Page 361 - Revista da Armada
P. 361
Património Cultural da Marinha
Património Cultural da Marinha
Peças para Recordar
32. MUSEU MARÍTIMO ALMIRANTE RAMALHO ORTIGÃO
O actual Museu Marítimo, foi organizado sobre as cinzas do antigo Museu Industrial Marítimo, que pertenceu à extinta Escola
Industrial Pedro Nunes, em Faro. Foi criado por despacho de 4 de Janeiro de 1889, sendo Ministro das Obras Públicas, Comércio e
Industria o Conselheiro Emídio Navarro.
O núcleo em torno do qual se formou o antigo Museu Industrial Marítimo foi a interessante colecção de modelos, de redes,
armações, aparelhos e barcos de pesca, estudados, mandados construir e montados pelo distinto oficial de Marinha e engenheiro
hidrógrafo António Artur Baldaque da Silva, colecção que o Governo por proposta do Inspector Fonseca Benevides, comprou
àquele oficial, acrescida de modelos de construção naval, aparelhos e instrumentos de navegação, modelos de navios, trabalhos de
marinheiro, modelos de máquinas, quadros a óleo representando os peixes, moluscos e crustáceos mais importantes da fauna marí-
tima de Portugal, etc., construídos e adquiridos por iniciativa e sob a direcção do mesmo Inspector Fonseca Benevides.
As diferentes colecções, estiveram em exposição pública em Lisboa na Escola Industrial Marquês de Pombal, em Espanha, e na
Exposição Universal de Paris em 1900.
Em Faro, foi o Museu primitivamente instalado na própria Escola Pedro Nunes, rua do Município, a seguir numa casa da rua da
Carreira, hoje Infante D. Henrique, e depois no solar Pantoja, rua de Santo António, onde se conservou até à sua entrega, em
1916, à extinta Escola de Alunos Marinheiros do Sul, instalada no antigo Paço Episcopal, que foi sede do Departamento Marítimo
do Sul e onde foi inaugurado em 1931 sob a orientação do Capitão do Porto, Capitão de Fragata António Ramalho Ortigão. Em
1964, foi instalado no actual edifício da Capitania do Porto de Faro onde actualmente se encontra, junto à Doca de Recreio, sendo
a decoração e a pintura do “copejo do atum” da autoria do pintor algarvio Carlos Porfírio.
O Museu compreende três salas. A sala “Lyster Franco” em homenagem ao pintor, que tanto interesse e trabalho despendeu na
instalação no Largo da Sé com a restauração dos 64 quadros do Museu, em manifesto risco de se perderem, e pela oferta de 3 telas
da sua autoria; a sala “Manuel Bivar” em homenagem ao distinto engenheiro agrónomo farense, cuja curiosidade e amor às coisas
de Marinha se manifestou na construção, por ele próprio realizada, dos interessantes modelos depositados no Museu pelos seus fi-
lhos; e a sala “Baldaque da Silva” em homenagem ao distinto oficial de Marinha e engenheiro hidrógrafo, autor do belo livro
“Estado actual das pescas em Portugal” e organizador das colecções dos modelos de redes e barcos.
Encontram-se expostos no museu Almirante Ramalho Ortigão, variados tipos de redes, artes, aparelhos e diversos utensílios de
Pesca. Destes podemos salientar os utilizados —
Na Pesca do Alto, aqui representada pelo Arrasto a vapor que é uma arte de pesca envolvente de arrastar, que os pescadores
portugueses passaram a chamar arrastão e labora lançada pela popa de uma embarcação navegando a vapor; a Rasca que é uma
rede de emalhar permanente ou de fundo, de um só pano, usada no norte, desde Caminha à Ericeira para a pesca das lagostas,
raias e cações, a Petisqueira rede de emalhar permanente ou de fundo, de três panos sobrepostos, usada pelos pescadores de
Buarcos, desde Caminha à Ericeira para a pesca de linguados, ruivos, cações, tremelgas e a Sardinheira rede de emalhar flutuante
ou de superfície, de um só pano, usada para a pesca da sardinha no Norte do País.
Na Pesca Costeira encontram-se representadas a Armação de atum arte de pesca envolvente fixa, usada na Costa Meridional do
Algarve. O Bicheiro de mão gancho de ferro para copejar/arpoar o atum colhido pela armação e embarcá-lo. O Bicheiro de alcan-
ce gancho para arpoar o atum mais distante que não pode ser copejado com o bicheiro de mão. A Armação de sardinha à valen-
ciana simples arte de pesca envolvente fixa, usada na Costa Meridional do Algarve e nas enseadas de Sines, Setúbal, entre os Cabos
da Roca e Espichel e na de Peniche. O Cerco Americano arte de pesca envolvente de cerco volante, usada em toda a Costa de
Portugal para a captura da sardinha. A Chavega arte de pesca envolvente de arrastar usada na Costa do Algarve para a captura da
sardinha e outros peixes. A Redinha ou Lavada pequena arte de pesca envolvente de arrastar usada no Algarve para a captura de
peixe miúdo. A Sacada arte de pesca envolvente de suspensão, muito usada, principalmente na Costa do Algarve, na captura do
chicharro, cavala, boga, etc. O Enchelevar rede envolvente de suspensão para tirar ou envolver a pescaria apanhada por outras
artes. A Barqueira de arame aparelho de muitos anzóis, empregado vulgarmente na pesca da faneca em quase toda a Costa de
Portugal. A Teia de alcatruzes aparelho de pesca muito usado na Costa do Algarve na captura do polvo, cada teia pode ter até 72
alcatruzes.
Por último, na Pesca Fluvial encontram-se representadas para além de muitos outros o Tresmalho rede de emalhar volante, de
três panos sobrepostos, muito usada nas águas interiores dos rios e rias de todo o Continente. O Redenho pequena rede envolvente
volante, de malha muito miúda, empregada na pesca do camarão nas proximidades das barras. O Tapa esteiros aparelho de rede
de estacada tendo junto uma outra rede em forma de saco com armadilha como os botirões, muito usado nas rias de Faro, Olhão,
Tavira e Portimão. A Fisga das lampreias aparelho de fisga com sete a doze dentes apenas. A Colher pequena rede triangular enta-
lhada em duas varas cruzadas e amarradas, formando bolso; empregam-na, mas pouco, devido ao pequeno lucro que dá. O Xilreu
pequena rede triangular entalhada em duas canas amarradas em cruz com uma terceira fechando o triângulo e possuindo a meio
um copo de rede mais miúda. É usada na ria de Tavira, Fuseta e Olhão, quase sempre na baixa-mar. A Adiça instrumento usado
pelos marítimos do Algarve para apanhar lingueirão.
O Museu com a sua magnífica colecção de artes de pesca, utensílios, modelos de navios e muitas outras peças relacionadas com
o Mar é muito visitado por turistas nacionais e estrangeiros e também por estudantes do ensino básico, secundário e da
Universidade do Algarve e constitui por si só um conjunto raro e de grande interesse.
Capitania do Porto de Faro
(Texto de Mário Dores de Sousa, CMG)