Page 249 - Revista da Armada
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de nós tivera a mínima vontade de rir. Confor- sos camaradas “araújos”, porém, de uma coi- entre os Ramos, pelo menos por agora. Se,
me atrás referi, na altura levavam-se mais a sé- sa estou certo: se formos, algum dia, invadidos entretanto, a oportunidade voltar a surgir e tal
rio as visitas de seres de outros planetas. por marcianos ou outros que tais, os militares nos for permitido, o assunto servirá de pretex-
Hoje, as notícias de avistamento de OVNI da Briosa estarão sempre prontos a fazer-lhes to a uma outra história…
servem apenas para comentar o estado de frente. Posso afirmá-lo sem quaisquer dúvidas, Z
prontidão da nossa defesa aérea. Não ponho pois vi um exemplo disso! J. Moreira Silva
em dúvida a capacidade de reacção dos nos- Não enveredemos, porém, pela rivalidade 1TEN
BIBLIOGRAFIA
OITO MESES NO MAR
OITO MESES NO MAR
a epopeia, vivida pelo autor, estibordo, e desaparecia depois de duas
Arquitecto Luís Vaz de Alma- vezes ter-se mostrado deixando-se ficar
Dda, foram oferecidos à Mari- sossegada por fim lá nas profundezas
nha cem exemplares, que aqui encon- donde havia aparecido.
tram destino pela responsabilidade da “Durante essa noite (30/31 JAN) pas-
Comissão Cultural de Marinha. sámos a célebre linha de Tordesilhas”
Foi na realidade uma epopeia vivida – cada barco transportava uma garrafa
por tão ilustre mestre de construção de selada com uma mensagem em que se
casas esta de divulgar o mais possível o pedia ao achador para dar conta a várias
entusiasmo e o gosto por sulcar as sal- entidades deste acontecimento. Apesar
sas ondas de mar por outros “lenhos” de ser de noite, a cerimónia de passa-
estes agora de aço. gem deste famoso meridiano foi festeja-
E se fosse num barco pequeno, casca da, filmada, tudo fardado a rigor, houve
de nós, como normalmente se designa, discursos, devidamente regados a whisky
tanto melhor. afinal pequenas coisas que que-
Estava em organização, por alturas bram a monotonia de bordo, de-
da “Expo’ 98”, uma “Round The World senvolvem a sã camaradagem, e
Rally” e Portugal - o país da Expo’ 98 – sabem a pouco.
alinhava pronto, disposto a representar-se com de onde deveriam fazer Depois foram as Caraíbas, o
algum (ou alguns, parece que 4) veleiros nessa desaparecer as iguarias Panamá, o Canal, o Equador, de-
prova, de volta ao mundo. Que melhor para que como desafio à sua pois ainda, Salinas e Galápagos.
quem queria viver o mar, no mar? magnifica fome e lhes O Pacífico foi mesmo pacífico. O
Juntaram-se 6 veleiros ingleses, 4 franceses, eram, apresentadas, ao 1º de Abril deu aso a brincadei-
4 portugueses, 3 suíços, 2 espanhóis, 2 ale- cabo da 3ª tentativa, ra propícia, com a notícia de um
mães, 1 sueco e 1 finlandês, 23 ao todo. acertavam. leão marinho que tinha entrado
O Rally foi organizado e planeado pela World Depois, a sensação de por um dos navios da regata, já
Cruising Ltd com escalas na Madeira, Grã Ca- estarem a ser levados pe- cansado de nadar tão longe da
nária, oceano até S.ta Lúcia, nas Antilhas, mar los alísios, o vento favo- costa. Três dias depois foi dia de
das Caraíbas até Panamá, o Canal para entrar no rável do Atlântico rumo anos (51) do autor, com o desa-
Pacífico. Travessia pela tradicional rota dos Ve- a novas ilhas, a novos al- bafo do próprio: Bela idade para
leiros, visitando as Galápagos, Marquesas, e ou- moços. Não sem qualquer impecilho a animar a se navegar e começar aventuras deste jaez.
tras estâncias, até a Austrália, deixando esta em viagem. Era o 2º piloto automático que entrava DasVuamuotu até à Austrália era um salti-
Darwin, para entrar pelo Indico, rumo ao cabo de greve deixando o Skipper de cabeça perdi- nho, que se precipitou como um fim de aven-
da Boa Esperança, e desta Boa Esperança para da, não chegando para o animar a velha seme- tura que ia acontecer. A regata continuava até
Lisboa visitando S. Salvador da Baía, Açores, e lhança com Vasco da Gama que chegara à Índia Lisboa, mas para o autor era o fim, a tripulação
daqui até ao Porto, onde se concentrariam os sem piloto automático, e chegara! ia ser substituída, as despedidas foram anima-
veleiros que lá chegassem, para rumar em ma- O vento que faltava, por períodos longos, a das onde reinava a tristeza de um mundo ma-
gote até Lisboa, em princípio em 24 de Maio meio da viagem, passados que eram oito dias ravilhoso que ali terminava.
de 1998. Que viagens maravilhosas! Que his- e se encontravam a meio do caminho, agora Claro que foi nossa preocupação não que-
tórias para contar! Que de sensações em tantas sem vento – quando 24 horas eram mais que rer destruir o esplendor do escrito original, que
milhas percorridas! Que mais desejaria quem um dia para deixar de navegar até ver que o spi, vale a pena ler, linha-a-linha, ao longo das du-
gosta do mar, de andar no mar, de governar um afinal, podia ser içado, e avançar com maior zentas e sete páginas do volume onde a página
barco para percurso tão aliciante? prontidão, o camba e caça, com muito mais esquerda, continha sempre uma fotografia que
Foi por tudo isso que o arquitecto Luís Vaz de velas do que mãos, depois o vento que crescia vale outro tanto da história.
Almada se ofereceu para formar parte da equi- em força, o tempo que faltava para a manobra É um livro que vale a pena possuir. Pelo que
pa, deixando temporariamente a família, para que era preciso executar... diz , pelo que mostra. À Comissão Cultural,
experimentar as inúmeras comparações que po- Enfim, os bichos enormes que se levanta- e ao seu Presidente, Almirante Leiria Pinto, a
deria ir fazendo: a Grã Canária não é tão bonita vam da água ficando paralelos à superfície R.A. agradece a oferta deste volume, que fica
como a Madeira, a marabunta (formiga devora- até se deixarem cair, com grande estardalha- a enriquecer a sua Biblioteca.
dora) eram eles próprios, que se sentavam num ço, e mergulharem para as profundezas, como Z
restaurante julgando ser o deles, e se movimen- aquela baleia que ainda há bocadinho nos ti- S. Machado
tavam para outro próximo quando informados nha visitado saindo lá do fundo dos lodos de CMG
REVISTA DA ARMADA U JULHO 2004 31