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REFLECTINDO… Exercício Lusíada 052
Exercício Lusíada 052
EUROPA
eria sido o grego Heródoto (485?-425 a.C.), o pai
da história, o primeiro a falar da Europa, como
Tum território que estava para além do “mundo
grego” e que diferenciou da Ásia, considerada então
propriedade dos persas.
A construção da Europa é um projecto político mui-
to antigo, tendo variado as suas fronteiras de acordo
com os diferentes “construtores”. Não cabe aqui fazer
a sua história, mas apenas recordar alguns passos im-
portantes.
Primeiro, foi a formação da Europa mediterrânica
pelo Império Romano, ocupando as duas margens des-
te “mar entre terras”, tal como indiferentemente tam-
bém as haviam usado os cretenses, fenícios e gregos.
Só a expansão árabe do século VII por todo o Norte
de África criou no Mediterrâneo a fronteira Sul da Eu-
ropa, como ainda hoje lhe chamamos, e pressionou a
cultura europeia para Norte, onde se formou o Impé-
rio de Carlos Magno (768-814), dividido após a morte exercício Lusíada 052, decorreu entre 19 e 30 de Novembro de
2005, e por se tratar de um exercício conjunto teve como parti-
do imperador. O
No fim do primeiro milénio foi criado o Sacro Império cipantes meios dos três ramos das Forças Armadas integrados na
Romano-Germânico, potência central importante até à Força de Reacção Imediata, comandada pelo Coronel de Infantaria Antó-
Idade Contemporânea. Após a queda de Constantino- nio Augusto.
pla perante os turcos, no fim do século XV, mais uma O Grupo de Tarefa Naval, que participou neste exercício, era constituído
vez a cultura europeia foi pressionada, desta vez para por seis unidades navais, NRP “Corte Real” (navio-chefe da componente na-
Nordeste, na direcção dos povos eslavos. val) com dois Linx embarcados, NRP “Bérrio” (navio que apoiou o COMFRI
Normalmente, a necessidade de se afirmar uma iden- no trânsito para a área do exercício), NRP “Sacadura Cabral”, NRP “João
tidade surge na adversidade, em períodos de confronto. Belo”, NRP “Baptista de Andrade”, NRP “Pereira D’ Eça”, uma unidade de
Assim aconteceu na Europa, durante o referido Impé- mergulhadores e uma unidade anfíbia, num total de oitocentos e setenta
rio Carolíngio, face ao avanço árabe, ou durante o Sacro homens, comandados pelo CMG Pereira da Cunha.
Império, perante a ofensiva turca. Da Marinha participaram ainda, o NRP “Barracuda”, NRP “Escorpião”,
Nos tempos recentes, os alicerces do que é hoje a NRP “Sagitário”, NRP “Águia” e o DAE.
União Europeia começaram a ser edificados após os 12 A componente Naval tinha como missão, conduzir, em coordenação com
anos de nazismo (1933-1945), por iniciativa de um nú- as outras componentes (Terrestre e Aérea), uma operação de evacuação de
mero limitado de países do Bloco Ocidental. Na Europa, cidadãos nacionais, de países amigos e aliados, de um país imaginário,
a bipolarização política mundial estava fisicamente bem Green land, numa situação de grande instabilidade.
demarcada por uma “Cortina de Ferro”. Na década de O exercício decorreu em três fases, uma inicial, e durante o trânsito para
80 do século passado, no âmbito da geopolítica, come- a área de operações, consistindo no desenvolvimento de um conjunto de
çou a referir-se com frequência a Europa do “Atlântico exercícios de acordo com o programa seriado, tendo como objectivos, pro-
aos Urais” quando se procurava reduzir ou desvalori- mover a integração das unidades e melhorar o adestramento e desempenho
zar o fosso estabelecido pela bipolarização. Contudo, da componente naval, nos procedimentos e aspectos tácticos, com vista a
a União Europeia só teve acentuada expansão quando concretização da operação anfíbia.
terminaram os 72 anos de domínio comunista no Les- Após a chegada à área da operação, foi iniciada a segunda fase, concre-
te (1917-1989). tizando-se as acções indispensáveis ao controlo do mar, entre os meridia-
Para romanos, francos e germânicos, a formação da nos de Sagres e Lagos, garantindo as condições necessárias para a projec-
Europa seria sempre uma conquista militar. Agora, é a ção da unidade anfíbia, e ainda, a defesa da componente naval de ameaça
primeira vez que a ideia da Europa política se vai apro- assimétrica.
ximando rapidamente da Europa geográfica, não pela O desembarque foi efectuado em 25 de Novembro, com o apoio da uni-
força da guerra e da conquista, mas por entendimento dade de mergulhadores, tendo sido transferida por helicóptero cerca de dez
entre os Estados, num processo incontestavelmente vo- toneladas de material da unidade anfíbia, e ainda, um Posto de Comando
luntário. E os povos que pedem a adesão não são mo- Móvel para apoio ao COMFRI. Este assumiu o comando em terra, em 26 de
vidos pelo medo e pelo instinto ou necessidade de de- Novembro, após concluídas as tarefas atribuídas à unidade anfíbia.
fesa; pelo contrário, descuidando até a defesa, o que é Entre o dia 26 e 29 de Novembro, a componente naval garantiu a susten-
preocupante, move-os o desejo de apressar o seu desen- tação logística da unidade anfíbia, promovendo a transferência diária, por
volvimento sócio-económico e interessa-lhes a adesão helicóptero, de alimentação e água.
a uma sociedade norteada por valores que consideram A terceira fase iniciou-se em 29 de Novembro com um DVD, correndo em
nobres e onde, apesar de algumas dificuldades, esses simultâneo a evacuação dos civis, para as unidades navais e posteriormente
valores são respeitados. transferidos para o FLS Portimão estabelecido num país amigo (Algarbenia),
É um projecto difícil de concretizar, mas único no mun- por unidade naval e helicótero.
do. Envolve 25 dos 193 países existentes e é, sem dúvida, Após uma demonstração naval conduzida por um helicóptero, o DAE e o
o que mais alto coloca o respeito pela pessoa humana. NRP “Barracuda”, foi iniciado o reembarque da unidade anfíbia e do COMFRI,
Z tendo-se concluído em 30 de Novembro, com regresso à BNL.
António Emílio Sacchetti Z
VALM (Colaboração do Comando Naval)
REVISTA DA ARMADA U JANEIRO 2006 9