunes representou a
       autoridade marítima no Corvo, a mais
       pequena e mais periférica ilha dos Açores.
       O Corvo é o seu mundo, e a Marinha a sua
       paixão.
       Como homem viveu para os corvinos e como
       cabo·do·mar prestigiou a Marinha, que, nas
       suas próprias palavras, o realizou e o
       recompensou.
       Mas a honra maior, que compensou 28 anos de
       serviço e de isolamento, foi  ter alojado o
       Presidente da República na sua própria casa.
                                                                 Nascido  na  ilha  das Flores,  dois  dias an'tes  do  Natal  de
                                                               1935  ÓSCar  José Nunes tornou-se numa figura  indispensá-
             Entrevista conduzida pelo CTEN Rodrigues da Costa
                                                               vel à 'História e às histórias da ilha do Corvo.
                                                                 Aos  18 anos  alistou-se  como  voluntário  no  Exército,
           (acurava o  meu  lugar no   de Castro,  Ponte,  Ribeiro  Pa-  tendo prestado serviço no Regimento de Infantaria.17, em
           "Cruzeiro das  Ilhas', que   checo,  Silvestre,  Marcelo,   Angra do Heroísmo. licenciado em 1956, passou a  Integrar
       P se preparava para deixar a   Vintém.  Leiria  Pinto, Alvarenga   os quadros da então 'unta Geral do Distrito Autónomo da
       Madalena  com  rumo  ao  Faial,   Rua,  Pereira  Gonçalves,   Horta  tendo sido colocado na ilha do Corvo, como moni-
       quando  acidentalmente  nos   Ventura, Fontes, Ventosa, Pedro
                                                               tor d: pecuária e encarregado de sanidade vegetal.
       cruzámos.  Conhecíamo-nos   Caeiro. Gouveia, Lajoso, Pri()( e   APÓS concurso realizado na C~~itania. do Porto de .Angra
       desde os anos 70, do tempo das   muitos outros.  De todos, sem   de  Heroísmo  em  28/3/1964  fOI  investido  nas funçoes  de
       primeiras corvetas que frequen-  excepção, diz ter recebido aten-  cabo-do·mar'e colocado no porto da Calhe ta,  na ilha de S.
       taram os mares dos Açores e da   ções e se revela admirador.   Jorge. Após 6  meses, oferece-se, por permuta, para prestar
       cotaboraç~o que nos dera  na   Mas  penso  que,  de  entre   serviço na ilha do Corvo. A notreia de que "há ~m volun!á-
       recolha de elementos para  a   todos,  destaca especialmente   rio  para o  Corvo·  ainda se conserva na memória de mUIta
       elaboração do rOleiro  do seu   aqueles que "mais  entraram  na   gente.                   . .
       arquipélago.                vida  dos  corvinos": o  coman-  Ficou 28 anos como chefe do Posto Manllmo do Corvo.
         Viera  ao  Faial  para  consultas   dante  Rui  Silvestre,  pela  sua   No exercício das suas funções  revelou  ser um  profundo
       médicas de rotina e, na  oportu-  vertente  humana,  pelo  profun-  conhecedor dos  problemas locais,  bem como. ~a meteoro'
       nidade, fizera  uma  visita à ilha   do conhecimento que  adquiriu
                                                               logia  e  do  mar da  sua  área,  o  que  lhe  permitiu  resolver,
       do  Pico. Conversámos  durante   sobre os  problemas dos  pesca·   com ponderação e eficiência, as n~merosas e difí~eis situa-
       a travessia  do  canal  e  marcá-  dores e  pela  forma  empenhada   ções com que foi  confrontado.  Estimado e  respeltad~ ~Ia
       mos  encontro  para o  largo do   como procurou  soluções, e o   população corvina, tornou-se naturalment~ a figura  publica
       Infante, o ponto central da cida-  comandante Mário  Lajoso,  ·0   de  destaque  na  ilha,  dignificando  a  Marinha  em  elevado
       de da Horta.                capitão  do  porto  que  mais   grau.  Os seus 28  anos de actividade  foram  i~tensament~
                                   vezes visitou  o Corvo·, passan-  vividos no exercício da sua  profissão e  no apoio a~ CO~I­
         Conversador e culto, de dis-  do muitos  fins  de semana  na   nos.  Estudou  a  ilha  e  as  suas gentes.  Recuperou  histÓrias.
       CUISQ inteligente e fácil, o caro.   ilha, pela sua vertente dinâmica   T estemunhoo activamente as grandes mudanças vividas  na
       -do-mar de  l '  classe Óscar   e  comunicativa,  que  tanto   sua ilha, sobretudo a partir de 1974: a  democracia política e
       Nunes é  um  homem  feliz, peso   incentivou e moIivou a juventu-  a construção da pista de aviação.     .
       soai e profissionalmente.   de para  a  prática desportiva  e   Recebeu dois Presidentes da República e, na sua própria
         A sua  privilegiada  memória   para a recreação.      casa, acolheu Mário Soares.
       enriquece a descrição de  histó-  E recorda,  com orgulho.  as   Em  23  de  Dezembro de 1991,  com  56  anos  de  idade,  o
       rias  e episódios, a que não fal-  visitas dos  ministros da  Re·   cabo-do-mar de  l i  classe óscar Nunes passou à situação de
       tam datas 00 nomes. Com apre-  pública, Gaivão de Figueiredo e   refonna.
       ço e estima, evoca os nomes de   Rocha  Vieira, as  visitas  e  as   Em  1992 foi  condecorado  pelo  Presidente  da  República
       tantos  navios  e  marinheiros,   atenções que, em  final  de  car-  com a Ordem de Oficial de Mérito e  pelo Chefe do Estado-
       com  quem se  cruzou  naquela   reira,  recebeu  dos  almirantes   -Maior da  Armada  com  a  Medalha  da  Cruz  Naval  de  4 1
       ilha: Garcia  Braga, Teixeira da   Ribeiro  Pacheco  e  Pedro   Classe.
       Silva, Álvaro Cardoso, Cordeiro   Caeiro, a especial saudação do
                                                                              ~IfVISTA OA ARMADA .  SETEMBRO/OUTUBRO 93  23
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