Page 8 - Revista da Armada
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                                                                                     clenclas


                                                                      artes e letras








                                                                                 a  naturalidade  das  almas  sãs.  A  sua
                  ú~i~                                   •          •            esquisitas e singulares dos casos anor-
                                                                                 pena nunca procurou o êxito na «cha-
                                                         lt\lil
                                                                                 furdice»  dos  dramas  ou  existências
                  ~ ~~fi~fi'\                                                    mais  das  sociedades  poluídas.
                                                 ~ ,,~ ~~t,,~
                                                                                 Escreveu  pouco,  porque  a  curta  vida
                                                                                 não  lhe  deixou  oportunidade  para

                                                                                 pela  Êsccila  Médica  do  Porto,  pre-
                              (No centenárío da  sua  morte)                     escrever  mais.  Apesar  de  formado
                                                                                 feriu  a  carreira  literária,  embora não
                                                                                 descurasse  a  medicina,  onde  o  seu
                                                                                 talento  se  afirmou  na  regência  de
                                                                                 cadeiras  na  mesma  Escola  Médica.
                                                                                 O  seu  primeiro  romance - «As  Pupi-
                                                                                 las do Senhor Reitor»  - conheceu uma
                                                                                 popularidade que poucas obras portu-
                                                                                 guesas igualaram. Nas páginas suaves
                                                                                 e  encantadoras  deste  romance  deixou
                                                                                 Júlio  Dinis retratada a  vida do  povo;
                                                                                 nele  se  casam  a  pureza  das  almas  e
                                                                                 a beleza das formas.  Com Júlio Dinis
                                                                                 se  inicia  o  Realismo  na  literatura
                                                                                 portuguesa.
                                                                                 A  natural  singeleza  do  seu  espírito
                                                                                 levava-o  a  preferir  o  que  havia  de
                                                                                 bom  e  belo  na  alma  popular  e  a
                                                                                 deixar  de  lado' as  sombras  que  ene-
                                                                                 grecem  a  vida.
                                                                                 Em  «Uma  Família  Inglesa»,  apesar
                                                                                 de  nos  dar um  retrato  de  uma  época
                                                                                 e de nos descrever a vida da sociedade
                                                                                 inglesa  do  Porto,  fá-lo  sem  ironias
                                                                                 mordazes  e  sem  remexer  torpezas.
                                                                                 A sua obra de romancista compreende
                                                                                 ainda «A Morgadjnha dos Canaviais»
                                                                                 e  «Os  Fidalgos  da  Casa  Mourisca».
                                                                                 «Serões  da  Província»  é  uma  colec-
                                                                                 tânea  de  contos  de  grande  perfeição
                                                                                 formal e beleza literária. Com os seus
           Júlio Dinis - retrato a lápis por Joaquim Lopes
                                                                                 livros  aprenderam  e  aprendem  a  cul-
           . Há  cem  anos,  justamente  a  12  de  com invulgar fortaleza de ânimo. Ape-  tivar a boa e sã linguagem portuguesa
           Setembro  de  1871,  morria  no  Porto  sar  de  se  saber  condenado  pelo  ter-  gerações  sucessivas  de  jovens  nos
           o escritor Joaquim Guilherme Gomes   rível  mal,  a  sua  obra  nem  de  leve   primeiros  passos  da  sua  caminhada
           Coelho,  que  ficaria  conhecido  para  reflecte  qualquer desespero ou amar-  pelo en,sino secundário.
           sempre através do  pseudónimo JÚLIO   gura.  É,  contràriamente  ao  que  seria  Bastará isso  para lhe devermos a gra-
           DINIS.  Tinha 32 anos quando a morte- de  esperar,  uma  obra  cheia  de  luz  tidão  de  uma  homenagem  e  o  dever
           o levou,  trazida  pela  implacável  evo-  e  esperança  na  vida;  as  suas  perso-  de o  lembrar.
           lução da tuberculose que durante anos  nagens  são  gente  simples  do  povo,
           o fora minando e contra a qual lutara  crescendo,  vivendo  e  morrendo  com                  O.  Lemos

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