Page 189 - Revista da Armada
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Neste enquadramento, refiro a tão oportuna, como necessária, aqui- o dever de tutela dos meus subordinados. Fá-lo-ei; não só porque tal
sição de duas modernas fragatas à Marinha Holandesa, que integrarão está estatuído na lei, mas porque também corresponde à minha pro-
a Esquadra já em 2008 e 2009. funda convicção. É neste sentido, que prosseguiremos uma política de
Este programa, a par da construção dos submarinos e da aquisição valorização do nosso capital humano:
de mais helicópteros, serão o apoio indispensável à capacidade expe- Oferecendo uma qualificação profissional de excelência, acreditada
dicionária que esperamos ver aumentada com a construção do Navio e certificada;
Polivalente Logístico. Em paralelo, estamos já a tratar da capacidade Aprofundando as ligações à comunidade civil, marca da integração
intrínseca de projecção de força em terra, através do reequipamento dos da Marinha no País;
Fuzileiros, dotando-os de viaturas tácticas anfíbias para que possamos Promovendo uma cultura do mérito, repercutindo o desempenho
utilizar na plenitude, se e onde for necessário, uma força de inegável no desenvolvimento da carreira, promovendo a diferenciação enquan-
valor e de indubitável utilidade face à dispersão do território nacional, to caminho de motivação, e reconhecendo a especificidade do pessoal
à imprevisibilidade e magnitude de fenómenos naturais nefastos e à embarcado e daquele que desempenha funções na primeira linha de
existência de Portugueses nas sete partidas do mundo. exigência operacional.
No que respeita às actuações de matriz jurisdicional, saliento o pro- São medidas de fortalecimento do potencial estratégico da Marinha,
jecto de construção dos oito Navios Patrulhas Oceânicos, dos quais dois pela valorização do factor humano, que só terão sucesso se sustenta-
na variante de Combate à Poluição, e das oito Lanchas de Fiscalização das numa cultura de liderança que, aos diferentes níveis, pugne pelo
Costeira. Infelizmente, a construção tem acumulado atrasos e não é ain- permanente sentido de missão, pela noção do dever, pelo orgulho de
da possível, com rigor, saber quando ocorrerá a entrega dos primeiros ser militar marinheiro, e pelo estrito cumprimento das nossas nor-
navios. Este é um desafio mas de funcionamento e
que teremos que vencer de disciplina. Disciplina
em nome das nossas tra- esta que é exclusiva da
dições na construção e re- hierarquia militar e que
paração naval. A Marinha na nossa forma muito
continua disponível para própria de estar, é uma
ajudar, como tem feito, disciplina consentida, a
e paciente na espera por disciplina do mar, aque-
um produto de qualida- la em que todos depen-
de, fundamental para ser- demos de todos.
vir o País nos próximos É na vivência diária
trinta anos. Tenho hoje o destes valores, que con-
grato prazer de anunciar seguiremos a coesão es-
que um destes navios to- sencial ao nosso sucesso
mará o nome de ”Ponta e que nos revelaremos
Delgada” em homenagem a esta terra que nos recebe. É um tributo merecedores do capital de confiança que o País em nós deposita.
que devemos aos Açorianos Ilustres Autoridades
Paralelamente, a Lei de Programação Militar também irá permitir Distintos convidados
reforçar o “Plano Mar Limpo”, para o combate à poluição, incluindo Não quero terminar sem relembrar que, na minha posse, tomei o
melhorias nas bases logísticas das Regiões Autónomas, designadamen- compromisso de preparar o futuro, honrando um passado secular de
te o reapetrechamento da base logística de Ponta Delgada e a eventual serviço a Portugal. Por isso, cumpre-me dar hoje, aqui e agora, testemu-
criação de bases logísticas no Faial e na Terceira. nho de que a nossa Marinha se tem cumprido, porque é e continuará
Mas o futuro passa, igualmente, pelo impulso reformador na orga- a lutar para continuar a ser:
nização do Estado e, no nosso caso, pelo processo de reestruturação da Relevante, pela competência;
estrutura superior da Defesa Nacional e das Forças Armadas. A Ma- Pronta, porque capaz de ser empregue quando e onde requerido;
rinha manter-se-á empenhada e actuante neste processo, sem visões Flexível, cumprindo a sua missão com inovação e capacidade de
sectárias ou corporativas, antes numa postura que privilegia as apro- adaptação, não ficando indiferente à mudança;
ximações cooperativas, solidárias e não dominantes, estabelecendo a Coesa, revendo-se os seus membros nos propósitos e na acção de co-
confiança essencial para que se potencie a mais valia do todo, em rela- mando, sustentada numa cultura muito própria e nos valores militares;
ção ao somatório das partes. Prestigiada, pelo reconhecimento da sua utilidade e eficácia, pelos
Não podemos deixar-nos tentar por opções teoricamente perfeitas nossos concidadãos e pelos aliados.
mas cuja operacionalização entalhe perturbações inultrapassáveis e São estes os princípios que nos orientam, para que, em estreita coo-
custos indirectos à partida desconhecidos, como por vezes acontece peração com outros departamentos do Estado com responsabilidades
quando a aparente e evidente virtualidade das reformas, não coincide no mar, reforçando a abertura e o aprofundamento das ligações à co-
com a ponderação cuidada das soluções. munidade civil, na afirmação duma inequívoca integração da Marinha
Senhor Ministro da Defesa Nacional no País, se concretize o desígnio estratégico do “bom uso do mar” em
A construção do futuro não será possível sem o envolvimento das benefício dos portugueses.
pessoas, pelo que considero indispensável garantir a coesão, a motiva- Todos temos orgulho naquilo que permanentemente concretizamos,
ção, a liderança e a disciplina. Estes são factores determinantes para o mas todos temos, também, que assumir frontalmente, que muito mais ha-
cumprimento das missões, mas cujo equilíbrio pode ser posto em causa verá a fazer. É esta a nossa motivação, é este o timbre dos Marinheiros!
por factores exógenos, para além da latitude de decisão da Marinha, e Pugnarei para que prossigamos, norteados pela cultura do serviço
que decorrem, por via de regra, da vontade de tratar de forma homo- público, habituados que estamos a colocar, sempre, os interesses do co-
génea aquilo que é diferente por natureza. lectivo nacional à frente dos interesses individuais ou corporativos.
Estamos conscientes das medidas de rigor necessárias para ultrapas- A Marinha reivindica para si, como sempre, tão só poder servir bem
sar as dificuldades financeiras do País e garantir o futuro. Mas também Portugal e os Portugueses. Por isso, o nosso rumo está traçado e visa,
reconhecemos que o posicionamento relativo dos militares na escala so- hoje, como ontem, muito para além do horizonte. Outra convicção não
cial dos servidores do Estado deve ser acautelado no sentido de assegu- posso ter “nesta vasta e tremenda singradura”!
rar que a Marinha represente, como deve, e é da norma democrática,
um corte representativo da sociedade em que se insere. Viva a Marinha! Viva Portugal! Z
Marinheiros, Fernando de Melo Gomes
Compete-me comandar a Marinha. À acção de comando é inerente Almirante
REVISTA DA ARMADA U JUNHO 2007 7