Page 10 - Revista da Armada
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do Estado-maior da Armada, na sua        e generosidade por parte dos nossos       terra, fruto do aumento da instabilida-
visão de uma marinha abrangente e        Fuzileiros, verificamos a tendência       de e dos interesses que ali se iam de-
multidisciplinar, com capacidade de      crescente no emprego desta força em       senvolvendo. Resultante da ênfase que
poder atuar em ambientes ribeirinhos     tarefas que não seguem rigorosamente      esta abordagem ganhou nos últimos
e contribuir para um esforço de con-     a mesma linha de hereditariedade dos      anos, surgiu a necessidade de diferen-
tra-insurreição que emergia nas Pro-     nossos antepassados. Reconhecendo         ciar o emprego das marinhas nesses vá-
víncias Ultramarinas, propõe recriar     que, como referiu Charles Darwin na       rios espaços, como as “blue”, “green”
os Fuzileiros conferindo-lhes o lugar    sua abordagem teórica sobre a evo-        e “brown waters navy”. O combate no
que a Marinha necessitava para refor-    lução das espécies, “é a espécie que      litoral para as marinhas, ganhou assim
çar a sua capacidade expedicionária e    melhor se consegue adaptar à mudan-       uma nova abertura que foi acompanha-
de combate em terra, fazendo assim, e    ça aquela que sobrevive” e que a re-      da pelo desenvolvimento de um conceito
também, parte da
solução naqueles                         siliência é essencial em qualquer pro-                             inovador, o sea-
territórios. Com o                       cesso transformacional, não é menos                                basing. A constru-
fim da guerra em                         evidente que a polivalência que hoje                               ção de unidades
África, em 1974,                         caracteriza os Fuzileiros e a constan-                             navais específicas
verificou-se uma                         te degradação de efetivos nas suas fi-                             para operar junto
nova reestrutura-                        leiras contribuem significativamente                               a costa e a criação
ção das unidades                         para a descaracterização desta força,                              de forças projetá-
de Fuzileiros que                        retirando-lhes a natureza especial que                             veis para operar
é acompanhada                            há muitos séculos atrás, e por direito                             em terra são outros
por uma redução                          próprio, adquiriam.                                                desígnios que as
de mais de cin-                                                                                             marinhas moder-
quenta por cento                         NOVOS DESAFIOS                                                     nas, que não só as
dos seus efetivos                                                                                           mais poderosas ou
e pela adoção de                          A teorização do poder naval, confor-                              as mais ricas, hoje
um novo concei-                          me preconizado pelo estrategista e al-                             se encontram a de-
to de emprego                            mirante americano Alfred Mahan, nos                                senvolver. É neste
orientado para                           finais do século XIX, que assentava na                             ambiente de mu-
a capacidade de                          centralidade do mar e na capacidade                                dança e de desafio
projeção de for-                         de obter o comando do mar, viu sur-                                permanente que os
ça nacional bem                          gir mais tarde uma sucessão de estudos                             Fuzileiros portu-
como para outros                         com diferentes dimensões e áreas geo-                              gueses se devem
requisitos defini-                       gráficas específicas daquele ambiente,                             concentrar, pois
dos pela Aliança                         dando origem às várias disciplinas da                              nelas residem as
Atlântica, de que                        guerra naval. Por outro lado, as cons-                             verdadeiras opor-
Portugal é membro fundador.              tantes alterações no ambiente geoestra-                            tunidades que não
                                         tégico com o final da guerra fria e o     devem ser desperdiçadas.
O FUZILEIRO DE HOJE                      aparecimento de novos atores não es-       A história de Portugal revela-nos a
                                         tatais na cena internacional, bem como    existência de vários períodos de con-
 Hoje, os Fuzileiros constituem um       a concentração da população mundial       turbada adversidade, marcados por
dos principais elementos da compo-       junto à costa litoral vieram despertar o  decisões complexas e por opções con-
nente operacional da Marinha e in-       interesse das marinhas em concentrar      troversas que apenas o tempo conse-
tegram, também, o sistema de forças      o seu esforço num novo espaço junto a     guiu validar. Os Fuzileiros, ao longo
nacional dando assim cumprimento                                                   destes quase quatrocentos anos de
a um diferenciado número de tarefas,                                               história, sempre souberam enfrentar
desde as mais desafiantes e complexas                                              esses tempos difíceis como uma atitu-
às mais simples e rotineiras, percor-                                              de bastante proativa e sempre contri-
rendo um vastíssimo espetro de mis-                                                buíram para uma solução equilibrada,
sões; para além da sua participação                                                ultrapassando os obstáculos com a
nos vários contingentes nacionais e                                                persistência e a tenacidade que ca-
dos embarques nos navios da esqua-                                                 racterizam o combatente em terra, por
dra, em operações que ocorrem nos                                                  um lado, e, com a arte de bem-fazer
mais mediáticos e perigosos teatros de                                             que a cultura naval lhes concedeu, por
operações da atualidade – justifican-                                              outro. Esta simbiose de características
do, assim, o rigoroso treino e a prepa-                                            é, efetivamente, única em Portugal e
ração que lhes é exigida - às mais sim-                                            só encontra semelhanças em outras
ples missões de reforço de segurança,                                              forças congéneres cujas marinhas ain-
vigilância, policiamento, protocolo e                                              da mantêm a ambição de assegurar a
cerimonial, este Corpo de elite procu-                                             capacidade de projeção de força, com
ra manter a sua cultura expedicioná-                                               base num conceito expedicionário e
ria e a prontidão que atrás referimos.                                             numa estratégia nacional que faça o
Conscientes de que a dignidade e a                                                 uso do mar como vetor para influen-
nobreza das missões não residem ape-                                               ciar as decisões em todos os demais
nas no tipo de tarefa que é atribuída                                              ambientes e dimensões.
mas também na forma e na excelência
como são executadas, e que têm vin-                                                         Colaboração do COMANDO DO
do a ser cumpridas com elevado brio                                                                   CORPO DE FUZILEIROS

                                                                                       REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2013 9
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