Page 35 - Revista da Armada
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Navios da República
15. O CRUZADOR “REPÚBLICA”
O primeiro navio de casco metálico construído no Arsenal da Marinha, Iniciou as comissões no Ultramar em Agosto de 1904, mês em que lar-
de Lisboa e simultaneamente o único cruzador feito em estaleiros nacionais, gou rumo a Angola integrando a Divisão Naval do Atlântico Sul. Durante a
foi lançado à água em Abril de 1899 e aumentado ao efectivo a 23 de Maio permanência em águas angolanas apoiou, de Setembro a Janeiro de 1905,
de 1901 com o nome de “Raínha D. Amélia”. O Engº francês Croneau, que a Campanha do Cuamato que tinha como objectivo tornar efectivo o do-
se fez acompanhar de uma equipa técnica, foi contratado para superior- mínio português entre os rios Cunene e Cubango. O navio, fundeado em
mente orientar a construção do cruzador, dando início, com a utilização do Moçâmedes, disponibilizou praças para, numa coluna militar, guarnecer
aço, a uma nova fase da construção naval em Portugal. duas metralhadoras Nordenfelt. A coluna, em 25 de Setembro, foi violen-
As suas características principais eram as seguintes: tamente atacada tendo sofrido avultadas baixas entre as quais se contou a
Deslocamento .................................................................................1.863 toneladas do 2º tenente João Roby. As praças do cruzador foram, após as operações
Comprimento (entre perpendiculares) ..........................................75 metros em terra, cooperar na defesa do forte “D. Amélia” nas Ganguelas. O navio
Boca ....................................................................................................11,80 “ deslocou-se a Benguela em Março de 1905 tendo no mês seguinte retor-
Calado ..................................................................................................4,47 “ nado a Lisboa.
Velocidade máxima ...........................................................................18 nós
Durante três anos esteve em fabricos após o que, em Julho de 1908,
Dispunha de duas máquinas verticais de tríplice expansão, for- levando a bordo aspirantes de Marinha do 1º e 2º cursos da Escola Naval,
necendo uma potência de 5.000 cavalos, com oito caldeiras aqui- largou para o Rio de Janeiro a fim de representar Portugal nas festas do cen-
tubulares, sendo utilizado o
carvão como combustível. As tenário da abertura dos portos do
máquinas e caldeiras foram Brasil ao comércio internacional.
construídas nos estaleiros fran- Escalou Baía, Pernambuco e o
ceses “Forges et Chantiers de la Pará e regressou em Outubro.
Mediterranée”. Estava armado
com quatro peças Schneider Deixou o porto de Lisboa em
Canet de 150 mm e duas de Novembro com destino ao Extre-
100 mm, duas peças Ho- mo-Oriente, via Suez, sendo em
tchkiss de 47 mm e duas de 37 Setembro de 1909 aumentado
mm, duas metralhadoras Nor- ao efectivo da Estação Naval de
denfelt de 6,5 mm instaladas Macau. Visitou o Japão de Abril
nas gáveas, uma em cada mas- a Maio de 1910, praticando os
tro e dois tubos lança-torpedos portos de Yokohama, Kobe, Obe
Whithead de 355 mm. Wau e Nagasaqui. A fim de neu-
tralizar piratas que, instalados na
A sua guarnição inicial compreendia 273 homens (22 oficiais, 23 sar- ilha de Coloane, tinham raptado
gentos e 228 praças). crianças chinesas e igualmente afirmar a soberania portuguesa naquela
Em Junho de 1901 largou de Lisboa integrado numa divisão naval que con- ilha fronteira a Macau, em Julho e Agosto o cruzador, numa operação em
duziu o Rei D. Carlos e a Raínha D. Amélia na visita aos arquipélagos da que também participaram a lancha canhoneira “Macau” e a canhoneira
Madeira e dos Açores. Escalou Porto Santo, Funchal, Santa Maria, Horta, “Pátria”, desembarcou 150 homens da sua guarnição, sendo conseguida a
Angra e Ponta Delgada, tendo demandado a barra do Tejo em Julho. captura dos piratas e o resgate das crianças.
Durante o mês de Agosto, fazendo parte da Divisão Naval de Instrução, O cruzador “Raínha D. Amélia” encontrava-se em fabricos em Hong
participou em exercícios ao longo da costa tendo fundeado em Leixões, Kong quando da implantação da República em Portugal, passando em 5 de
Cascais e Lagos. Dezembro de 1910 a denominar-se “República”. Saíu de Macau em Abril
de 1911 e entrou no rio Tejo em Junho. Nesse mês de Junho e em Julho co-
Em Junho de 1902, levando a bordo o Princípe Real D. Luís Filipe, lar- operou na repressão ao movimento revolucionário monárquico do Norte,
gou para Inglaterra a fim de participar, representando Portugal, na Revista tendo fundeado no Porto.
Naval em Spithead, comemorativa da coroação do rei Eduardo VII. Largou em Novembro rumo aos Estados Unidos da América para tomar
As habituais manobras de Verão realizaram-se em Setembro e Outubro, parte nas cerimónias de inauguração da ponte de Key-West, na Flórida. Es-
tendo além de tiros de artilharia o cruzador efectuado o lançamento de um calou à ida Las Palmas, S. Vicente de Cabo Verde, o porto brasileiro de Pará
torpedo de exercício. e Port of Spain, na ilha Trinidá e no regresso, Nova York, Horta, Boston, Brest
e Havre onde reparou a artilharia. Regressou a Lisboa em Abril de 1912.
Em 3 de Outubro de 1902 fundeou em Belém para participar na inaugu- Sofreu fabricos de Maio de 1912 a Junho de 15, mês em que foi in-
ração da estátua de Afonso de Albuquerque. tegrado na Divisão Naval de Defesa e Instrução. Vindo de Lagos e rumo
Depois de no mês de Janeiro de 1903, ter ido a Tânger e a Gibraltar, em ao Norte, em 5 de Agosto de 1915, pelas 1915, debaixo de um intenso
Abril, conjuntamente com os cruzadores “D. Carlos I” e “Adamastor”, pres- nevoeiro encalhou na Consolação perto de Peniche. Apesar de várias ten-
tou honras, frente a Cascais, ao iate real inglês onde se encontrava embar- tativas de desencalhe, em que se destacou o vapor “Bérrio”, o salvamento
cado o Rei Eduardo VII. Ainda no mês de Abril transportou para Porto Santo não foi conseguido, tendo por esse facto o cruzador “República”, em 20
uma centena de elementos do Exército que se tinham revoltado e em Junho de Agosto de 1915, sido abatido ao efectivo.
rumou para o Porto a fim de auxiliar as autoridades na repressão de uma
greve que tinha ocorrido naquela cidade. J.L. Leiria Pinto
Anualmente fundeava em Cascais a fim de prestar honras ao Rei D. Car- CALM
los, quando do seu aniversário natalício a 28 de Setembro.