Page 35 - Revista da Armada
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NATAL: UM DIA,


          UMA QUADRA OU QUANDO QUISERMOS?






              o longo da minha meninice, fazia-me muita confusão   Podemos fazer muito. Como na história acima narrada,
           Aouvir tantas pessoas usarem a expressão “Natal é sem-  quantas ações belas estão nas nossas mãos, dependem das
           pre que um homem quiser”.                            nossas decisões…
            E fazia-me tanta confusão, porque a minha devoção por   Ninguém nos vai pedir que mudemos o mundo, mas tal-
           tudo (mas mesmo tudo) o que envolvia aquela quadra era   vez possamos mudar a vida de duas, três, meia dúzia de
           tão grande que o que eu gostaria mesmo era que de facto   pessoas que nos rodeiam.
           o Natal fosse todos os dias.                          E sendo assim, porque não fazemos? Há muito bem ou
            E se para isso ser realidade bastava que se quisesse, por-  mal que depende de nós, que está nas nossas mãos.
           que é que então não queríamos e assim poderíamos andar   Vamos vivendo num mundo que, apesar de tudo, continua
           em “natal” 365 dias por ano?                         maravilhoso. Ajudemos a torná-lo ainda mais agradável.
            Entretanto, os tempos foram passando e fui percebendo   Por isso, com absoluta fé e convicção, queremos desejar
           que muitas vezes querer é uma tarefa exigente. Exige que   a todos os militares, militarizados e civis da Marinha Portu-
           sejamos sensatos na hora de decidir.                 guesa (sobretudo os que vão passar o Natal longe de casa),
            Atentem na seguinte história...                     umas santas festas e que o novo ano seja repleto das maio-
                                                                res realizações pessoais, familiares e profissionais.
              Havia um viúvo que morava com as suas filhas que eram                                          
           curiosas e inteligentes e que lhe faziam sempre muitas per-                             José Ilídio Costa
           guntas.                                                                                     CMG CAP
            Mas a algumas ele não sabia responder.
            Como pretendia oferecer-lhes a melhor educação, man-
           dou-as passar férias com um sábio.
            O sábio respondia sempre a todas as perguntas sem hesitar.
            Impacientes com o sábio, as meninas resolveram inventar
           uma pergunta a que ele não soubesse responder.
            Então uma delas apareceu com uma linda borboleta azul
           que usaria para pregar uma rasteira ao sábio.
            – O que vais fazer? – perguntou a irmã.
            – Vou esconder a borboleta nas minhas mãos e perguntar-
           -lhe se ela está viva ou morta. Se ele disser que está morta,
           vou abrir as mãos e vou deixá-la voar. Se ele disser que está
           viva, vou apertá-la e esmagá-la. E assim qualquer resposta
           que o sábio der estará errada.
            As duas meninas foram então ao encontro do sábio e uma
           delas perguntou-lhe:
            – Tenho aqui na minha mão uma borboleta azul. Diga-me:
           está viva ou morta?
            Calmamente o sábio sorriu e respondeu:
            – Depende de ti… ela está nas tuas mãos…

            Segundo a Bíblia, duas das personagens do presépio acei-
           taram totalmente os desígnios que Deus lhes pediu, mas
           não se limitaram a ser marionetas nas suas mãos. Nada
           disso. Eles foram também protagonistas e decidiram inva-
           riavelmente bem.
            De facto, em  nome  da providência divina, eles podiam
           deixar que as coisas fossem evoluindo – o que tinha acon-
           tecido  até  era  obra  de  Deus  –,  mas  não  fizeram  assim.
           Tinham total confiança em Deus e no Seu projeto, mas não
           ficaram à espera que Deus fizesse tudo.
            E tantos sacrifícios lhes foram pedidos, tantos contratempos
           tiveram que contornar.
            Mas o projeto de Deus pôde contar com eles.
            Porque em tudo ousaram descobrir um caminho novo, a
           Luz ganhou espaço nas suas vidas e, como se não bastasse,
           entregaram-n’A a toda a Humanidade.
            E aqui chegados, o que é que cada um de nós pode fazer
           para que o Natal não seja só um dia ou só uma quadra?

          Domingos António de Sequeira (1768-1837) | Adoração dos Magos,  1828 | Óleo sobre tela
          Proveniência: compra, Subscrição Pública, 2016  ©MNAA/Paulo Alexandrino, 2016
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