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Neste enquadramento, refiro a tão oportuna, como necessária, aqui-  o dever de tutela dos meus subordinados. Fá-lo-ei; não só porque tal
         sição de duas modernas fragatas à Marinha Holandesa, que integrarão  está estatuído na lei, mas porque também corresponde à minha pro-
         a Esquadra já em 2008 e 2009.                        funda convicção. É neste sentido, que prosseguiremos uma política de
           Este programa, a par da construção dos submarinos e da aquisição  valorização do nosso capital humano:
         de mais helicópteros, serão o apoio indispensável à capacidade expe-  Oferecendo uma qualificação profissional de excelência, acreditada
         dicionária que esperamos ver aumentada com a construção do Navio  e certificada;
         Polivalente Logístico. Em paralelo, estamos já a tratar da capacidade   Aprofundando as ligações à comunidade civil, marca da integração
         intrínseca de projecção de força em terra, através do reequipamento dos  da Marinha no País;
         Fuzileiros, dotando-os de viaturas tácticas anfíbias para que possamos   Promovendo uma cultura do mérito, repercutindo o desempenho
         utilizar na plenitude, se e onde for necessário, uma força de inegável  no desenvolvimento da carreira, promovendo a diferenciação enquan-
         valor e de indubitável utilidade face à dispersão do território nacional,  to caminho de motivação, e reconhecendo a especificidade do pessoal
         à imprevisibilidade e magnitude de fenómenos naturais nefastos e à  embarcado e daquele que desempenha funções na primeira linha de
         existência de Portugueses nas sete partidas do mundo.   exigência operacional.
           No que respeita às actuações de matriz jurisdicional, saliento o pro-  São medidas de fortalecimento do potencial estratégico da Marinha,
         jecto de construção dos oito Navios Patrulhas Oceânicos, dos quais dois  pela valorização do factor humano, que só terão sucesso se sustenta-
         na variante de Combate à Poluição, e das oito Lanchas de Fiscalização  das numa cultura de liderança que, aos diferentes níveis, pugne pelo
         Costeira. Infelizmente, a construção tem acumulado atrasos e não é ain-  permanente sentido de missão, pela noção do dever, pelo orgulho de
         da possível, com rigor, saber quando ocorrerá a entrega dos primeiros  ser militar marinheiro, e pelo estrito cumprimento das nossas nor-
         navios. Este é um desafio                                                             mas de funcionamento e
         que teremos que vencer                                                               de disciplina. Disciplina
         em nome das nossas tra-                                                              esta que é exclusiva da
         dições na construção e re-                                                           hierarquia militar e que
         paração naval. A Marinha                                                             na nossa forma muito
         continua disponível para                                                             própria de estar, é uma
         ajudar, como tem feito,                                                              disciplina consentida, a
         e paciente na espera por                                                             disciplina do mar, aque-
         um produto de qualida-                                                               la em que todos depen-
         de, fundamental para ser-                                                            demos de todos.
         vir o País nos próximos                                                                É na vivência diária
         trinta anos. Tenho hoje o                                                            destes valores, que con-
         grato prazer de anunciar                                                             seguiremos a coesão es-
         que um destes navios to-                                                             sencial ao nosso sucesso
         mará o nome de ”Ponta                                                                e que nos revelaremos
         Delgada” em homenagem a esta terra que nos recebe. É um tributo  merecedores do capital de confiança que o País em nós deposita.
         que devemos aos Açorianos                             Ilustres Autoridades
           Paralelamente, a Lei de Programação Militar também irá permitir   Distintos convidados
         reforçar o “Plano Mar Limpo”, para o combate à poluição, incluindo   Não quero terminar sem relembrar que, na minha posse, tomei o
         melhorias nas bases logísticas das Regiões Autónomas, designadamen-  compromisso de preparar o futuro, honrando um passado secular de
         te o reapetrechamento da base logística de Ponta Delgada e a eventual  serviço a Portugal. Por isso, cumpre-me dar hoje, aqui e agora, testemu-
         criação de bases logísticas no Faial e na Terceira.  nho de que a nossa Marinha se tem cumprido, porque é e continuará
           Mas o futuro passa, igualmente, pelo impulso reformador na orga-  a lutar para continuar a ser:
         nização do Estado e, no nosso caso, pelo processo de reestruturação da   Relevante, pela competência;
         estrutura superior da Defesa Nacional e das Forças Armadas. A Ma-  Pronta, porque capaz de ser empregue quando e onde requerido;
         rinha manter-se-á empenhada e actuante neste processo, sem visões   Flexível, cumprindo a sua missão com inovação e capacidade de
         sectárias ou corporativas, antes numa postura que privilegia as apro-  adaptação, não ficando indiferente à mudança;
         ximações cooperativas, solidárias e não dominantes, estabelecendo a   Coesa, revendo-se os seus membros nos propósitos e na acção de co-
         confiança essencial para que se potencie a mais valia do todo, em rela-  mando, sustentada numa cultura muito própria e nos valores militares;
         ção ao somatório das partes.                          Prestigiada, pelo reconhecimento da sua utilidade e eficácia, pelos
           Não podemos deixar-nos tentar por opções teoricamente perfeitas  nossos concidadãos e pelos aliados.
         mas cuja operacionalização entalhe perturbações inultrapassáveis e   São estes os princípios que nos orientam, para que, em estreita coo-
         custos indirectos à partida desconhecidos, como por vezes acontece  peração com outros departamentos do Estado com responsabilidades
         quando a aparente e evidente virtualidade das reformas, não coincide  no mar, reforçando a abertura e o aprofundamento das ligações à co-
         com a ponderação cuidada das soluções.               munidade civil, na afirmação duma inequívoca integração da Marinha
           Senhor Ministro da Defesa Nacional                 no País, se concretize o desígnio estratégico do “bom uso do mar” em
           A construção do futuro não será possível sem o envolvimento das  benefício dos portugueses.
         pessoas, pelo que considero indispensável garantir a coesão, a motiva-  Todos temos orgulho naquilo que permanentemente concretizamos,
         ção, a liderança e a disciplina. Estes são factores determinantes para o  mas todos temos, também, que assumir frontalmente, que muito mais ha-
         cumprimento das missões, mas cujo equilíbrio pode ser posto em causa  verá a fazer. É esta a nossa motivação, é este o timbre dos Marinheiros!
         por factores exógenos, para além da latitude de decisão da Marinha, e   Pugnarei para que prossigamos, norteados pela cultura do serviço
         que decorrem, por via de regra, da vontade de tratar de forma homo-  público, habituados que estamos a colocar, sempre, os interesses do co-
         génea aquilo que é diferente por natureza.           lectivo nacional à frente dos interesses individuais ou corporativos.
           Estamos conscientes das medidas de rigor necessárias para ultrapas-  A Marinha reivindica para si, como sempre, tão só poder servir bem
         sar as dificuldades financeiras do País e garantir o futuro. Mas também  Portugal e os Portugueses. Por isso, o nosso rumo está traçado e visa,
         reconhecemos que o posicionamento relativo dos militares na escala so-  hoje, como ontem, muito para além do horizonte. Outra convicção não
         cial dos servidores do Estado deve ser acautelado no sentido de assegu-  posso ter “nesta vasta e tremenda singradura”!
         rar que a Marinha represente, como deve, e é da norma democrática,
         um corte representativo da sociedade em que se insere.  Viva a Marinha! Viva Portugal!                Z
           Marinheiros,                                                                       Fernando de Melo Gomes
           Compete-me comandar a Marinha. À acção de comando é inerente                                   Almirante
                                                                                        REVISTA DA ARMADA U JUNHO 2007  7
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