Page 35 - Revista da Armada
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Navios da República

9. O AvisO de 2ª ClAsse “CinCO de OutubrO”

  Construído em 1899, segundo os planos de um cruzador inglês de                                   cação por parte do rei de um Conselho de Oficiais e de se ter tomado
2ª classe, nos estaleiros “Ramage & Fergunson” em Leith, na Escócia,                               conhecimento, no dia 8, que tinha sido proclamada e aceite a Repú-
serviu como iate de recreio com o nome de “Banshee”. Em 1901 foi                                   blica em todo o país, o rei e comitiva desembarcaram às 1145 h do
adquirido pelo rei D. Carlos para iate real, passando a denominar-se                               dia 9, tendo às 1500 h largado o navio rumo a Lisboa e amarrado à
“Amélia”, por troca com o quarto iate do mesmo nome.                                               bóia na Junqueira às 1600 h do dia 10 de Outubro.

  As suas características eram as seguintes:                                                         Ficou imobilizado até Setembro de 1911, data em que foi classifica-
Deslocamento................................................................1.365 toneladas        do como aviso de 2ª classe e tomado o nome de “Cinco de Outubro”.
Comprimento (fora a fora).................................................. 69,16 metros           Saiu para o mar a 28 de Setembro e até Dezembro de 1912 cumpriu
Boca ......................................................................................8,80 “  comissões nas costas do Continente, tendo em Abril desse ano efec-
Calado...................................................................................4,62 “    tuado um cruzeiro à Madeira.

