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REVISTA DA ARMADA | 529
SAÚDE PARA TODOS 55
LAGARTA DO PINHEIRO
Nos úlƟ mos anos temos assisƟ do a uma alteração das condições climáƟ cas e, como é óbvio, isso leva a uma mudança nos ecossistemas.
Uma praga que tem sobremaneira aumentado, com repercussões na saúde das árvores, dos humanos e dos animais domésƟ cos, é a da
Lagarta do Pinheiro, conhecida como Lagarta Processionária. É um inseto desfolhador de pinheiros e cedros e o seu nome deve-se à sua
descida das árvores, em fi la, em busca de um local para se enterrar e passar às fases seguintes de desenvolvimento. A lagarta apresenta risco
para a saúde pública devido à presença dos pelos urƟ cantes que se espalham pelo ar, causando a reações alérgicas a nível da pele, olhos ou
mesmo no aparelho respiratório. Se houver ingestão das lagartas os riscos de saúde são muito graves podendo culminar na morte.
CICLO DE VIDA ambiente urbano. Os pelos agem como agulhas, injetando a tal
A Lagarta do Pinheiro (Thaumetophoea pityocampa) encontra-se substância tóxica (taumatopoína) na pele ou mucosas. As crian-
disseminada por todo o território português devido à presença alar- ças e os cães raramente sentem repulsa por esta lagarta (que por
gada de pinheiros de Norte a Sul e ilhas. Esta praga, além do pinheiro acaso é bem bonita!) e sentem-se até impulsionadas a interagir
bravo, ataca igualmente outros pinheiros: o silvestre, o laríceo, o com elas, daí advir o perigo. Mas muitas vezes basta frequentar
manso, o insígne e o pinheiro de alepo, assim como Cedrus uma espaço público que tenha estes pelos no ar para
Atlân ca, Cedrus Deodara e Cedrus do Líbano. desenvolver sintomas (ex.: correr na mata). A
Como qualquer inseto, o desenvolvimento intoxicação por contacto com esta espécie
da Lagarta do Pinheiro passa por 4 fases: assume um caráter sazonal, depen-
ovo, lagarta, pupa/crisálida (casulo) e dente do clima da região, verifi can-
inseto adulto (borboleta). Em ter- do-se uma maior percentagem de
mos específi cos, o seu ciclo de casos durante a Primavera. Os
vida passa por uma fase aérea sinais e sintomas dependem
e uma fase terrestre. A fase da intensidade da exposição
aérea inicia-se em junho e e da sensibilidade individual,
prolonga-se até agosto com a contudo é importante todos
emergência dos insetos adul- reterem que, na grande
tos do solo, sob a forma de maioria dos casos, a exposi-
borboleta, e o acasalamento. Os ção a este inseto causa apenas
ovos são postos nas agulhas dos uma doença benigna, com reso-
pinheiros, dando-se início à fase lução muito simples em menos de
terrestre. Em meados de setembro, 24h, a ngindo apenas a pele, não
nascem as lagartas que se agrupam em DR havendo por isso razões para alarme. As
ninhos para manterem o calor. Estes ninhos manifestações mais frequentes são:
têm um aspeto de novelo de seda, facilmente iden - • Reação ur cariforme: irritação cutânea com
fi cáveis nas copas dos pinheiros. De setembro a dezembro, durante prurido (comichão), ardor, eritema (pele vermelha) e edema
o período de crescimento a vo nos ninhos, as lagartas passam por 5 (inchaço). As lesões cutâneas têm caracterís cas maculopapula-
etapas. Nas duas úl mas etapas o aparelho defensivo das lagartas res e podem ser acompanhadas de vesículas.
já está completamente formado e é composto por oito recetáculos, • Irritação ocular: em tudo semelhante a uma conjun vite com
cada um dos quais compreende aproximadamente 120.000 pelos os olhos avermelhados, prurido e edema.
alaranjados e com propriedades ur carizantes. Quando a lagarta se • Tosse e dispneia (difi culdade respiratória).
move os recetáculos abrem-se, libertando milhares de pelos que se Nos animais de es mação a parte do corpo mais afetada é a
dispersam no ambiente. Os pelos têm no seu interior uma substân- cabeça (tendem a farejar ou comer a Lagarta) podendo exis r
cia chamada de taumatopoína que é capaz de desencadear reações edema do focinho, língua, lábios e laringe. Nos casos mais graves
alérgicas nos humanos e animais de companhia, caso entrem em pode ocorrer necrose da língua e choque anafi lá co, daí que se
contacto com eles. Terminado o desenvolvimento larvar, habitual- deva sempre consultar um veterinário na suspeita de contacto
mente entre janeiro e abril, manda a natureza que as lagartas aban- com uma Lagarta.
donem o pinheiro, umas atrás das outras, em longa procissão, para
se enterrarem no solo a alguns cen metros de profundidade, onde TRATAMENTO
vão completar a sua metamorfose: enquanto estão debaixo da terra Em caso de aparecimento de sintomas cutâneos recomendo
transformam-se em crisálidas, para depois passarem a borboletas. tomar banho e mudar de roupa, para evitar agravamento da ur -
De salientar que anualmente as condições climatéricas mudam, cária por manutenção do contacto com os pelos da Lagarta. As
logo, em consequência disso, também as datas das várias fases do peças de roupa que entraram em contacto com esta espécie têm
ciclo de vida deste inseto podem mudar. de ser lavadas a ≥ 60°C, pois os pelos tóxicos só são destruídos a
par r destas temperaturas. Pode haver necessidade de recorrer
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS a medicação an -histamínica, analgésica ou an -infl amatória.
A Lagarta do Pinheiro liberta milhares de pelos que são uma Os sintomas oculares são minimizados com lavagens oculares com
ameaça à saúde pública, logo exigem uma vigilância constante em soro fi siológico, eventualmente com colírios an -histamínicos.
MAIO 2018 31