Page 130 - Revista da Armada
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espírito  puro  e  fiel  do  MARINHEIRO   Metidas  na  água  até  à  cintura,  apa-
            que  sempre  foi  dentro  e  fora  da   nham  as  algas  com  redes  enormes,
            Marinha  o  TERRAMOTO.             espécie  de  saco  preso  a  um  arco  HÁ PEQUENAS COISAS QUE
            Que  descanse  em  paz  a  sua  alma.   com  haste  longa.  Labutam  horas  a   SIGNIFICAM  MUITO
                                               fio  trazendo  para  terra  o  produto
                           O sobrinho saudoso                                          (UMA  LIÇÃO  DE
                                               com  que  são  adubadas  as  terras  da      CIVISMO)
                              Alfredo  Moreira   beira-mar.  Pois  enquanto  a  objectiva
                                       Mar.  C   focava  o  trabalho  das  mulheres,  ouvi  Certo  dia  passava  na  maior  avenida
                                               atrás  de  mim  comentários  que  me  do  Funchal- a  Avenida do  Mar.  Por
                      UM  CASO                 deixaram  entristecido.  O  tom  de des-  coincidência  era  Dia  do  Corpo  de
                DE  COMPREENSÃO                prezo  e  chacota  que  empregaram  Deus e  milhares de pessoas - adultos,
                                               teria  enchido  de  revolta  qualquer  crianças  e  também  turistas - enchiam
            Recebemos  uma  carta  de  Carlos
                                               trabalhador  do  mar.  De  mim  para  a  avenida nessa tarde luminosa, como
            Guerreiro,  mar.  A  n.o  2313/69,  rela-                                                                  ,
                                               mim  pensava:  são  rapazes  da cidade  só  se  encontra  na  nossa  Pérola  do   .,
            tando-nos  um  episódio  que  vale  a
                                               que  não  sabem  o  que  é  o  trabalho  Atlântico.
            pena  trazer  às  colunas  da  «nossa»
                                               da  gente  do  mar;  talvez  não  saibam  De  repente,  toda  a  gente  parou!  Eu,
            Revista.
                                               que o  marisco  é  apanhado com sacri-  sem  saber  o  que  se  passava,  parei
            Assistia  o  signatário  a  um  programa
                                               fícios  idênticos; que o  peixe custa por  também. Escutei em silênci9 e reparei
            da  RTP  quando  surgiu  no  ecrã  o   vezes  a  vida  a  muitos  pescadores.  então  que  em  frente,  e  ainda  a  uma
            documentário  «Ao  Ver  o  Mar».
                                               Se  soubessem  tudo  isto,  não  seriam  certa distância,  se  procedia  ao  arrear
            Como  é  marinheiro  e  gosta  de  pro-
                                               certamente  tão  desumanos  nos  seus  da  bandeira  no  Palácio  do  Governo.
            gramas  que  digam  respeito  ao  mar,
                                               comentários  ~ olhariam  aquelas  mu-  Causou-me  impressão  verificar  que
            aconchegou-se  mais  na  cade  ira  e
                                               lheres  com  compreensão.  A  luta  as  próprias  crianças  guardavam  res-
            preparou-se  para  o  ver.  Tratava-se
                                               pela  vida e  o  trabalho do  mar,  ainda  peitosamente silêncio como os adultos.
            de  um apontamento  sobre  a  vida  das
                                               que  rude  e  humilde,  devem  merecer  Os  turistas,  esses,  olhavam  admi-
            sargaceiras  nas  praias  do  Norte   sempre  o  respeito  de  todos;  dos  rados ...
            do  País.  É ele  que nos conta:
                                               marinheiros  em  especiai.»        Que grande  lição  de civismo!
            «Mulheres  rudes  e  humildes  vêm,
            na  maré  vazia,  apanhar  o  sargaço                    1.  Gouveia                         J.  Mateus
            (algas  que  o  mar  arroja  à  praia).                      Mar.  A                          C{/ ho  TFH

            QUADROS  NAVAIS,  do  contra-al-
            mirante  Celestino  Soares
                                                                             bibliografia

            Em  edição  do  Ministério  da  Ma-
            rinha  (n .o s   6  e  7  da  «Colecção
            Documentos»),  surgiu  a reimpres"
            são, em duas partes, do 1.° volume
            de  Quadros Navais.                juntar-se  toda  uma  série  de  ensi-  SAUDADE MACUA,  de  Jorge  Fer-
                                               namentos que nunca serão demais
            Esta  nova  edição,  a  completar                                       reira
                                               para a formação de qualquer mari-
            oportunamente  com  a  dos  res-
                                               nheiro  que  se  preza.            Sob  à  patrocínio  da  Agência-
            tantes  três  volumes,  integra-se
            nas  comemorações  do  1.°  cente-                                    -Geral  do  Ultramar  foi  divulgado
            nário do falecimento dessa grande                                     o livro de poemas de temática afri-
            figura  de  marinheiro,  patriota  e   PIONEIROS DE ANGOLA, de Gas-   cana  Saudade  Macua,  da  autoria
            escritor que foi o contra-almirante   tão  Sousa  Dias                de  Jorge  Ferreira.                 •
            Joaquim  Pedro  Celestino  Soares.   D.  ANTÓNIO  BARROSO,  de  A.
            A  vida  do  mar,  nessa  segunda    Luís  Vaz
            metade do século XIX, é-nos comu-  DIOGO CÃO, de Luciano Cordeiro  O  ULTRAMAR  PORTUGUÊS
            nicada  pelo  autor  em  episód ios                                     DEPOIS DA  RESTAURAÇÃO, de
            de  tão  flagrante  vivência,  e  num   Em  edições  da  Agência-Geral  do   Jaime Cortesão
            tipo  de  descrição  tão  objectiva,   Ultramar  apareceram  há  pouco
            tão  directa e numa  linguagem tão   as três obras acima indicadas que  A  Portugália  Editora  lançou  mais
            penetrada  de  sal  e  maresia,  que   interessam  sobremaneira  aos  es-  este  volume  das  «Obras  Com-
            qualquer  marinheiro  se  sentirá   tudiosos  ou  leitores  dedicados  à   pletas  de  Jaime  Cortesão »,  que
            empolgado  pela  sua  leitura.  Ao   história de Angola.              vem  editando.
            prazer  que  ela  nos  oferece  vem                                                          O.  Lemos

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