Page 35 - Revista da Armada
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Navios da República
14. LANCHA - CANHONEIRA “RIO MINHO”
Em 1905 os Anais do Clube Militar Naval publicaram vários ar- como homenagem àquele membro da Família Real recentemente
tigos da autoria do capitão-tenente Alfredo Howell, antigo coman- alistado na Escola Naval.
dante do vapor “Lidador”, encarregado do serviço de fiscalização na
costa norte com superintendência do rio Minho. Anova lancha, praticamente igual à da proposta apresentada pelo
comandante Howell, tinha as seguintes características:
No que respeita à situação naquele rio este oficial escreveu: A fis- Deslocamento ...................................................................38 toneladas
calisação da pesca no rio Minho, por parte de Portugal, exerce-se Comprimento entre perpendiculares ..............................24,6 metros
n’um percurso de 75 kilómetros, dos quaes proximamente 36 são na- Boca ......................................................................................4 “
vegáveis para lanchas canhoneiras de dois pés de calado, no genero Calado; na proa ...................................................................0,50 “
das que se teem empregado no serviço de polícia e fiscalização dos na popa .................................................................................0,70 “
rios das colónias .De Caldellas (8 kilometros a montante de Valença) Velocidade ............................................................................7.5 nós
até à confluência do rio Trancoso com o rio Minho (limite do nosso
dominio) tem este rio um desenvolvimento de 39 Kilometros com Possuía duas máquinas com um cilindro e uma caldeira, sis-
bastantes pesqueiras fixas, onde a fiscalização tem de ser feita pelas tema locomotiva que movimentavam duas rodas, uma a cada
margens, para o que presentemente existem três postos permanen- bordo. Estava armada com uma peça Hotchkiss de 37 mm e três
tes, estendendo-se actualmente a fiscalização d’estes postos desde metralhadoras de 6,5 mm. Dispunha de uma guarnição de 60
S. Gregorio até Valença, isto é n’um percurso de 47 Kilometros, o homens parte dos quais, cerca de 30, destinada a guarnecer os
que é demasiado só para postos de fiscalização da pesca.
tres postos, e portanto im-
proficua a fiscalisação, Lançada à água em
parecendo-me que quatro 28 de Novembro de
postos egualmente distan- 1905, foi em 5 de De-
ciados seriam os bastantes zembro, aumentada ao
para uma regular fiscali- Efectivo dos Navios da
sação a montante de Cal- Armada. No dia 9 largou
dellas, ficando o serviço de Lisboa, a reboque
a jusante a cargo de uma do “Bérrio”, tendo de-
lancha-canhoneira auxilia- mandado a barra do rio
da por um escaler a vapor, Minho a 15 de Dezem-
serviço que agora se faz bro. Até ao seu abate,
por terra com postos auxi- em 1948, permaneceu
liares em S. Pedro da Torre sempre no rio Minho,
e Cerveira, nos períodos de exceptuando um breve
maior actividade da pesca, período de fabricos em
exercendo a fiscalisação, Lisboa, de finais 1922 a
desde a barra até Seixas, os meados de 24.
escaleres a remos da lan-
cha Rio Minho, a qual sendo de vela, só em condições excepcionaes A “Infante D. Ma-
de vento pode subir o rio. nuel”, que por decreto
de 1910 passou a deno-
Salientando depois o estado da velha lancha à vela “Rio Minho”, minar-se “Rio Minho”, exerceu a fiscalização da foz até Valença,
lançada à água em 1881, afirmou: Pela sua incapacidade nautica e já que para montante o rio não era navegável. Ao longo do rio
militar, para o desempenho do serviço que lhe está confiado, desde estavam instalados postos de fiscalização da pesca guarnecidos
ha muito precisava ser eliminada da Lista dos Navios da Armada e por um cabo guarda-pescas (sargento ou cabo de manobra) e
substituida por uma lancha-canhoneira a vapôr, apropriada ao servi- 3 a 4 praças de marinhagem. No troço navegável, isto é da foz
ço de policia e fiscalisação da pesca no rio Minho, onde ha interesses até Valença, existiam os postos de Seixas, Cerveira e S. Pedro da
a considerar de subditos de duas nações limitrophes, havendo tam- Torre. Para montante os de Lapela, Valinha e Melgaço. Estes dois
bém um regulamento internacional a cumprir, o que não é possível últimos postos foram desactivados na década de 80 do século XX
fazer-se cabalmente com uma lancha de véla. Além de impropria e os restantes em 2000.
para o serviço que tem a desempenhar, a lancha Rio Minho acha- Fazendo base em Caminha a lancha navegava especialmente
-se em muito mau estado, impondo-se por estas duas causas a sua na época de Verão. A partir de 1940, não há notícia de qualquer
urgente substituição. movimento até ao seu abate.
Esteve em fabricos, conforme já referido, no Arsenal da Mari-
Finalmente, em anexo a um relatório datado de 1904 parcialmen- nha de Lisboa, de Novembro de 1922 a Outubro de 24, ocasião
te publicado nos Anais o comandante Howell, para substituir a “Rio em que substituiu a caldeira e de Outubro de 1933 a Junho de
Minho”, propõe: A lancha-canhoneira que julgo apropriada para o 34 permaneceu imobilizada em Caminha, tendo o seu aparelho
serviço de fiscalisação no rio Minho e cujos planos esbocei, tendo propulsor e máquinas auxiliares sido desmontados e posterior-
em vista o aproveitamento da machina da lancha-canhoneira Noqui, mente reparados em Lisboa.
e servindo-me de base a photographia junta da lancha Loge, que lhe De salientar que a Marinha Espanhola dispunha igualmente
era egual, e uns apontamentos tomados durante o exercício de com- de um navio, o vapor “Cabo Fradera”, na fiscalização do rio,
mando de lanchas canhoneiras d’este genero, apresentando no final tendo ao longo dos anos se mantido uma cordial relação entre
um resumo das dimensões e características principais do navio. as duas guarnições.
Em 14 de Dezembro de 1948, foi abatida ao efectivo a lancha-
Entretanto, aproveitando a parte residual da “Subscrição Patrió- -canhoneira ”Rio Minho”, a última unidade naval movida a ro-
tica” promovida entre a colónia portuguesa do Brasil que pagara a das que esteve ao serviço da Marinha Portuguesa no Continente.
canhoneira “Pátria”, a 7 de Setembro de 1904 no Arsenal da Mari-
nha, de Lisboa, foram iniciados os trabalhos de construção de uma J.L. Leiria Pinto
lancha-canhoneira que recebeu o nome de “Infante D. Manuel”, CALM