Page 345 - Revista da Armada
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vados e mantidos no maior
grau de eficiência possível. As
guarnições aceitavam muito fa-
voravelmente toda a instrução
para a preparação para com-
bate. Instruídos sistematica-
mente em nada facilitar, con-
seguia-se um excelente grau de
prontidão.
Através de tantos anos de
guerra, pelo exemplo de
alguns antecedentes, o pessoal
depressa interiorizava que a
hora da verdade podia chegar
a todo o momento, conseguin-
do-se institivamente um grau
de prontidão de resposta
imediata, se não mesmo ante·
cipada.
Também o facto das guar-
nições das lanchas viverem em
comum e estarem ~jeit05 aos
mesmos riscos e sacrifícios,
influiu muito positivamente na
criaçao de laços de boa cama- chegada ao destino de fora da base de Bissau. Apenas Guiné de perto partilhou esta
radagem que fortalecia o milhares de toneladas de a partir de meados de 1970 foi vivência, pode testemunhar a
espírito de combate. materia l de guerra e de possfvel dotar as lanchas com nobreza destes dignos mari-
O espfrito de equipa criado abastecimento. Sujeitos com uma ventoinha e, quando safam nheiros no cumprimento do
nestas guarnições, a sua abne- as suas guarnições a todos os para cruzeiro, com uma arca dever e no espírito de missão,
gação e as qualidades de riscos, navegavam quer em frigorffica a gás. que tanto honraram a Annada a
chefia do seu patrão, natas e rios muito apertados onde o Eram estas as condições em que pertenciam.
aperfeiçoadas ou incutidas, inimigo espreitava a todo O que estes nossos marinheiros Não disponho de elementos
levaram estes homens a rea- momento, quer ao longo da cumpriam as suas missões, com posteriores a 1971 mas, para
lizar autênticos milagres no costa, de dia ou de noite, um estoicismo e uma gene· uma avaliação, será justo
cumprimento das missões apenas com a ajuda de coo rosidade bem portuguesa por realçar que, de 1963 a 1971, as
atribuídas. nhecenças em terra e de uma ser inigualável, onde a palavra unidades da Esquadrilha tinham
agulha magnética. Grande sacriffcio deixou de ter signi- percorrido 1.009.649 milhas,
EspíRITO DE MISSÃO parte das vezes a aproveitar ficado, porque sacrif(cio era a foram utilizadas 1918 lanchas
não só a maré mas também a sua regra de viver, convictos de em operações, tinham trans-
Fundamentalmente neste própria al tura da água no que, como militares, esta era a portado 214.922 pessoas e
aspecto exerciam os coman· cumprimento de um horário maneira mais adequada de 26.338 toneladas de material,
dantes da Esquadrilha, tra· que nao podia ser alterado, defender o interesse nacional. sofrendo 422 ataques. Desde
balho de relevante im- embora para isso muitas vezes 1962 até 1974, em combate ao
portância junto das guarnições tivessem que impôr, a CONSIDERAÇÕES FINAIS serviço da Esquadrilha morre-
das unidades, e principal- superiores, as suas divisas de ram 8 praças, dos quais dois
mente dos seus comandantes e cabo, com diplomacia sempre Além das importantes missões eram patrões, tendo-se registado
patrões. Sabendo-se que a que possível. de fiscalizações e de apoio às mais de 20 feridos, alguns com
maior parte das lanchas Na Guiné o seu perigo não operações no desembarque de gravidade.
utilizadas na Guiné eram de eram normalmente as con- forças, desempenhadas pelas Perante tantos sacríficios da
comando de praças, melhor se dições do mar, embora por unidades da Esquadrilha, im- vida humana e quando hoje os
poderá avaliar a sua rele- vezes este, os tornados e até o porta salientar os aspectos anli·militares deste pafs se-
vância. A estes homens, nevoeiro se fizessem sentir consequentes das necessidades cundados por alguma co-
praças da classe de manobra, intensamente. O risco de das nossas forças terrestres, em municação social pretendem a
apenas com a 4 classe do encalhar era a sua maior vastas áreas, estarem exclu- todo o custo desacreditar a
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entao ensino primário e os preocupação, não só porque sivamente dependentes do Instituição Militar, fingindo
cursos da especialidade, cabia podia comprometer a missão, tráfego Ouvial, sendo as lanchas ignorar que as Forças Armadas
honrosa e dificílima missão. A mas também porque se a única forma do suporte serão sempre a sustentaç.'io do
eles era entregue um comando tornavam um alvo muito fácil logfstico de tooa a espécie, tal Estado e a segurança da Nação,
da maior responsabilidade, na presença do inimigo. como a segurança e protecçao mais valor deve ser reconhe-
esta agravada pelas circuns- Por dois anos, a embarcação da drenagem dos produtos cido ao homenagearmos estes
tâncias da guerra. era o seu lar. Ali viviam, económicos da Guiné, o que grandes homens que serviram
Uma vez entregues a si comiam e donniam, sujeitos ao obrigava a constituir comboios estoicamente nas lanchas da
próprios, percorriam as uni- imenso calor e humidade, aos escoltados por lanchas, desta Guiné, com a motivação e a
dades sob o seu comando mosquitos, à melhor ou pior vez sob o comando de um noção do dever que resulta
milhares de milhas em mi- sorte quando em contadO com oficial. apenas, da honrosa condição
lhares de horas de navegação. o inimigo a que estavam Poderá hoje ser difícil de de serem Marinheiros de
Da sua conduta dependia o permanentemente expostos avaliar o esforço destes homens, Portugal. R
êxito de inúmeras missões, a quando em cruzeiro, que mas quem da Marinha, Exército l- Lopes Carvalheira
vida de muitos homens e a chegaram a atingir os 60 dias ou Força Aérea em serviço na V-'IM
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