Page 35 - Revista da Armada
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Navios da República
2. O CRUZADOR “VASCO DA GAMA”
Construído em ferro, no estaleiro britânico “Thames Iron Works and de 13 para 14 de Abril, só debelada pela intervenção, na manhã de 14, do
Shipbuilding Company”, de Blackwall, foi lançado à água a 1 de Dezem- comandante do cruzador, Cap. m. g.Alfredo deAntas Ribeiro. Esta ocorrên-
bro de 1875. cia é a primeira do género, mais três sucederão a bordo até 1925.
Classificado como corveta couraçada destinava-se principalmente à de- Na noite de 27 para 28 de Dezembro de 1908 um violento terramoto
fesa do porto de Lisboa. Demandou, pela primeira vez, o Tejo a 15 de Ju- destrói a cidade de Messina. Portugal presta auxílio enviando a Itália o
lho de 1876. “Vasco da Gama”, que transporta mantimentos, roupa e medicamentos.
Chega a Messina a 11 de Janeiro de 1909 e larga a 20 rumo a Macau
Dispunha de propulsão mista, pois além de duas máquinas a vapor, que para a 2ª comissão no Extremo-Oriente. Durante a sua atribuição à Esta-
lhe conferiam a velocidade de 10 nós, possuía aparelho vélico do tipo lu- ção Naval de Macau, escala Xangai e depois Porto Artur, de 2 a 4 de Ju-
gre-escuna. lho de 1910, representando Portugal na abertura à navegação deste porto,
então japonês. Ainda no mês de Julho, de 22 a 24, uma força de desem-
Integrou o “Efectivo dos Navios da Armada” de 1875 a 1936, espaço de barque de 85 homens actua na Ilha de Coloane contra actos de pirataria.
tempo esse em que se podem considerar quatro períodos distintos. De regresso a Lisboa, visita pela primeira e única vez Timor. Em Batávia,
a actual Jacarta, a 6 de Outubro, toma conhecimento da implantação da
No 1º período é empenhado em missões nas águas do Norte de África, República e sucede que os holandeses, por ainda não reconhecerem o
escalando habitualmenteTânger e portos do Mediterrâneo, para protecção novo regime político português, não recebem os saques emitidos pelo na-
dos interesses portugueses perante os conflitos França/Tunísia e Itália/Marro- vio, o que leva a guarnição a ter de emprestar dinheiro do seu bolso para
cos. Efectua também uma viagem de instrução de alunos da Escola Naval,
visitando portos do Continente e Ilhas, e representa Portugal na Exposição a aquisição de carvão e de frescos. A
Universal de Barcelona de 1888. entrada no Tejo dá-se em Janeiro de
1911, após escalas em portos de Mo-
O 2º período é iniciado em repre- çambique, Angola e Cabo Verde.
sentação do país na inauguração do
canal de Kiel, missão que decorre de Começa então o 4º e último perío-
Maio a Agosto de 1895. Dá-se então do da história do navio.As missões são
em Goa a revolta dos maratas, o “Vas- habitualmente de curta duração e em
co da Gama” segue em Setembro para grande parte viagens de instrução de
a Índia e desembarca em Mormugão aspirantes da Escola Naval e exames
uma força de 46 homens. Em Janeiro de guarda-marinhas, na área do Con-
de 1896 regressa a Lisboa. tinente, Madeira e Açores. De 1912
a 1930 o navio efectuou 14 missões
É incorporado emAgosto na Divisão deste tipo. De referir que, quando da
Naval de Instrução que vai reforçar a Grande Guerra, o ataque alemão a
Estação Naval do Atlântico Sul, já que postos militares nas fronteiras sul de
havia notícias de pretensões alemãs à Angola e norte de Moçambique leva à necessidade de deslocação de
Baía dosTigres, missão esta que termi- forças para reforço da defesa das fronteiras, pelo que em Dezembro de
na em Maio de 97. 1914 e Janeiro de 15 o “Vasco da Gama” combóia navios de transpor-
te de tropas. Em Maio, quando do movimento revolucionário contra o
Em Junho e Julho efectua nova viagem de representação, desta vez a Lon- Governo do General Pimenta de Castro, outro incidente ocorre a bordo.
dres por ocasião do 60º aniversário da subida ao trono da RainhaVictória. Toma o comando do cruzador o Cap. frag. Leotte do Rego, oficial que
em 23 de Fevereiro de 16 superintende a requisição dos navios alemães
Era já um navio obsoleto em 1900 mas com casco e couraça em bom surtos no Tejo.
estado, pelo que foi modernizado nos estaleiros Fratelli Orlando de Livor- De destacar, em 8 de Janeiro de 1918, a revolta da guarnição do cruza-
no, para onde parte em Novembro de 1901. Em Dezembro de 1903, já dor que foi sufocada, tendo sido meritória a actuação do seu comandante,
classificado como cruzador, regressa a Lisboa. Cap. m. g. Augusto Newparth.
Em 7 de Julho de 1925 nova ocorrência a bordo, quando o navio é to-
O seu comprimento fora aumentado em cerca de 12 metros, ficando mado de assalto pelo Cap. frag. Mendes Cabeçadas Júnior, tendo a rebelião
com dois mastros em vez de três e duas chaminés, quando inicialmente terminado nesse próprio dia.
tinha uma. Em viagem de representação escala, em Maio de 1929, Sevilha e Barcelo-
na e em Outubro volta a este porto por ocasião da Exposição Internacional.
As suas principais características passaram a ser as seguintes: É a sua última viagem ao estrangeiro em representação de Portugal.
Deslocamento .................................................................... 3.030 toneladas Larga, pela derradeira vez, em Maio de 1930, com destino a Angola em
Comprimento fora a fora ........................................................ 71,30 metros missão de soberania, tendo visitado portos do Congo Belga e regressado a
Boca ........................................................................................ 12,28 “ Lisboa em Abril do ano seguinte.
Calado máximo ........................................................................ 5,56 “ Segue para osAçores e Madeira, emAbril de 1931, comboiando transpor-
tes de tropas para restabelecerem a ordem pública nos arquipélagos e refor-
O novo aparelho propulsor constava de duas máquinas alternativas de çar o dispositivo naval ali estacionado. Entra em Lisboa no mês seguinte.
vapor com a potência de 6.000 HP, que correspondia à velocidade de 15 A sua última viagem foi de instrução e treino da guarnição, durante os úl-
nós, tendo deixado de dispor de aparelho vélico. O armamento ficou a ser timos quinze dias do mês de Janeiro de 1933. Passa ao estado de completo
constituído por 2 peças Armstrong de 203 mm, 1 de 150 mm e outra de 76 desarmamento em Julho desse ano e é abatido ao “Efectivo dos Navios da
mm, 8 peças Hotchkiss de 47 mm, 4 metralhadoras Nordenfelt de 6,5 mm Armada” em 25 de Novembro de 1936.
e 2 tubos lança torpedos submersos.
J. L. Leiria Pinto
A guarnição era composta de 265 elementos (15 oficiais, 16 sargentos CALM
e 234 praças).
Inicia então o 3º período do seu historial durante o qual faz duas comis-
sões ao Extremo-Oriente.
Para a primeira, larga de Lisboa em Fevereiro de 1904, via Suez, chega
a Macau em Abril e, logo no mês seguinte, escala Xangai, presença que
termina em Julho. Visita depois portos do Norte da China e, em Janeiro de
1905, parte de Macau, aportando a Lisboa em Março. Neste 3º período é
de salientar a revolta da guarnição do cruzador D. Carlos I, em 8 de Abril
de 1906, que leva à insubordinação do “Vasco da Gama” na madrugada