Page 35 - Revista da Armada
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Navios Hidrográficos
5. O VAPOR GENERAL SILVÉRIO
Ao tempo em que na Costa de Portugal os trabalhos ocea- Neste navio esteve embarcado desde 6 de Julho de 1904 o
nográficos se realizavam com recurso aos iates “Amélia” havia então 2º tenente Sacadura Cabral, um dos pioneiros da Aviação
necessidade de igualmente se proceder a estudos hidrográficos Portuguesa, que assumiu o comando do vapor em 6 de Junho
nos territórios ultramarinos pelo que era imprescindível, a fim de 1905. Também o 1º tenente Almeida Carvalho apresentou-se
de evitar demoradas deslocações, dispor para o efeito de meios a bordo em 3 de Julho, tendo mais tarde, nos anos cinquenta,
navais ali regularmente localizados, sido dado o seu nome a um navio hidrográfico da Armada.
Em 1 de Junho de 1904 o vapor “General Silvério”, que se en- Apesar de se encontrar ao serviço da Marinha desde Março
contrava em funções no âmbito da Repartição das Obras Públi- de 1904, a situação do navio permaneceu de certo modo in-
cas de Lourenço Marques, passou ao serviço da Marinha para definida até que em 8 de Outubro de 1906 o seu Comandante
a realização de trabalhos hidrográficos. Tratava-se de um navio dirigiu-se ao Comandante da Divisão Naval do Índico, nos se-
que tinha participado nos trabalhos de construção do Farol de guintes termos: O Comandante e os dois tenentes (constantes das
Cockburn, situado na baía do porto de Lourenço Marques e partes semanaes) da guarnição d’este vapor, apresentaram-se na Se-
inaugurado em 1 de Janeiro de 1901. cretaria Militar do Governo do Distrito de Quelimane após o conhe-
cimento do decreto em que os transferiam para o serviço do Ultramar.
Deve o vapor “General Silvério” o seu nome ao ilustre En- O Commandante foi por decreto exonerado do comando do Berrio
genheiro Silvério Augusto Pereira da Silva, nascido em Lisboa
a 3 de Janeiro de 1827 a fim de desempenhar o
que, entre outras fun- logar de chefe da missão
ções, foi director das hydrographica de Queli-
obras da Barra de mane ou melhor, da mis-
Aveiro. Pertencia à são de estudos da barra
Arma de Engenharia, rio e porto de Quelimane
tendo desenvolvido sendo por determinação
uma intensa activi- de Sua Excellência o
dade no domínio das Ministro nomeado para
obras hidráulicas, o comando do vapor Sil-
construção de estradas, pontes e caminhos-de-ferro, tendo sido verio. Os dois tenentes apresentaram-se no vapor com guia da Divi-
o primeiro engenheiro português a aplicar o betão na constru- são Naval e por determinação superior foram dados egualmente ao
ção dos arcos das pontes. A ele se deve a edificação da Capela serviço da missão. O vapor que estava abandonado em Inhambane,
de Nossa Senhora dos Navegantes, no Forte da Barra da Gafa- armou-se por conta e despesa da Província expressamente para este
nha da Nazaré, Concelho de Ílhavo. Em 1897, foi promovido a serviço da missão, sendo a Divisão Naval quem tem fornecido o
General de Divisão e, no ano seguinte, dispensado temporaria- destacamento de marinha que tem tripulado o mesmo vapor. Parece
mente do serviço a fim de prestar uma comissão de serviço no que nunca ficou defenido se o navio estava incorporado nas forças
Ministério da Marinha. Faleceu em Lisboa a 5 de Abril de 1910. da Divisão Naval, ou se declaradamente era um navio dependente
da Província, onde expressamente tem prestado serviço e para cujo
De acordo com documentação avulsa existente no Arquivo fim armou, ficando apenas dependente da Divisão o fornecimento
Histórico Geral de Marinha: Em Março de 1904 determinou S. Exª e disciplina do pessoal que o guarnece. Depois de pôr em eviden-
o Ministro em destacar 3 officiaes da Divisão Naval do Índico para cia estes factos e notando que o destacamento do Corpo de Mari-
bordo do vapor “General Silvério”, para os estudos acima menciona- nheiros continua sob a imediata dependência da Divisão, pede este
dos, passando à Divisão Naval aquelle vapôr, que então passaria a fazer commando lhe seja defenida a sua situação perante a Divisão, e dos
serviço na Província de Moçambique. Estes officiaes continuariam a tenentes e a relação entre elles e o commandante com as praças sob
vencer todos os abonos e a contar tirocínio, como se prestassem à divi- o ponto de vista disciplinar e outros que se prendem com esta situ-
são, além da gratificação que pela província lhes era abonada. ação anormal. Este pedido mereceu da parte do Comando da
Divisão Naval do Índico o seguinte despacho: Está conforme.
Em nota recebida pela Majoria General da Armada em 26 de Como navio hidrográfico, o “General Silvério” foi utilizado
Maio de 1904, a Direcção Geral da Marinha transmitiu o seguin- sobretudo na região de Quelimane. Iniciou a sua actividade hi-
te: Comunica-se que S. Excia o Ministro em seu despacho de 25 do cor- drográfica em 19 de Junho de 1904, tendo largado desta locali-
rente, determinou que o vapor General Silvério seja considerado per- dade, feito escala na Ilha Pequena e no baixo Nilha e regressado
tencente à Divisão Naval do Índico durante todo o tempo que estiver no a 1 de Julho. Continuou a prestar apoio à Missão Hidrográfica
serviço hydrographico de Quelimane, legalisando assim a contagem do de Quelimane até 18 de Maio de 1908, data em que se consi-
tempo de serviço dos oficiaes e praças da guarnição, e facilitando o (…) derou não reunir condições para continuar a ser utilizado nos
dos fornecimentos de bordo, devendo ser nomeado pelo Commandante trabalhos hidrográficos.
da Divisão Naval o primeiro tenente Jaime Aurélio Wills d’Araujo, Apesar de terem existido antes outros navios que foram uti-
chefe da Missão, Commandante do mesmo navio. Finda a Commissão lizados na realização de trabalhos hidrográficos nos territórios
de hydrographia deve passar o vapor novamente à Província. ultramarinos, como sucedeu com a canhoneira “Tavira” ou o
vapor “Salvador Correia”, foi o “General Silvério” o primeiro
Os trabalhos de hidrografia a bordo do vapor exigiam da parte navio a ser devidamente equipado com a finalidade de prestar
do pessoal da Missão redobrados sacrifícios e exigências. Em 10 de apoio às missões hidrográficas.
Setembro de 1904, o seu Comandante enviou ao Comando da Es-
quadrilha do Zambeze uma nota na qual dava conta do seguinte: Colaboração do INSTITUTO HIDROGRÁFICO
N’este navio, onde o serviço é bastante e especial como por exemplo para
as praças o das observações de marés, convém (…) que não só saibam ler e
escrever como sejam (…) de 1ª ou 2ª classe de comportamento…