Page 8 - Revista da Armada
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As Forças Armadas







                            e a Nação








              fim  do século  XX  aproxima-se
              vertiginosamente,  por  um  lado,
        O  pleno de confiança  no desenvol-
        vimento  científico e no  progresso  da
        Humanidade,  por oulro, cheio de turbu-
        lência  e insegurança,  sem  que a Socie-
        dade queira aceitar esta realidade.
         Os  flagelos que nos assolam  sao  varia-
        dos  e  surgem  de  todos  os  quadrantes.
        Desde  um  planeta ecologicamente em
        aUlo..destruição,  até  uma  juventude an-
        siosa  e sujeita  a demasiadas  solicitações,
        desprovida de espírito de sacri(fcio  e
        essencialmente materialista, assiste-se
        serenamente  ao desmantelar da  família
        tradicional,  célula educadora  de forma-
        ção dos valores e padrões da Sociedade e
        da Nação.
         Por outro lado, as transformações polfti-
        cas que ocorreram na  Europa e por todo o
        mundo, aparentando poder encaminhar a
        Humanidade para um paraíso sem confli-
        tos,  foram  suficientes  para  as  pessoas
        esquecerem quase  meio século de  paz,   novo cultivado junto da  geração dos por-  perderá  credibil idade  junto  dos  seus
        conseguida  pela dissuasão militar, e para   tugueses  mais  jovens,  por ser uma  profis-  pares  na  comunidade  internacional.
        criarem  um  apressado espírito de dúvida,   são tão nobre,  tão  necessária e tão útil  à   Deverá ser esta  uma das  linhas de moti-
        sobre a lleCessidade das Forças Armadas,   Sociedade, como qualquer outra.   vaç.\o  da nossa juventude, a quem  urge,
        uma  vez que  parece terem desaparecido   Achamos que compele,  não só  ao   também,  alertar  para os exemplos da
        as ameaças concretas.              poder político, mas também às  fammas  e   História  e  para  os  acontecimentos do
         É neste  contexto que  surgem  alguns   is escolas, desempenhar tal  tarefa, face à   mundo actual, cada vez  mais preocupan·
        sectores da  comunicação  social  a apro-  cada  vez  maior  instabilidade  mundial  a   tes,  em  termos de  instabilidade ecológi.
        veitar  a ocasião  para  espalhar a  sua   que assistimos e, ainda,  por  imperativo   ca,  social, económica, étnica,  religiosa e
        semente,  pondo em  causa  a necessidade   nacional.                   política, que desaconselham  que  seja
        da  existência  das  Forças Armadas,  num   Embora  sem  existir  uma  ameaça  bem   menosprezada a Oefesa  Nacional, na  sua
        ambiente regional  em que não  existe  ini·   definida, a realidade é que existem  inú-  componente militar.
        migo  e onde as  ameaças também  não   meros cenários de alto risco, de várias ori-  Compreende-se, assim, a necessidade
        estão identificadas.               gens, uns  mais  longe, outros  bem  próxi-  da  reestruturação  das  Forças  Armadas,
         A germinação deste pensamento obteve   mos.  No  entanto, as  pessoas  preferem   por  forma  a tornâ-Ias  modernas  e ade-
        eco fácil  entre  muitos  jovens de hoje,   ignorar  essa  realidade, bem  patente  no   quadas  à  dimensão  nacional,  em  que
        pouco motivados para a profissào castren-  quotidiano  universal, e adiar a assunção   sobressai  um  imenso espaço marítimo,
        se  e, também, menos  interessados,  por   das suas responsabilidades.   resultante da  configuração arquipelágica
        motivações económicas pouco aliciantes.   Somos toclos cidadãos do mesmo país e   de uma nação euro-atlântica por excelên-
        Esta situação vem, de certo modo, dificul-  conhecemos bem as suas prioridades nos   cia.  Deste  modo  será  possível  defender
        tar o recrutamento de  pessoal  por regime   vários  campos de  actividade,  mas,  no   os  nossos  interesses específicos,  não  só
        de voluntariado e de contrato,  modalida·   âmbito das  relações  internacionais,  não   na  área de  interesse estratégico nacional,
        des estas, criadas como alternativa à redu-  haverá capacidade nem eficácia de nego-  mas também através da cooperação inter-
        ção do tempo de serviço efectivo normal,   ciação, se a Nação não dispuser de  uma   nacional, integrados em  forças que adu-
        e que visam alcançar  uma  maior  profis-  qualquer  forma  de  poder,  incluindo   am  em  áreas  afastadas,  numa  colabora-
        sionalização das Forças Armadas.   necessariamente o militar.          ção  militarmente  válida  e  politicamente
         O respeito e o prestígio de quem serve   Sem  FOfças Armadas proporcionais aos   útil.               .t
        o país como  militar,  tal  como acontece   restantes  factores  do  Poder  Nacional, a   JA. Lopes Carvalheira,
        em  tantos outros  países,  tem  que  ser de   Nação  denunciará a sua  fragilidade  e             VAU<

      6   JANEIRO 93 .  REVISTA OAAItMAOA
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