Page 27 - Revista da Armada
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VIGIA DA HISTÓRIA                                                         22

Ainda em torno da Agulha Fixa
Em artigo anterior referimos a elaboração, em 1610, por João Bap-
      tista Lavanha, dum Regimento do que havia de fazer o piloto que     (que não seja dos nossos) onde entrarem e contratarem os holandeses,
      ia seguir para a Índia numa nau holandesa, é esse seguimento        o acolhimento que fizeram os moradores deles, e a correspondência e
que, pelo seu interesse, a seguir se transcreve:                          amizade que há entre uns e outros, se é nova ou antiga.

  “O piloto que se nomear para esta jornada, fará um particular rotei-      Entrando ou saindo pelo estreito da Sunda, tudo o que puder e o
ro, ao modo costumado, dia por dia, de toda a viagem, assim da ida        tempo se lhe der lugar e as informações, notará a sua largura, quantas
como da vinda.                                                            ilhas há nele, e de que tamanho, se são povoadas, de que gente, se ne-
                                                                          las há portos ou abrigos e de que ventos, se há água de ribeiros, fontes
  Nos dias em que fizer observação com as agulhas fixa e regular de       ou poços. Quantos canais fazem para entrar e sair pelo dito estreito, de
Luís Fonseca Coutinho que há-de levar, declarará nele as tais observa-    que largura de fundo é cada um, se todos vêm ajuntar-se em um só, ou
ções, como as fez, o que conheceu delas, e procurará de as fazer todos    se são outros, se poderão defender de nau, ou de mais sítios e de que
os dias, que como para elas não é necessário sol, nem estrelas, a todo o  parte, se nas ilhas ou na Java ou Sumatra.
tempo e hora as pode fazer. Não declarará aos holandeses o fim por-
que faz tais observações, nem o uso das agulhas fixa e regular, pois as     Considerará assim mesmo todas as correntes, se são sempre para a
pode fazer de noite à luz de uma candeia no seu camarote. Verá e no-      mesma parte, ou se variam com as monções, ou com as marés, e estas
tará com grande cuidado as derrotas que levam os holandeses, e os         até onde chegam, quanto tempo duram, assim na enchente como na
instrumentos que levam os holandeses, e os usos deles, não lhes co-       vazante e o mesmo notará com grande cuidado nos estreitos de Sabão
municando, nem mostrando por nenhum caso este das duas agulhas            de Singapura e no de Pale passando por qualquer delas, e de tudo o que
fixa e regular, que leva.                                                 assim notar nos portos e estreitos fará uma particular e distinta relação
                                                                          a esta Corte (quando voltar da viagem) ao Conselho de S. Magestade e
  Aportando na baía de Antão Gil que é na costa leste da ilha de S.       sabendo debuxar, ainda que mal, descreverá na mesma relação tudo o
Lourenço, ou na ilha de Sta Maria que está perto da dita baía, ou na      que vir e notar pelo modo dito, tanto dos portos como dos estreitos”.
ilha de Cirne, a que os holandeses chamam de Maurício, que são por-
tos onde eles costumam aportar nas suas viagens, notará com grande          Não foi possível apurar quem fosse o piloto nomeado nem tão pou-
vigilância o que puder, da grandeza e capacidade dos tais portos e sur-   co se a viagem se efectuou, o que se sabe é que o invento foi, pouco de-
gidouros, o fundo e qualidade dela, a conhecença de terra, segundo os     pois, totalmente posto de lado.
rumos porque se demandar, o que neles têm fabricado ou fortificado,
ou onde se poderá melhor fortificar para defesa da entrada do porto,                                                                                      
dos seus surgidouros e da aguada e o mesmo notará em qualquer outro                                                                 Com. E. Gomes

                                                                          Fonte:
                                                                          Man. 51-VII-II da Biblioteca da Ajuda

N.R.P. “João Coutinho”

40 Anos a servir a Marinha, com orgulho e dedicação
    ON.R.P. “João Coutinho”, em fase de apron-
                            tamento para mais uma missão à Zona           taxa de disponibilidade de 91%, deixando bem patente o esforço de
                            Marítima dos Açores, comemorou no pas-        todos quantos na Marinha, salientando-se o empenho e perseverança
                   sado dia 07 de Março o seu 40º aniversário ao ser-     da guarnição do N.R.P. “João Coutinho”, que no dia-a-dia asseguram
                   viço da Marinha.                                       a manutenção e operação desta Unidade Naval, requerendo perma-
                                                                          nentemente um esforço colectivo e coordenado.
                      O N.R.P. “João Coutinho” é o primeiro da série de
                   seis navios construídos, os três primeiros, nos esta-    De forma a marcar este evento, realizou-se a bordo do navio no
                   leiros Blohm & Voss naAlemanha e os restantes três     passado dia 05 de Março um almoço, presidido pelo Comandante
na empresa Nacional Bazan de Cons-                                        Naval tendo contado com a presença do CALM REF ECN Rogério
truções Navais Militares em Espanha,
segundo um projecto genuinamente                                                                            D’Oliveira, responsável pelo projec-
português, da autoria do Engenheiro                                                                         to desta classe de navios. Estiveram
Construtor Naval Rogério Silva Duar-                                                                        igualmente presentes o Comandante
te Geral D’Oliveira.                                                                                        da Flotilha, o Comandante da Esqua-
  No ano transacto, o navio realizou                                                                        drilha de Escoltas Oceânicos, o Chefe
diversas missões nos espaços maríti-                                                                        de Estado-Maior do Comando Naval
mos sob jurisdição nacional adjacen-                                                                        e o 2º Comandante da Esquadrilha de
tes ao território continental e na área                                                                     Escoltas Oceânicos.
de responsabilidade do comando
de Zona Marítima dos Açores tendo                                                                              O navio, à data, era comandado pelo
igualmente participado em alguns                                                                            CFR Paulo Jorge Oliveira Inácio, o seu
exercícios e eventos nacionais e inter-                                                                     vigésimo comandante desde que o
nacionais, realizando um total de 2036 horas de navegação e apresen-                                        navio entrou ao serviço na Marinha,
tando uma taxa de disponibilidade de 96,4%. No decurso do presente                                          sendo a sua guarnição constituída por
ano, o N.R.P. “João Coutinho” efectuou uma missão de apoio logísti-                                         7 oficiais, 13 sargentos e 50 praças e,
co ao N.R.P. “D. Franscisco de Almeida” (Den Helder), uma missão          aquando em missões à Zona Marítima dos Açores, reforçada por um
SAR e uma Avaliação de Padrões de Prontidão, sob a égide da Floti-        oficial Médico Naval, uma equipa de fuzileiros (um sargento e quatro
lha realizando, até à data, 317 horas de navegação e mantendo uma         praças) e uma equipa de mergulhadores (constituída por duas praças),
                                                                          totalizando 78 militares.

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                                                                                              (Com a colaboração do COMANDO DO N.R.P. “JOÃO COUTINHO”)

                                                                          Revista da aRmada • JUNHO 2010 27
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