Page 176 - Revista da Armada
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MORREU O . XANGAI.

               Morreu o .. Xangai,., um  cão que teve
             honras de fOlografia numa capa desta Re-
             vista  (n."ISl/Abril  de  84).  E  podemos
             acrcsccnl:H que era O mais premiado dos
             exemplares da sua raça- Serra da Estrc-
             la-existentes cm Portugal.
               Não  será  vulgar  not1clar-se  a  morte
             dum cão.  E esse faclO só se justifica  por-
             que o .. Xangai,., pertencente à Escola de
             Fuzileiros, alcançou um  palmarés a todos
             os tÍlulos notável c, ao participar nas mais
             variadas exposiçõcs, levou consigo a Ma·
             rinha às diversas  regiõcs do país (Santa.
             rém, Vila Franca, Elvas, Coimbra, Guar-
             da,  Estoril,  Porto,  Tomar.  Algarve,
             Abrantes  c,  obviamente,  Lisboa).  Não
             que essas  localidades descon hecessem  o
             nosso uniforme. Não que nessas localida-  o .X(lflg(li~ tm 1984 ({0I0 .RA ~-I.~·m(lr. L Mdriodt' Carv(llho).
             des não houvesse gen tes que admirassem   primeiros  prémios especiais e  13 primei-  Com este currículo  não admira que o
             c respeitassem  a nossa  Corpor:lção.  Mas   ros pn!miosde raça!    .. Xangai ..  tivesse  granjeado  a admiração
             sobretudo porque, em actividade  tão di-  Cerca de 20 taças e 30 medalhas dou-  de todos.  Quando morreu. a consternação
             ferente da  normal. a  Marinha contribuiu   radas. juntam-se aos 21  diplomas de exct!-  foi geral e não espantou ver lágrimas nos
             para a melhoria dc qU;llidade das raras de   leme e aos 35 certificados de aptidão que   olhos dos seus tratadores.
             cães nacionais.  E ncsse sentido, o .. Xan-  o .. Xangai .. conquistou. Na Gua rda.sola,   É por tudo isto que a notícia da morte
             gaÍ>. também foi  um agente do seu presti-  da sua  raça, O  .. Xangai .. foi  o  primeiro e   dum  simples cão.  que  no  fundo  não foi
             gio.                              conquistou o primeiro prémio de adestra·   simples entre os seus iguais. figura na nos-
               Nas mais variadas exposiçõcs caninas,   mento como cão de trabalho.  Em  1983.   sa  Revista. Como ficou dito. também ele
             de que são dignas de destaque as interna-  na  Exposição  Internacional  do  Estoril.   prestigiou  a  Marinha.  Assim  o  consiga-
             cionais de Lisboa. do  Porto. de Coimbra   em concorrcncia com praticamente todas   mos todos os que a servimos.
             e do Algarve. o «Xangai» arrecadou 3 se-  as raças nacionais e estTltngciras. o «Xan-
             gundos luga res e  17 primeiros prémios na   gai»  foi  consideTlldo  o  te rceiro  melhor   rColllhoT/lçliodo cap. -{rag. SF..f'
             classe de campeões. A par destes. mais 19   exemplar.                                    S/llga/hl Soarts}



             CRÓNICA DOS ANOS SESSENTA

             A feiticeira do Tejo






                   LOIÔ nasceu h.i dezasseis anos.  É airos.il.  bonita c   Em  tcrnl. os homens.  depoi~ das  m(/I(/(I('llI.~ til' bicho
                   irrequieta. como quase todas as  raparigas da ~ua   em série. na casa do Antoninho ou na do Manuel  Burrico.
             A idade. Foi o cais que lhe ensinou a fa lar e lhe deu   figura popul:lr que font valente pegildor de lOiro~. ~eguem
             cor;1 pele. O pai. o velho Bica. antigo camarada das fraga-  panl o cllis. esperllnç:tdo~ na conqui),ta de um lugar ao ~ol
             tas que navegilvam rio-abilixo. rio-aeimil. na azáfama do~   -  (1  trabalho. 0:-. que ('II1;a/l/lII.  i:-.to c. ()), que entram na
             [relf'.f e das marés. dedicou-se agora à venda de peixe. ali.   contagem  pllra  ii  de~carga d()~ barc()~ vindos de  Li~boa.
             na  lota.  A mãe. a Ti Albina.  j.i entrada na idade. passa   tcm a certeza que nes:-.c  dia  ii fome  n,io os atormenta. E
             OS dias. sentada à ),UiI poria. ii cavaquear com as vizinhas.   0:-' outros que nfio foram contados. mio desanimam. por-
             sem deixar de seguir. com os olhos atentos. as diabrunts   que no di" seguinte pode ser dia ~im. O trabalho nem sem-
             dil  filh:t:  um  autêntico  diabo  de  saias!  Embont  pouco   pre abunda.  mas  a vida  n:io  p:íra. c. enfiando  uns copi-
             Ictrad<l.  não deixa de ser inteligente.  A Lolô é um:t  jóia   nhos no buxo. :tcabam. como de costume. dizendo mal de
             rilnt  nascida junto ao cais. onde o  lodo não salpica ii SlL:t   tudo e de todos.
             virtuosidade.                                         Na m"nhã seguinte. lá estflo eles no cais à espreita da
                No laborioso e s:tluwr palco da vida.  logo que rompe   contagem. Potle ser 11m dia (h- S(io  Pllllli/J(J. Esta é a frll~
             a manhã. os homens e mulheres ensaiam os primeiros pllS-  pronunciada. quando vêem assomllr ao bico d,IS Torres
             sos pilnt a luta quotidianol. As varinas ajeitam ,IS canastras   alguma das fragatas do  Chico  Paulino.  antigo  arrais da
             à cabeça e  lançam-se  na descarga da areiil  que vem  nos   zona. hoje armador. com a exclusividade dos [reles de fer-
             buques do Joflo Conde: um homem do marque de há mui-  ro pllra oSlIrmazéns do Vassalo.
             to se dedicll à venda do refcrido produlo arrancado ao lei-  Por vezes. a coisa calha.
             to do rio. lá para as band;ls de Vila Nova da Rainha e de   E ouvem-se grilOS  de satisfaçfio:  Lá vem a tio Jaime à
             Salvateml de Magos.                                [,ellll.'.  llllllvegllr a lotlo o paI/o.  OIlUl,  (I segllir  vem  ti do
                Os  barcos vão e  voltam.  O  «Colê»  tem  por amlis o   meSl,e Al/lól/io /-Iel/rique, I.' wmbém a tio Tomé! ..
             João Lourençoc o .. Benfica» é governado pelo Elias: dois   Os  homens.  que  ainda  ontem  se  mostravam  tristes.
             murlozeiros que nunca voltaram a cara aos temporais do   alimenlam uma nesga de esperança: há trabalho. há pão.
             Tejo.                                               hávida!. ..

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