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queixas sobre a sua possível crueldade quan- de 18 de Abril de 1925 da qual resultou a sua delino de Figueiredo, Director da Biblioteca
do de um episódio da Guerra do Manufai em prisão, que terminou em Setembro após jul- Nacional), tinha como objectivo aumentar
que perdeu a vida um número muito signifi- gamento em Tribunal Militar, reunido na Sala o poder autoritário do regime. Derrotado o
cativo de timorenses.Após esclarecida a situa- do Risco doArsenal da Marinha, onde foi ab- Golpe o Comandante Filomeno da Câmara
ção, a intriga política estava no seu apogeu, foi solvido. É então eleito deputado pelo círculo foi desterrado para S. Tomé, transitando na
reconfirmado no cargo de governador, tendo eleitoral da Ponta Delgada, incluído na lista mesma situação, em Março do ano seguinte,
regressado ao território em Fevereiro de 1914. do Partido Nacional Republicano. para Ponta Delgada.
Além da intervenção na Guer- As alterações na política por-
ra do Manufai a sua acção foi no- tuguesa eram sucessivas e assim
tória em várias áreas da gover- terminou o seu exílio, em Junho
nação, especialmente no âmbito de 1928, sendo nomeado, em
do fomento agrícola, a única ac- Novembro, Alto-Comissário e
tividade com algum relevo em Governador-Geral de Angola e
Timor e no desenvolvimento em Março de 1929 promovido
dos transportes e das rodovias. a capitão-de-mar-e-guerra. Pe-
Igualmente durante o seu go- rante a instabilidade política en-
verno foi aberta em Díli uma tão vivida em terras angolanas a
agência do Banco Nacional Ul- sua governação foi exercida com
tramarino que passou a apoiar firmeza e autoritarismo, situação
a vida económica local, criada e que propiciou a reacção do Co-
primeira Escola de Artes e Ofí- mando Militar local contra aAd-
cios e iniciada à exploração de ministração Pública de Angola,
jazidas petrolíferas. concretizada na revolta que, em
Quando em Setembro de 1917, 20 de Março de 1930, eclodiu em
tinha entretanto sido promovido Luanda. Foi chamado a Lisboa
a capitão-tenente em Junho de e demitido de governador em
1915, terminou o seu governo, o Tribunal Militar – Sessão realizada na Sala do Risco do Arsenal da Marinha, 1925. Abril, já que se tornava urgen-
Comandante Filomeno Câmara deixou Timor Implicado no Movimento do 28 de Maio te optar por uma política de apaziguamento
em paz interna que só seria interrompida du- de 1926 será um elo de ligação dos suble- no território.
rante a ocupação japonesa (1942-1945) e mais vados com o General Gomes da Costa que Entretanto o Estado Novo ia-se consolidan-
tarde a partir de 1974. Promovido a capitão- tinha iniciado o Movimento em Braga. Na do e por esse motivo os movimentos revo-
-de-fragata em Maio de 1918, foi em Setembro sequência da vitória do 28 de Maio exerceu lucionários e os golpes políticos foram dimi-
nomeado Governador Geral de Angola, nuindo. O seu intervencionismo político,
cargo que exerceu por um curto período. que praticamente tinha durado desde a
A morte do Presidente Sidónio Paes, de implantação da República, terminou com
quem era apoiante, provocou mudanças a nomeação, em Maio de 1930, para o car-
na política governamental o que levou à go de Director dos Serviços Marítimos do
sua exoneração em Março de 1919. Arsenal da Marinha. Começava o ciclo fi-
Após nove anos de governos ultrama- nal da sua carreira naval.
rinos voltou, a partir de Junho de 1919, Exerceu o seu último comando no mar
à Marinha para prestar serviço na Supe- de 18 de Agosto a 6 de Outubro de1931,
rintendência da Base Naval de Lisboa e período em que desempenhou o cargo de
no comando do cruzador S. Gabriel. De Comandante de Flotilha Ligeira de Exer-
Setembro de 1920 a Junho de 1922 este- cícios, durante o qual foi graduado em co-
ve destacado na Companhia de Moçam- modoro. Em Setembro de 1931 assumiu
bique, tendo retornado à Marinha em as funções de Subchefe de Estado Maior
Janeiro de 1923 como Chefe de Repar- Naval e de Vogal da Comissão Técnica
tição do Pessoal. Em Maio foi nomeado de Educação Física da Armada. Fez par-
Comandante do contratorpedeiro Tejo e te em 1932 de uma Comissão relacionada
em Julho de 1924, designado para Capi- com a Conferência do Desarmamento e
tão do Porto de Caminha. de outra constituída para estudar a futu-
Entretanto a I República entrava em ra instalação do Centro deAviação Naval
declínio, a instabilidade política era uma de Lisboa. A sua derradeira nomeação
constante e por consequência os movi- data de Agosto de 1933 para exercer in-
mentos insurreccionais sucediam-se. O terinamente o cargo de Chefe do Estado-
comandante Filomeno da Câmara, per- -Maior Naval.
tencente à ala republicana mais conserva- Em 27 de Janeiro de 1934 falecia em Lis-
dora, tornou-se um activista político, es- boa o Capitão-de-mar-e-guerra Filomeno
pecialmente como dirigente da Cruzada da Câmara Melo Cabral que durante a sua
Nun’Alvares, movimento que, perante Filomeno da Câmara – Capitão-de-fragata. longa e variada carreira de quatro décadas
uma situação que se ia deteriorando, conse- o cargo de Ministro das Finanças entre 19 de e meia comandou navios, governou Timor e
guiu algum destaque e intervenção. Iniciou Junho e 9 de Julho de 1926. No mês seguinte Angola, administrou a Companhia de Mo-
então um período de quatro anos em que passou à Direcção Geral das Colónias e vol- çambique, interveio activamente na política,
apoiou e por vezes promoveu diversas to- tou à Companhia de Moçambique até Maio liderando alguns movimentos insurreccionais
madas de posição política contra o Governo. de 1927. Regressado a Lisboa envolveu-se e finalmente desempenhou os mais elevados
Logo em Agosto de 1924 foi julgado por ac- novamente na política ao dirigir uma inten- cargos no Estado Maior Naval.
tividades conspirativas, sendo posteriormente tona contra o Governo de Ditadura Militar.
absolvido. Liderou, acompanhado de Raul Esta revolta, que ficou conhecida pelo Golpe José Luís Leiria Pinto
Esteves e de Sinel de Cordes, a Revolução dos Fifis (por nele também ter participado Fi- CALM
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