Page 43 - Revista da Armada
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ED''rOR'AL
Missões da Marinha
em tempo de paz
p; ninguém, com o mínimo de honestidade em Luanda, a operação "Cruzeiro do Sul", em
rece-me não dever ofereçer dúvidas a
que também uma fragata e, depois, uma cor-
e de sensatez, a necessidade e impresdn- veta, estiveram envolvidas, no Atlântico Sul,
dibilidade de existência de Forças Annadas prontas a proceder a uma eventual evacuação
num Estado camo Portugal, naturalmente que de cidadãos portugueses residentes em
dimensionadas e estruturadas de modo ade- Angola, com o apoio do Destacamento de
quado, lendo na devida conta a sua débil ec~ Acções Especiais, dos Fuzileiros, e, ainda, a
nomia, consabidamente bastante dependente abnegada e duríssima tarefa cumprida por
do exterior, e de acordo com a sua peculiar uma eficiente equipa de 3 oficiais médicos e 2
situação geo-t'Stratégica, de país euro-atlânti- sargentos enfermeiros do Hospital da
CD quase-arquipeJágico, integrado na Marinha, que, naquela mesma cidade, desen-
Comunidade Europeia, o que implica dever volveram, durante 16 dias, uma utilissima
ser conferida à Marinha uma parcela prepon- actividade hospitalar, predominantemente
derante da componente militar afecta ã Defesa cirúrgica.
da Nação. E esta, a não querer, como é legíti- Casos relacionados com a salvaguarda da
mo, alxliear da sua soberania e independência, vida humana no mar foram vários, desde o
jamais deverá. questionar o relativamente elevado preço do upré- imprevidente náufrago solitário recolhido a tempo, até ao salva-
mio de seguro" a pagar para dispor de Forças Armadas com O mento de tripulantes de navios encalhados, sendo justo realçar os
mínimo de credibilidade e eficiência, que lhe possam garantir a protagonizados por um jovem oficial de Marinha, piloto dos futu-
sua segurança e liberdade. ros helicópteros Lynx afectos às fragatas da classe "Vasco da
Mas, se é verdade ser a preservação da soberania nacional a Gama", que, em menos de um mês, içou 22 náufragos, pilotando
maior missão cometida às Forças Annadas, para o que terão que ''helis'' da Força Aérea Portuguesa.
estar dotadas dos convenientes meios humanos e materiais que ° tão propalado e "misterioso" caso do arrastão luso-guineense
lhes pennitam assegurar uma eficaz capacidade de prevenção, de "Bolama", desaparecido com cerca de 30 tripulantes e passageiros
dissuasão e de legítima defesa, há que saber aproveitar e rentabi- a bordo, só foi esclarecido quando, dois meses mais tarde, a
lizar, pragmâtica e inteligentemente, os seus inúmeros rerursos, Marinha conseguiu, mediante uma apurada operação de sofistica-
para outras acções de interesse nacional, em tempo de paz, que só da tecnologia, ímpar marinharia e persistente vontade, a sua rigo-
elas, pelos seus conhecimentos, pela sua organização, pela sua rosa localização e identificação.
disciplina, pela sua abnegação, pela sua generosidade, pela sua No concernente à fIscalização e combate à poluição no mar, numa
coragem e pelo seu sentido do dever, estão aptas a cumprir cabal- perspectiva de protecção do meio marinho, a Marinha esteve
!!lente, com êxito e sem quaisquer reservas. sempre vigilante, e, a atestá-lo, aí está o acompanhamento, relati-
E óbvio que, no caso da Marinha, dada a sua intrínseca vocação vamente recente, feilo por uma fragata nacional ao navio }aponês,
pelo mar, essas missões, além de múltiplas e variadas, são bastan- ido de França para O seu país, com um importante carteg:Jmento
te especificas. Porque talvez ainda não devidamente conhecidas de plutónio, durante as 30 horas em que passou entre as ZEE por-
de muitos, parece-me propício aflorar hoje e aqui algumas das tuguesas, bem como a coordenação da limpeza da nossa "costa de
principais, tanto mais que o ano que há pouco findou foi particu- prata", que uma criminosa descarga de "crude" poluíu. E vigilan-
larmente rico em lactos demonstrativos do notá\'el papel ?=Ir si te também o esteve, como sempre, através do Sistema de
desempenhado em importantes missões de interesse público. Autoridade Marítima, relativamente ao obrigatório cumprimento
Assim, no respeitante à presença naval em portos estrangeiros, da lei no largo espaço marítimo sob jurisdição nacional, designa-
com frutuosos contactos com comunidades portuguesas de emi- damente em relação à pesca e outras actividades exploratórias do
grantes, lá esteve o navio-escola "Sagres", como verdadeiro mar português.
"embaixador itinerante de Portugal", por costas da América, após a Finalmente, e para não nos alongarmos mais, pois muitas outras
sua participação na memorável Grande Regata Colombo 92, entre acções poderiam ser mencionadas, refira-se, como uma das mais
Cádis e Nova Iorque. Em exeródos navais, nacionais ou internacio- salientes missões da Marinha em tempo de paz, a notável coope-
nais, houve activa participação de vários navios da Armada, quer ração com os PALOP, tanto de natureza técnico-militar, como no
no âmbito dos nossos compromissos NATO, em que se salienta a domínio mais específico da hidrografia e da segurança da navega-
permanência na 51 ANA VFORLANT, quer ao ní\'el inter-forças, ção, mantendo-se assim com esses países inestimáveis elos de
em que, curiosamente, embarcaram num deles, pela primeira vez, ligação, que desejaríamos ver cada vez mais fortes, diversificados
militares portugueses do sexo feminino, integrados num batalhão e afectivos, no sentido de uma bem-vinda Comunidade lusófona,
do Regimento de tnfantar1a de Angra do Heroismo. próspera, democrática, )J<láfica e humanizada, que pudesse orgu-
Quanto a missões humanit.írias e de paz, refira-se a cooperação, lhar-se da Pátria-Màe, esta velha Nação de oito séculos e meio de
no âmbito da UEO, de uma fragata e de uma corveta portugue- história, que tanto prezamos, e que não podemos deixar subverter
sas, no embargo de navios mercantes no mar Adriático, nos ter- por ventos avassaladores e interesseiros soprados por burocratas
mos de resoluções do Conselho de Segurança da ONU relativas à cin::entães, apostados em deificar o dinheiro e desprezar O senti-
guerra civil na ex-Jugoslávia, e, na sequência da crise pós-eleitoral mento pátrio, felizmente ainda bem arreigado na maioria do povo
em Angola, com OS trágicos acontecimentos de finais de Outubro português. l
REVISTA DA ARMADA · FEVEREIRO 93 5