Page 80 - Revista da Armada
P. 80

Antologia do Mar



                                   e dos Marinheiros





             Ferreira






             de Castro

















                                                                                                      / Fow "" "rl/IIII'"
                                                                                                      ,,.·.A (""/"'''/_/

             J osé  M"riôl  Fcrrcir ..  de  Cl'lro.  1<llvez o  escfitor português   era acomp'lnhada de prémios e homenagens à figura do roman-
                                                                   Presligiado  no estrangeiro. onde  a divulgaçào da sua  obra
                 dc~tc o;éculo com nlllior renome  mundial. nasceu  ii 24  de
                 ~bio de  lKIJK  cm Sillguciro~. um:.  aldeia da freguesia  de
             São Pedro de Ossela. Oliveira de Azeméis. Tendo perdido o r'li   cista e do homem sensível e desperto para o sofrimento dosou-
                                                                Iras. defensor dos ideais da justiç;L e da liberdade, Ferreira de
             ilO~ oilo  .mos.  conta"'iI  apenas  doze  quando  embarcou  como   Castro arrostou.  no seu país. eom o  prejuízo d<ls posiçõcs que
             emigrante  para  o  Brasil.  onde do  Parii  ~cguc para o  interior.   frontalmente  assumia contra a ditadura do regime e a situaçúo
             E~~;I SU;!  vivencia nos scring •• is li" selv ••  anwzóniC;1 marcam pro-  que este impunha aos escritores, através da censura. sob eu ja tu-
             fundamente o homem c a obra - :muncil.d" primeiro na  voca·   teia se  recusou" escrever nm  jornais. e ii qual sobreviveu dois
             ç;io r.lra () jonl<llismo. que o IcVlI "fundar o jornal "A Cruzada».   escassos meses: morreu a 2IJ de Junho de  1974. no Hospital de S,LIl-
             aCilh'l(.Io de chegar ao Pl!T,í.  vindo do ~crtflo. AindiL  no  Brasil.   to AntÓnio.  no  Porto, donde  entre o  pesar nacional seu eorpo
             1<1Oç" outra publicação. "Portug:tl». cujo êxito ser".  interrompi-  foi trazido para o Jardim Escola Joflode Deus. em Lisbo:l . vindo
             do pelo regresso 010 seu paí~. Antes dis"ü. publicilTiI cm folhelins   mais tarde 11  ser incinerado. As suas cinz;ls foram sepultadas em
             o  -.cu  primeiro  romance ... CriminoloO  por  Ambiçilo".  que  ele   Sinlra. conforme vontade do e~cri t or. ii beira duma dessas ve re-
             próprio ia di"lribuir de porta cm porta pelos assinimtcs. recuf'OO   dlls. poétiease sem nome. que levam ao Caslc1odosMouros.
             que voltilriil  a ulÍlizllr na ohra ~eguin t e ... Rusglls Sociais_. com   Ferreira de Castro situa-se. na  histórÍil da literalura port u-
             "tenilód;lde do homem que por ~i próprio:.c faz.   guesa. como o \'erdlldeiro precursor do realismo social. que ar-
                Regressado a Portugal . foi ainda o jornalismo. VOCilÇ;io que   ranca eom "Emigrante~,.. na denunciil dascondiçõcsdesumanas
             em  tod;1 ii  vida o  nüo abandonou. que  permitiu  ii  Ferreira de   da emigraç:io.  e se conti nua  nos  romances seguintes. cm  que
             Castro equilibrar a difícil situação: e só cm  1922 chegaria a vez   uma  pro~a aparentemente  primitiva  c  litcrOlTiamente  limit;tda
             d" primei rOI  obrll  que  publicou em terra portuguesa. «Mas ......   manifesta afinal um poder de comunicilçào que a f"z transmisso-
             seguido de um  uram:1  (<<O  Mais  Fone») que  não chegou ii ser   ra de emoções que sentimos vividas. com uma força (Iue as cm·
             representado.  Em  192&.  OIpilrecidos  j.í  dive rsos  livros  (como   purra para além dum espaço determinndo. lhes d.i essa unive rSil'
             «Carne  Faminta» ... O  ExilO F;ícil» ... O  VOO  nas Trevlls».  "A   lid,Lde com que Ferreira de Castro venceu as fronleifils do espa-
             MOrle  Redimida».  «A  Epopeia do Trab<llho ..  ou «A  Casil dos   çoedo lempo.
             Móveis  Roubados»),  surge  o  rom;mce  que  inicill  verdadeira-  Os trechos que aqui deixamos s.io extraidos daquelll  que é
             menle a consagraçào de Ferreira de Castro como figura das le-  reconhecida como a obra-prima doe~ritor: «A Selva,.. Deeorre
             tr;l~ portuguesas ( .. Emigrantes,.): e dois anos volvidos_ em 19}(1_   11  principal aeção do romance na regiàodo rio Madeira. afluen te
             é ôI  vez de .. A Selvil" -a obra que irá projectarem todo o mun-  do grande Amazonas. onde '>C .. ituam as passagens que reprodu-
             do. traduzidil nilS m;tis diversas linguas. o nome do eseritor. que   zimos. $[10  as p.iginas em que Alberto slIi de Belém do  Pará. e
             n;io  tardiu;i  ii confirmar ;L pujôlnça  do  seu  realismo em  livros   a  bordo do  .. Juslo Chermont ..  inicia a  viagem quc o  levarl'i  ao
             como "Eternidade»  ( ltJJJ) e .. Terra  Fria ..  (1935). Vêm depois.   inóspito scnilo: nela irá o protagonista do romilOce repetir a an-
             reunindo os estudos e  as impressõcs de viilgem do autor. "Pe-  gustiosa experiência que  Ferreira de Castro gu;trdava consigo.
             quenos Mundos e Velh;ts Civiliz;lçõcs» (1937) e .. Volta ao Mun-  mal era acabada sua infimcia quando partiu para essa espécie de
             do" ( 19-14). Escreve a seguir esse exemplo de realismo social que   desterro. a bordo do navio de convés imundo. onde sc amontoa-
             é ",A  Lil e ;t  Neve». publicado em 1'J47. e .. A Curva da Estradll»   V'l promiscua aquela gente que escondia. atrás d'l cxpressiío so-
             (19:"11).  CUj'L  acçiio situa numa  EspanhH  em vésperas de guerra   fredora. ii resignaçiLo duma miséria que a grandeza do rio. imcn·
             civil: cm  195-1 surgem as belas p{Lgi nas de .. A Missão».  Por fim .   5H e luxurianle. fazi:! pareee r Illllis profundll .
             .. As Maravilhas Artísticas do Mundo .. ( 1 95~). invenl;írio do gé-
             nio çri  .. dor lI.!  humanit..lat..le.  precedem  .. O  In ~ ti nto Supremo,.
             (I%X). tlltim(llivroque oe~cri t o r pôde verpuhlicado.

             6
   75   76   77   78   79   80   81   82   83   84   85