Page 12 - Revista da Armada
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Uma equipa médica da Marinha
cumpriu missão em Angola
A noção de prontidão militar é geralmente
utilizada em relação a unidades
operacionais, como é o caso dos navios e das
forças de fuzileiros. Porém, na sequência dos
trágicos acontecimentos ocorridos em
Luanda em finais de Outubro, uma equipa
médica da Marinha demonstrou que também
conhece as regras da prontidão militar.
Dispôs de duas horas para se apresentar no
aeroporto e seguir para Angola.
Um dos médicos até foi substituído na sala
de operações.
A lIfuil'" mlrlíai d~ MllrinM"" 5m1i(o no Hospital dI) Pmrdll
Um outro nem teve tempo para avisar a
família. 109 volumes de material mé· no Hospital da Marinha, sem
dica e da bagagem pessoal, imaginarem o que a prontidão
para o Hércules C-130 da For- militar lhes reservava.
dia 2 de Novembro Simultaneamente, chegavam ça Aérea, foi efectuada pela
decorria com a norma- ao loca1109 volumes, conten- própria equipa médica, por Nin;os e tiroteio
O lidade própria de uma do material para equipar um não haver pessoal bagageiro
vulgar segunda-feira. As cos- bloco operatório e Outro mate- no aeroporto àquela hora. Em Luanda repetiu-se a faina
tumadas consultas matinais rial de utilização permanente Foram cerca de 4 toneladas. de estiva de todo o material do
no Hospital da Marinha apro-- e de consumo. transportadas à mão! avião português para os jipes
ximavam-se do fim. Por volta Às 19.30 horas o Airbus da Restou algum tempo para angolanoS, que depois se diri-
do meio-dia, no bloco opera- TAP descolou, com a equipa descanso. Sem quaisquer con· giram para a Embaixada de
tório, o lTEN MN Mário Tos- médica a bordo. No dia 3 de dições, abrigados nas macas Portugal. Ao longo do percur-
cano realizava uma interven- Novembro, pela t hora da do C-130, cada elemento da so, escoltados pelos polícias
ção cirúrgica. manhã, o avião aterrou no equipa procuou dormitar. ninjas, durante o primeiro dia
A ordem chegou, então, aeroporto de S. Tomé, após ler Mas, às 7 horas, o avião mili- d estadia, era evidente o clima
seca e objectiva, mais ou me- voado mais de 4000 quiló- tar português já voava para a de tensão e guerra, com tiros,
nos nestes termos: "Preparar metros. capital de Angola. detonações e viaturas a arder.
para partir para Angola. A Eram 10.30 horas quando o Na Embaixada, a equipa
partida é no aeroporto do Figo Quatro toneladas à mão avião aterrou no aeroporto "4 médica da Marinha ficou então
Maduro, daqui a duas horas." de Fevereiro", em Luanda. a saber que ia trabalhar no
Um outro cirurgião substituiu As horas que se seguiram Vinte e quatro horas antes, Hospital do Prenda, um hospi-
o dr. Mário Toscano, que inici- foram verdadeirmente com- ainda cumpriam a rotina de tal civil localizado num mure-
ou uma acelerada corrida de plicadas. A transferência dos uma manhã de segunda-feira que luandense, onde iria pres-
preparativos. tar assistência à população.
Noutros serviços, a cena
não lerá sido muito difererlte No Hospital do Prenda
e, rapidamente, uma equipa
médica estava preparada para Não tardou que a equipa fosse
partir para Angola, numa mis- transportada ao "seu" novo
são médica humanitária: o hospital.
CTEN MN Pereira de Castro, "Aproveitámos para tomar
os 1 TENs MN Sousa Mendes contacto com o que havia de
e Mário Toscano, o lSARG HE ser o nosso local de trabalho.
Filipe Pinto e o 2SARG HE É um hospital de construção
Luís Pancada. relativa mente recente, mas
Às 15 horas a equipa estava sujo, para não dizer imundo,
no aeroporto. Recebeu passa- com doentes gravíssimos, api-
portes, foi vacinada e recebeu nhados no serviço de urgên-
algum equipamento de carác- cia, deitados no chão, sem
ter pessoal, apropriado à sua macas. Entre eles, vimos
missão: ca muflados, sacos- alguns cadáveres. O sangue
-cama e rações de combate. AbordodoHimlltliC-I30. t'OIIndoJlllnlÍ.lU/llb manchava o chão e as pare-
10 JANEIRO 93 · REVISTA DA ARMADA