Page 198 - Revista da Armada
P. 198

Holland respectivamente, consistia em usar
         um motor térmico para a navegação à su-
         perfície mas que não fazia carga de baterias.
         OS OUTROS PAÍSES

           Obviamente, a navegação submarina co-
         nheceria muitos outros desenvolvimentos.
         Contudo, com o Narval tinha-se conseguido
         o conceito de plataforma que seria ampla-
         mente utilizado nos dois maiores conflitos
         mundiais. Falou-se praticamente apenas do
         que se passou em França, porque foi este
         país quem maiores contributos deu nesta fase
         de desenvolvimento dos submarinos. Segui-
         damente veremos duma forma sintética o  Submarino italiano Medusa, projecto de C. Laurenti. Teve grande sucesso; foi o primeiro a ser construído
         que se passou noutros países.      em série na Itália e já era equipado com motores Diesel.
           Nos EUA o interesse por este género de
         plataformas também foi bastante grande. Du-  um submarino de provas, o Delfino, em  navio deste tipo. Quanto ao projecto do 1º
         rante a Guerra da Secessão foram construí-  1891. Seguiu-se um período sem grandes  tenente Valente da Cruz, de 1905, não pas-
         dos diversos submarinos, tendo o entusiasmo  desenvolvimentos, mas a partir de 1903  sou da fase de projecto, presumivelmente
         continuado após ter terminado o conflito. Em  este país começou a construir submersíveis  por razões económicas, as mesmas que
         1886 foi aberto um concurso pelo Almiran-  de excelente qualidade para a época, sob  também terão condenado o projecto do
         tado Americano para fornecimento de sub-  planos do engenheiro C. Laurenti. Um dos  submarino Fontes.
         marinos, tendo saído vencedor o modelo  seus projectos de maior sucesso foi o tipo  No entanto, o interesse manteve-se e, em
         Holland, anteriormente referido. De realçar  Medusa, cuja construção se iniciou em  1907, foi autorizado pelo parlamento um
         que vários modelos de navios desta compa-  1910, e foi o primeiro submersível italiano a  programa de construções que previa a
         nhia foram vendidos para diversos países.  ser equipado com motores diesel e a ser  aquisição de dois submersíveis. Porém, só
           A Grã-Bretanha começou por considerar o  produzido em série, tendo sido construídas  um viria a ser encomendado, precisamente
         submarino como um tipo de navio pouco  várias unidades deste modelo. Além do  em 17 de Junho de 1910, - o Espadarte –
         leal não tendo voluntariamente desenvolvido  Espadarte para Portugal contam-se mais sete  que foi entregue à Marinha Portuguesa em
         grande investigação nesta área. Contudo, no  para a Itália, e ainda navios para a Suécia,  15 de Abril de 1913.
         inicio do século XX, apercebendo-se que era  Dinamarca, Brasil, Espanha, Estados-Unidos  Portugal foi, assim, dos primeiros países a
         irreversível a tendência para desenvolver  e Grã-Bretanha.            possuir submarinos como plataforma bélica
         submarinos cada vez mais evoluídos, decidiu                           credível, equipado com um sistema de pro-
         iniciar a construção de cinco navios segundo  TAMBÉM HOUVE UM SONHO   pulsão que se veio a revelar de sucesso, es-
         planos da Sociedade Holland.       PORTUGÊS                           tando em 1914 entre os dezassete países
           Outra nação que aderiu tarde à causa sub-                           que a nível mundial possuíam esta arma.
         marina foi a Alemanha. Em 1901 o Almirante  Diversos outros países realizaram experi-
         von Tirpitz afirmava que o seu país não pre-  ências com o objectivo de construírem os
         cisava de submarinos, devido à sua configu-  seus próprios submarinos. De entre estes   Batista de Figueiredo
         ração geográfica. Porém, em 1903 foi inicia-  merecem destaque a Espanha, com o sub-             CFR EMQ
         da a construção do primeiro submersível  marino projectado por Isaac Peral, em            Barroso de Moura
         alemão, o U-1.                     1887, e Portugal com dois projectos dos                      CTEN EMQ
                                            oficiais de Marinha Fontes Pereira de Melo                 Costa Canas
         O 1º SUBMERSÍVEL PORTUGUÊS         e Valente da Cruz. O primeiro, o submari-                      1TEN M
         VEM DE ITÁLIA                      no Fontes de 1889, foi concretizado em
                                            termos de modelo construído à escala e
           Quanto ao país que forneceu o primeiro  realizadas experiências no rio Tejo. Não  Notas:
         submersível a Portugal, a Itália, construiu  chegou, contudo, a ser construído qualquer  1) Estas questões foram recentemente abordadas  nas
                                                                               páginas desta revista (Agosto 1999), no artigo sobre o
                                                                               Cruzador D. Carlos I e Almirante Reis. Embora correndo
                                                                               o risco de repetir alguns assuntos, consideramos
                                                                               fundamental esta primeira parte para compreender
                                                                               as condições que conduziram à decisão de adquirir
                                                                               um submersível.
                                                                               2) Cf. A. H. Metzener, "A Liga Naval Portugueza e o
                                                                               Ressurgimento Marítimo de Portugal", Anais do Clube
                                                                               Militar Naval, 1904, pp. 135-142.
                                                                               3) Boletim da Liga Naval Portuguesa, Março de 1913,
                                                                               p. 10.
                                                                               4) João Augusto de Fontes Pereira de Mello, Memória
                                                                               Sobre o Submarino Fontes, Lisboa, 1902, p.p. 24 , 25.
                                                                               5) Esta ideia foi posteriormente aproveitada
                                                                               para a propulsão de torpedos, que desenvolviam
                                                                               velocidades elevadas e percorriam distâncias
                                                                               bastante curtas.
                                                                               6) Designavam-se assim os submarinos concebidos para
                                                                               navegar unicamente em imersão. À superfície o seu
                                                                               comportamento era medíocre. Como não podiam estar
         Nos EUA John Holland dedicou mais de 20 anos da sua vida ao projecto e desenvolvimento dos submarinos.  mais do que 3 a 4 horas em imersão, a sua missão não
         Aqui dois dos seus projectos: em 1875, ainda accionado a pedais, e um dos últimos modelos, 1895, já com  podia ser mais do que a vigilância e protecção costeira
         motor a vapor.                                                        próxima.
         16 JUNHO 2000 • REVISTA DA ARMADA
   193   194   195   196   197   198   199   200   201   202   203