Page 164 - Revista da Armada
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«Pereira da Silva»
«Pereira da Silva»
Uma vida cinzenta, cinzenta como aço, mas um ataque frontal a Lou-
renço Marques (2) toda a
aço caldeado por mão de mestre e, Divisão Naval é enviada
de infatigavelmente polido, inoxidável àquela cidade. A corveta
às vicissitudes da política, às frustrações entrou (9 SET) à frente da
lancha-canhoneira «Xe-
da profissão e mesmo aos reveses fina (3)» e dos navios ar-
da felicidade, afinal tão linear como uma mados «Auxiliar» e «Ne-
espada que, numa fracção de segundo, ves Ferreira», pois a ca-
nhoneira «Quanza (4)» fo-
refulge e nos obriga a fechar os olhos em ra reforçar Quelimane.
pausa e reverência que perdura, penetrante Com a população e os
poucos europeus da Polí-
e luminosa, na mais adormecida memória.
cia montada e do Exército,
e 50 soldados africanos
alvez por isso, quando à primeira fragata da classe «Almirante» organizou-se a defesa.
foi atribuido o seu nome muita gente se terá perguntado: Na noite de 23 foi re-
T«Quem foi este?» chaçado o primeiro ata-
Fernando Augusto Pereira da Silva, filho de um distinto oficial do que, mas a corveta teve de
Exército, nasceu em Messines, a 13 de Janeiro de 1871, mas fez os ser entregue às mulheres
seus estudos em Lisboa, onde após os Estudos Preparatórios acede à para que os homens col-
Escola Naval em 1889. matassem as 40 baixas Pereira da Silva, Contra-Almirante em 1935.
Um ano depois, a provar que as Alianças, para os fracos, não pas- registadas no «quadrado»,
sam de frágeis garantias face a interesses contraditórios, Portugal, apoiado na praia, mas excluindo a estação do … telégrafo submarino.
política, intelectual, industrial, … económica e, consequentemente, E resistissem nas noites de 9 e 14 de Outubro.
militarmente desarmado sofre a sua maior humilhação, exactamente No dia seguinte uma expedição militar de socorro partia de …
porque não dispõe de Marinha. Foi o Ultimatum, chicotada afinal … Lisboa (5)! A de Mouzinho de Albuquerque que derrotaria, em
insuficiente (1), que poderá ter sido o «leit-motiv» do então jovem Chaimite, o chefe Vátua.
aspirante de 2ª classe. A «Defesa de Lourenço Marques» impediu uma «vergonhosa inter-
Só em fins de 1893 fará, com mais 33 aspirantes, a sua primeira venção de forças estrangeiras», aliás, subjacentes à revolta (6).
saída para o mar, rumo a Moçambique, num total de 19.903 milhas Regressado a Lisboa e já 2TEN (7DEZ95) depois da Fiscalização do
náuticas. Sul, como imediato, oferece-se para Moçambique, onde assume o
Pereira da Silva porém, destacara para a corveta mista «Rainha de comando (23JUN96) da lancha-canhoneira «Obuz» da famosa
Portugal», afecta à Divisão Naval do Índico, onde, a 20 de Julho, Esquadrilha do (rio) Zambeze.
«molha» o galão de guarda-marinha. Em 1987 passa a Angola, como ajudante do Comando da Divisão
Como o régulo Mahazuli, às ordens de Gungunhana, preparasse
Naval do Atlântico Sul.
Depois do Algarve, na «Tavira» (1898-1901), faz, como encarrega-
do dos serviços de electricidade do recém chegado cruzador «Rainha
D. Amélia» , a visita de D.Carlos aos Açores e Madeira, manobras e
as viagens do Príncipe das Beiras (7).
Concluído o curso (MAI04) na Escola Prática de Torpedos e
Electicidade (EPTE) é, dados os seus estudos sobre a Marinha e a sua
reorganização, nomeado para a Comissão do Plano de Reconstrução
da Armada, porém, volta no «D. Amélia» a Angola, para, em 1905,
ano do seu primeiro livro, ir, como 2º comandante interino (8), para a
EPTE, em Vale de Zebro.
Em 1906, é comandante interino (por ser 1º tenente) dos cruzador
«D. Amélia», onde a sua competência técnica se evidencia, e depois,
do Navio-Escola de Marinheiros do Norte, a «D. Estefânia», no Douro
fundeada, onde desenvolve uma acção pedagógica notável no plano
profissional, moral e físico.
A 4 de Outubro de 1910, regressado a Lisboa, é, pelo governo,
mandado para Vale de Zebro para, admite-se, com os 4 navios tor-
Pereira da Silva (no Tombadilho, projectado sobre o mastro) com os aspirantes
seus companheiros de curso da Escola Naval, durante a viagem de instrução a pedeiros dominar os navios republicanos, o que ele sempre afirmou
bordo da corveta “Duque da Terceira”, 1893. que não cumpriria. ✎
REVISTA DA ARMADA • MAIO 99 17