Page 35 - Revista da Armada
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Navios Hidrográficos
14. O Navio Hidrográfico Mandovi
O Mandovi era uma canhoneira da classe “Beira” construí planos hidrográficos, em várias escalas, referentes aos por
da no Arsenal da Marinha, em Lisboa, lançada à água em 8 tos de Bissau, Bubaque, Bolama, rio Cacheu, rio Grande de
de Junho de 1918 e aumentada ao Efetivo dos Navios da Ar Buba, canal do Geba e baías de Caió, Injante e Escaramuça.
mada a 19 desse mês. Durante o mesmo período foi também efetuado o levanta
mento cartográfico de todo o território através de processos
Possuía as seguintes características: aéreofotogramétricos realizados pela Aviação Naval.
Deslocamento máximo.................................... 492 toneladas
Comprimento (fora a fora) ............................. 44,80 metros Ainda, na obra atrás citada, o Comandante Crespo refere
Boca.................................................................... 8,30 “ as dificuldades que enfrentaram para levar a bom termo a
Calado ............................................................... 2,10 “ sua missão na Guiné: A geodesia e os levantamentos topográficos
Velocidade ........................................................ 13 nós e hidrográficos da Guiné sempre foram considerados como proble-
Dispunha de duas máquinas alternativas de tríplice expan mas técnicos de difícil solução.
são com a potência de 700 cavalos e duas caldeiras cilíndricas
Yarrow, utilizando carvão como combustível. A geodesia e a cartografia teriam de ser executadas numa região
Estava armada com quase plana, coberta de densa e alta vegetação, cruzada por nu-
duas peças Armstrong
de 75 mm, duas de 47 merosos cursos de água e
mm e duas metralha com uma zona insular de
doras Nordenfelt. A algumas centenas de ilhas
sua lotação inicial era e ilhéus.
de 67 homens.
Enquanto canhonei A hidrografia parecia
ra, além de ter presta reunir todas as circuns-
do, maioritariamente, tâncias desfavoráveis a
apoio à fiscalização da um trabalho cómodo e
pesca na costa conti agradável: profundidades
nental portuguesa, durante os nos anos de 1919 e 1920 fez muito pequenas e distri-
várias comissões aos Açores. buídas irregularmente
Em Outubro de 1946 foi classificada como Navio Hidrográ nos canais, nos rios e ao
fico, após o que recebeu algumas transformações e equipa largo da costa marítima; correntes de marés muito fortes; marés
mentos, ficando no início de 1948 pronta para desempenhar variando rapidamente em tempo e em amplitude; dificuldade de
missões no âmbito de Missão Geo-hidrográfica da Guiné. operar o navio hidrográfico, com relativa segurança; margens di-
A Guiné constitui um território com uma orografia muito fíceis de sinalizar e com grandes zonas de lodo que dificultavam o
peculiar, atravessado por uma profusa rede de rios e canais, desembarque do material e do pessoal; má visibilidade; más condi-
o que aconselhava à subordinação dos trabalhos de hidro ções de mar para sondar em pequenas embarcações.
grafia e geodesia sob uma direção única, o que veio a suce Nestes últimos sete anos concluiu-se praticamente toda a geode-
der, após perto de três décadas de paragem dos trabalhos sia; realizou-se mais de metade da hidrografia, abrangendo todas
de hidrografia, com a constituição, em 14 de Abril de 1944, as zonas que interessam à navegação que presentemente escala os
a Missão Geo-hidrografia da Guiné. portos da Província; concluíram-se 30 folhas da carta topográfica.
Coube ao então Primeiro-tenente Manuel Pereira Crespo E conclui: O levantamento Geo-hidrográfico da Guiné Portu-
a incumbência de chefiar a Missão e, algum tempo depois, guesa é, em última análise, mais um serviço da Armada Nacional
o comando do Mandovi, tendo sido o seu único comandan no Ultramar Português.
te enquanto navio hidrográfico. No seu livro “Trabalhos da O trabalho então concretizado foi de extrema importân
Missão Geo-hidrográfica da Guiné (1948-1955)”, publicado cia para a atualização da informação, uma vez que a mesma
em 1955 pelo Centro de Estudos da Guiné Portuguesa, o Co vinha sendo feito por entidades estrangeiras e limitava-se
mandante Crespo refere-se ao Mandovi como sendo um navio a reproduzir informações desatualizadas, sendo motivo de
cuidadosamente preparado e adaptado para o serviço hidrográfico inúmeros acidentes marítimos que originavam o encalhe e
que desde há sete anos opera ininterruptamente nas águas da Guiné. não raras vezes a irremediável perda de navios.
Em virtude das dificuldades do Ministério da Marinha em Ao N.H. Mandovi e à própria Missão, encontra-se associado
dispensar pessoal, a guarnição do Mandovi encontrava-se re de forma indelével o nome do Comandante Manuel Pereira
duzida ao estritamente indispensável, apoiando-se a Missão Crespo. Em 1956, sob a sua chefia, as atividades hidrográ
no recrutamento de nativos, maioritariamente de etnia Man ficas realizadas pela Missão Geo-hidrográfica da Guiné ad
jaca, para funções auxiliares. quiriram tal amplitude e importância que levaram o Gover
Entre os trabalhos em que o navio participou desde Feve no Francês a condecorá-lo com o grau de Oficial da Ordem
reiro de 1948, data da sua chegada a Bissau, destaque-se os da Legião de Honra.
levantamentos hidrográficos que cobriram toda a área cos Em 5 de Dezembro de 1956 o N.H. Mandovi, após oito
teira da Guiné, barras e entradas dos principais portos, rios anos de valiosos trabalhos, que viriam a revelar-se de enor
e canais navegáveis, correspondendo à publicação de seis me utilidade no planeamento de operações militares ocorri
cartas náuticas à escala 1:80.000. Foram ainda produzidos das na Guiné entre 1963/74, foi abatido ao Efetivo dos Na
vios da Armada.
Colaboração do INSTITUTO HIDROGRÁFICO