Page 35 - Revista da Armada

Navios da República
10. A CAnhoneirA “PátriA”
Foi construída no Arsenal da Marinha, em Lisboa e paga pela Subs-
crição Nacional, motivada pelo Ultimato Inglês de 1890.
Aumentada ao Efectivo dos Navios da Armada em 27 de Dezem-
bro de 1903, as suas características eram as seguintes:
Deslocamento máximo.............................................. 636 toneladas
Comprimento (fora a fora)............................................60,00 metros
Boca............................................................................... 8,40 “ sos terem sido vencidos, o cap. ten. Júlio Milheiro, Comandante da
Calado ........................................................................... 2,56 “
Possuía duas máquinas de tríplice expansão debitando 1.890 HP
que correspondiam a uma velocidade máxima de 16,7 nós. Como
armamento tinha montadas 4 peças Schneider de 100 mm, 2 Ho-
tchkiss de 47 mm, 2 de 37 mm e uma metralhadora Nordenfelt de
6,5 mm.
A lotação era de 88 homens (7 oficiais, 16 sargentos e 65 praças).
Completado o período de adestramento largou de Lisboa em Ja-
neiro de 1905, sendo inicialmente atribuída à Divisão Naval do
Atlântico Sul onde se man-
teve, fazendo base em Luan-
da, até Julho. Rumou depois
ao Brasil tendo, de Agosto até
Maio do ano seguinte, esca-
lado os principais portos da-
quele país com o objectivo
de agradecer às comunida-
des portuguesas a sua con-
tribuição para a Subscrição
Nacional. Regressou a Lisboa
em Junho de 1906 e iniciou
grandes fabricos em Agos-
to desse ano. Em Agosto de
1908 deslocou-se a Málaga
e em Setembro aos Açores.
Em Outubro largava para o Extremo-Oriente, nunca mais tendo
regressado a Lisboa.
Fundeou em Macau em Janeiro de 1909 e até Junho de 1910 efec-
tuou várias saídas para missões em águas limítrofes daquele território,
cruzeiros de treino da guarnição e idas a Hong-Kong, para docagens
e pequenos fabricos.
Em Julho piratas chineses raptaram várias crianças, acoitaram-se na
ilha de Coloane e dali exigiram grandes resgates pelas suas vítimas. As
operações de resgate iniciaram-se a 12 desse mês, com o desembar-
que, a partir da lancha-canhoneira “Macau”, de elementos da polí-
cia naval local que, no dia 14 estiveram apoiados pela artilharia da
“Pátria”, tendo 40 homens da sua guarnição, de 16 a 21, integrado
as forças em terra. Igualmente forças de desembarque dos cruzadores
“Raínha D. Amélia” e “Vasco da Gama” participaram na acção. No
dia 19 de Julho de 1910 as crianças foram resgatadas e a 29 dadas
como terminadas as operações. Mais uma vez a Armada tinha contri-
buído decisivamente para levar de vencida a pirataria chinesa.
No final de 1911, no mês de Dezembro, em Timor, estalava uma
revolta no reino do Manufai que, instigada por interesses estrangei-
ros, assumiu tais proporções que se tornou incontrolável perante as
escassas forças militares disponíveis na colónia.
A “Pátria” foi então mobilizada para Timor, tendo chegado a Dili
em Janeiro de 1912 e logo desembarcado uma força para guarnecer
a cadeia da cidade. Em Fevereiro rumou a Surabaia onde adquiriu
mantimentos de que Timor necessitava urgentemente. No mês seguin-
te outro destacamento dos seus marinheiros, com uma metralhadora,
participou no cerco a Manufai, tendo o navio assegurado as comuni-
cações marítimas entre Dili e os vários portos da costa norte. Em fins
de Maio largou para o enclave do Oé-Cussi tendo desembarcado,
após prévio bombardeamento, tropas timorenses de 2ª linha e solda-
dos africanos. O navio foi na ocasião atingido, sem consequências de
maior, por fogo vindo de terra. No dia 30 de Março após os revolto-
“Pátria” içou a Bandeira Nacional em terra.
A canhoneira até ao fim de Maio escalou periodicamente o en-
clave, para apoiar a força desembarcada. Entretanto em Abril o cap.
ten. Gago Coutinho assumiu o comando, deslocando-se em Maio
à costa sul e sob sua directa orientação foram bombardeados, com
êxito, em tiro indirecto, os principais locais onde os revoltosos se ti-
nham refugiado. Em Junho e Julho um destacamento de marinheiros
desembarcou em Baucau para defesa da vila. O navio regressou a
Macau em Outubro de 1912
e nesse mesmo mês o rei de
Manufai entregou-se ao go-
vernador de Timor. A revolta
estava terminada!
A “Pátria” foi então atribuí-
da à Marinha Colonial, criada
em 31 de Outubro, ficando
subordinada ao Governo de
Macau nas tarefas de protec-
ção da frente marítima do ter-
ritório, apoio às missões ca-
tólicas no rio de Oeste e do
delta de Cantão, assim como
às comunidades portuguesas
residentes nas costas da China e de dissuasão a eventuais actos de
pirataria e contrabando.
Além destas missões de destacar as que a seguir se mencionam. Em
Julho de 1915, o transporte de 50 toneladas de mantimentos para o
porto chinês de Shin-Hing, vítima de grandes inundações. Uma via-
gem ao Japão, de Abril a Junho de 1922, com escalas em Nagasaqui
e Kobe. A ida a Xangai onde permaneceu em Setembro e Outubro de
1924, a fim de proteger os interesses portugueses quando da guerra
civil que deflagrara em Agosto. A presença em Cantão, em Junho de
1925, conduzindo um destacamento de 20 praças do Exército, com
duas metralhadoras, por ocasião de uma luta entre chineses que fez
perigar as comunidades de origem europeia ali residentes. Em Maio,
de 1926, recolha e transporte para Macau de dois aviadores espanhóis
que, partindo de Manila, não tinham conseguido aterrar em Macau. O
transporte de governadores de Macau de e para Hong-Kong, quando
das respectivas rendições ou em visita oficial àquele domínio inglês,
tornou-se uma das suas habituais missões.
Em 5 de Março de 1931, foi a canhoneira “Pátria” abatida ao
Efectivo dos Navios da Armada. Durante 23 anos, sem interrupção,
prestou serviço no Extremo-Oriente tendo constituído um símbolo
inesquecível da presença da Marinha Portuguesa em Macau. Pos-
teriormente foi incorporada na Marinha de Guerra da China com o
nome de “Fu-Yu”
J. L. Leiria Pinto
CALM