  De aço, com duplo fundo, possuía duas máquinas alternativas de                                     Data de Dezembro a portaria em que são mandados preparar os re-
tríplice expansão com três cilindros, que lhe imprimiam a velocidade                               cursos em pessoal e material para que o aviso passe a efectuar hidro-
de 15 nós. Foi armado com 2 peças Hotchkiss de 47 mm e 4 de 37                                     grafia e oceanografia, já que se tornava indispensável rectificar com a
mm. A sua lotação inicial era de 125 homens.                                                       indispensável exactidão os planos hidrográficos da costa marítima de
                                                                                                   Portugal e a oceanografia do mar adjacente.
  Durante os 36 anos que prestou serviço, podem-se considerar três
períodos distintos. Iate real “Amélia” até à implantação da República,                               A partir de Janeiro de 1913, comandado pelo capitão-de-fragata en-
depois classificado aviso de 2ª classe e rebaptizado como “Cinco de                                genheiro hidrógrafo Hugo de Lacerda, passou a dedicar-se exclusiva-
Outubro” e finalmente, a par-
tir de 1913 até ao seu abate,                                                                                                                  mente ao serviço hidrográfico
utilizado em trabalhos hidro-                                                                                                                  no Continente e Arquipélago
gráficos, apesar de só ter sido                                                                                                                da Madeira e ocasionalmen-
classificado como navio hi-                                                                                                                    te no dos Açores, onde per-
drográfico em 1930.                                                                                                                            maneceu de Maio a Julho
                                                                                                                                               de 1917.
  Largou de Lisboa, pela
primeira vez com guarnição                                                                                                                        Em 6 de Dezembro de
portuguesa, em 6 de Novem-                                                                                                                     1917, por ocasião de um mo-
bro de 1901, indo fundear a                                                                                                                    vimento revolucionário che-
Cascais. Embarcando habi-                                                                                                                      fiado pelo major Sidónio Paes,
tualmente D. Carlos acompa-                                                                                                                    fundeou frente ao Terreiro do
nhado de diversas individua-                                                                                                                   Paço e, por ordem da Majo-
lidades o iate “Amélia”, após                                                                                                                  ria General da Armada, bom-
fabricos, em Março de 1902,                                                                                                                    bardeou a cidade de Lisboa,
praticou os portos de Setúbal                                                                                                                  conjuntamente com os cru-
e Sesimbra e em Maio os do Algarve, tendo efectuado sondagens e ou-                                                                            zadores “Vasco da Gama” e
tros trabalhos oceanográficos e hidrográficos, nomeadamente quando                                 “Gil Eanes” e o contratorpedeiro “Guadiana”. O movimento triunfou
da Campanha Oceanográfica no Algarve durante o mês de Agosto.                                      dando origem à denominada “República Nova”.
                                                                                                     O serviço hidrográfico foi interrompido quando, em 25 de Março
  Com membros da família real a bordo, de Fevereiro a Maio de 1903,                                de 1922, rumou às Canárias para, com base naquele arquipélago, dar
escalou portos espanhóis e franceses do Mediterrâneo. Além das ta-                                 apoio à 1ª Travessia Aérea Lisboa – Rio de Janeiro, tendo regressado a
refas de âmbito científico na costa portuguesa, visitas reais, cortesias                           5 de Maio, e mais tarde, de 30 de Julho a 29 de Agosto de 1925, ao
navais e presença em cerimónias e recepção a monarcas estrangeiros,                                ser integrado na Esquadrilha de Operações.
em 1903, 1905, 1906 e 1907, no mês de Agosto, fundeou em Lagos                                       A última cerimónia protocolar em que tomou parte aconteceu a 11
a fim de D. Carlos receber os cumprimentos da esquadra inglesa que                                 de Junho de 1925 quando conduziu a Cascais o Presidente da Repúbli-
habitualmente escalava aquele porto, ao terminar as manobras de Ve-                                ca, Manuel Teixeira Gomes, para este passar a revista à Divisão Naval
rão. De registar igualmente as idas a Génova, em Março de 1906, para                               Colonial, constituída pelo cruzador “República”, canhoneiras “Ibo”,
transportar material destinado à Exposição Internacional de Milão e em                             “Bengo” e “Beira” e transporte “Gil Eanes” que na ocasião tinha con-
Janeiro do ano seguinte para receber o dito material.                                              cluído o Périplo de África.
                                                                                                     Embora desde 1913, como referido, se dedicasse quase exclusiva-
  A sua última viagem ao estrangeiro, como iate real, foi a Sevilha, em                            mente ao serviço hidrográfico só foi classificado na respectiva classe
Março e Abril de 1907, levando como passageiros a rainha D. Amélia                                 em Maio de 1930, tendo a partir dessa data sido dado à Missão Hi-
e os príncipes D. Luís Filipe e D. Manuel.                                                         drográfica da Costa de Portugal até Junho de 1936, mês em que largou
                                                                                                   para o Funchal a fim de iniciar a Campanha Hidrográfica dos Arqui-
  Estava sob o comando do capitão-de-fragata João Agnelo Castelo                                   pélagos dos Açores e da Madeira.
Branco amarrado à bóia no Tejo frente à Junqueira, quando às 0130h                                   Regressou a Lisboa a 25 de Outubro sem ter terminado a missão,
da madrugada do dia 4 de Outubro de 1910 presenciou a revolta dos                                  devido ao seu mau estado de conservação.
cruzadores “S. Rafael” e “Adamastor”. Começava o movimento revo-                                     Em 14 de Janeiro de 1938 foi abatido ao Efectivo dos Navios da Ar-
lucionário que provocaria o fim da Monarquia em Portugal. A partir das                             mada o navio hidrográfico “Cinco de Outubro”, ex-aviso de 2ª classe
1330 h os cruzadores bombardearam o Paço das Necessidades tendo,                                   e ex-iate real que durante três décadas e meia efectuou prestimosos
perante a situação, o iate “Amélia” largado da bóia à meia-noite e fun-                            serviços, tendo tido uma participação histórica quando da queda do
deado em Cascais à 0130 h do dia 5 de Outubro, aguardando ordens                                   regime monárquico.
do rei. Depois de embarcar o infante D. Afonso, irmão do falecido rei
D. Carlos, navegou para a Ericeira tendo, naquela vila, às 1500 h                                                                                             J. L. Leiria Pinto
recebido a bordo o rei, as rainhas viúvas, D. Amélia e D. Maria Pia e
respectivas comitivas. Seguiu depois para Gibraltar onde às 1050 h do                                                                                                               CALM
dia 6 de Outubro amarrou a uma bóia no porto interior. Após convo-
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