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4ª 1967-2010
Os submarinos da classe Albacora, nome da classe de navios internacionais, sobretudo no âmbito da NATO.
que corresponde à 4ª Esquadrilha de Submarinos ao serviço Os submarinos da classe Albacora, inicialmente adquiridos
da Marinha de Guerra Portuguesa, foram construídos em
Nantes, nos estaleiros franceses de Dubiegeon-Normandie, de com a intenção de serem projetados no conflito das possessões
acordo com o contrato assinado em 1964, sendo idênticos portuguesas em África, foram posteriormente otimizados para
aos submarinos franceses da classe Daphné e destinavam-se a missões de vigilância das áreas marítimas nacionais. Mudaram
substituir os submersíveis da classe Narval. o paradigma da utilização da arma submarina, revelando a
sua importância na capacidade de projeção de forças especiais
A nova classe constituiu, verdadeiramente, o primeiro grupo (Destacamentos de Ações Especiais) e nas ações de combate
de submarinos de que a Marinha Portuguesa dispôs, uma vez ao ilícito marítimo, quer seja no combate ao narcotráfico,
que introduziu a tecnologia do mastro snorkel na realidade como à imigração ilegal e poluição marítima, assim como uma
nacional. renovada capacidade de intercooperação entre os diversos
Ramos das Forças Armadas e outras Agências do Estado.
O contrato de aquisição foi de quatro submarinos, sendo-lhes
dado o nome de um animal Devido à grande capacidade
marinho, com a inicial do e conhecimento das guarnições
nome indicativa da ordem que os operavam, ao trabalho
de precedência relativamente minucioso e experiente do
ao seu aumento ao efetivo de pessoal do Arsenal do Alfeite
Marinha: NRP Albacora (S163) e do sistema de Garantia de
em outubro de 1967, o NRP Qualidade adotado, a IRS, foi
Barracuda (S164) em maio de possível manter os três navios
1968 e NRP Cachalote (S165) operacionais até o ano 2000,
e o NRP Delfim (S166) ambos altura em que foi abatido o
em janeiro 1969. Albacora. Em 2005 foi a vez do Delfim ser abatido tendo, em 2010,
terminado a classe Albacora com o abate do Barracuda. Com 42
Este contrato surgiu um par de anos antes da Marinha anos, o “velhinho” Barracuda foi o submarino militar com mais
Espanhola ter decidido pela construção de quatro submarinos anos de serviço do Mundo. Na sua última viagem, o derradeiro
do tipo Daphné em estaleiros do país. Desta forma, a ligação Daphné mundial visitou a cidade francesa de Toulon, em jeito
entre as duas Esquadrilhas fortaleceu-se uma vez que muitos de despedida, tendo sido recebido no Dia do Submarinista
foram os submarinistas espanhóis que fizeram o seu contato Francês de 2010 por um muito relevante e espantado grupo de
inicial e parte da sua aprendizagem a bordo dos da classe submarinistas, de alguma forma incrédulos com a capacidade
Albacora. Note-se que muitos traços dessa forte ligação mantêm-se submarina de uma pequena nação que foi capaz de manter
atuais. estas plataformas operacionais e, em total segurança, até ao
final da sua longuíssima vida operacional.
As características principais dos submarinos da 4ª. Esquadrilha Em 25 de julho de 2013 o Barracuda entrou em doca seca da ex-
eram as seguintes: Parry & Son, ficando conjuntamente com a fragata D. Fernando
II e Glória, a fazer parte do “Núcleo Museológico Naval de
Deslocamento à superfície . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .869 toneladas Cacilhas” do Museu de Marinha.
em imersão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .1.043 “ Apesar de terem sido um marco tecnológico, no seu início de
Comprimento máximo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57,80 metros vida, os submarinos da classe Albacora conseguiram superar
Boca. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6,8 “ o teste do tempo e vingar numa era tecnologicamente mais
Calado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .5,2 “ avançada, devido a uma cultura submarinista centenária
Cota máxima operacional. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 300 “ enraizada que era religiosamente passada de geração em
Velocidade máxima à superfície. . . . . . . . . . . . . . . .13,5 nós geração, em que os segredos da plataforma eram desvendados
em imersão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .16 “ pelos mais antigos e passados aos mais modernos. Através
Autonomia máxima (bateria) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9.430 milhas do conhecimento, da cultura e do espírito de entrega que
caracteriza o submarinista, foi possível completar com sucesso
O Cachalote, por razões de sustentabilidade logística, foi missões complexas e deixar nos Anais da História feitos como
abatido em outubro de 1975 e vendido à Marinha Francesa que o afundar do navio mercante Bandim ou o mítico ataque do
por sua vez o cedeu ao Paquistão onde tomou o nome de Ghazi. “pequeno submarino português” ao poderoso porta-aviões
americano Eisenhower. O primeiro eliminando um perigo à
Os restantes três submarinos, que passaram a constituir a navegação e o segundo no decorrer de um exercício da NATO.
classe Albacora, participaram durante a sua vida operacional Plataformas robustas e fiáveis, guarnecidas por rijos
num variado leque de missões no espaço marítimo nacional marinheiros, conhecedores da sua arte, apesar de
e internacional, nomeadamente participando em missões e tecnologicamente limitados no seu final de vida operacional,
operações tais como: CONTEX, SWORDFISH, TAPON, JMC, os submarinos e os submarinistas da 4ª Esquadrilha
FOST, SHARPGUARD, ENDURANCE, AÇOR, ZARCO, representaram o País por mais de quatro décadas com brio e
OCEAN SAFARI, JOLLY RIGER, assim como em múltiplas orgulho, elevando o nome da Marinha e de Portugal, deixando
missões de adestramento de alunos e de vigilância da área um enorme e valioso legado que servirá de alicerce para a
marítima de interesse nacional. perpetuação da cultura submarinista e marinheira.
Colaboração da ESQUADRILHA DE SUBMARINOS
Além de constituírem um marco na história da capacidade
submarina, sendo o salto tecnológico de submersíveis para
submarinos propriamente ditos muito significativo, foram
igualmente um importante fator de afirmação de Portugal
na comunidade internacional, através das múltiplas e
muito bem-sucedidas participações em operações e missões