Page 321 - Revista da Armada
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          Navío virado de querena sobre uma barcaça. segundo desenho a lápis   tJarcaça deslinada a virar o navio de querena, segundo desenho a lápis
          (pormenor) de Domingos Sequeira.  1818 -  Museu Nacional de Arte   (pormenor) de Domingos Sequeira,  1818 -  Museu Nacional de Arte
          Antiga.                                             Antiga.

          publicados no nosso país vários manuais de marinheiros que   zados em 1818, destinados a um "Panorama de Lisboa», que
          incluem longas descrições com as manobras de virar de quere-  infelizmente se perdeu no incêndio dos Paços do Concelho de
          na,  mas  nenhuma  delas  é  acompanhada  de  gravuras  que   1863.
          ajudem a  melhor compreender as diversas fases  desta algo   Para realizar estes seus estudos, sabemos por Maria Alice
          complexa operação.                                  Beaumont,  autora de uma importante  biografia de Domingos
             O Museu de Marinha dispõe nos seus arquivos de algumas   Sequeira (1768-1837) (9),  que este pintor pediu facilidades aos
          fotografias de navios virados de querena. No entanto, é curioso   Governadores do Reino para que lhe fosse emprestada uma
          assinalar que, no nosso país. pelo menos Irêsartistas plásticos   barraca de campanha de coronel e  um soldado para a armar
          se interessaram por este tema. O primeiro foi Manoel Marques   e desarmar, com o intuito de realizar uma vista panorâmica de
          de Aguilar (1767-c.18161 que gravou em 1791  uma .. Vista da   Lisboa até à barra e de Cacilhas ao Ribatejo.
          Cidade do Porto. desde a Torre da Marca athe as Fontainhas»,   Domingos  Sequeira dirigiu-se  ainda a Carlos  May, inten-
          que  mostra uma grande actividade  no rio Douro,  em que se   dente do Arsenal da Marinha, para lhe ser concedida uma em-
          destaca um navio dando lados para o calafate do costado, ven-  barcação grande e estável para estudo de diversos pontos e
          do-se  grossa  fumarada  devido  ao  aquecimento  do  breu (6).   um escalerque o transporlasse aos vários pontos volantes en-
          Também João Pedroso (1825-1890), é autor de uma gravura   tre eles a  nau "S.  Sebastião» que se deslocaria segundo as
          em que nos mostra, junto à Torre de Belém, uma cena idêntica   suas necessidades. E pede mais uma vela grande para cobrir
           à anterior, mas onde ressalta a grande sensibilidade e a beleza
          do traço deste notável pintor de marinha e).        a  barraca que mandou  fazer  no  terraço  de  São  Vicente  de
                                                              ForaCo). De tudo isto s61he foi fornecida a vela e o acesso à
             Um outro pintor, que foi talvez o mais extraordinário dese-  nau «S_ Sebastlão»_
           nhadorque nasceu neste extremo ocidental da Europa, deixou-  Mas o mais importante que ressal!a dos estudos atrás refe-
           -oos algumas  folhas  com preciosos estudos de navios(8), reali-  ridos, realizados por Sequeira, é o facto de, entre os navios por
                                                              ele magnificamente desenhados, haver mais do que um virado
           doca seca que em Portugal teve aquela designação, que consideramos   de querena. Além disso, o artista apresenta-nos o perfil de uma
           incorrecta, mas que lem sido mantida por tradiçáo. No fim dos anos 60   barcaça destinada a esta manobra, que é a única representa-
          já exisliam em Cacilhas as duas docas do Sampaio que,  em 1893. f0-  ção isolada que conhecemos deste tipo de embarcação e que
           ram vendidas â firma Parry & Son. Foipreciso esperar pelo inIcio desle   nos  permite  constatar que  o  seu  aparelho de  força  fixo  era
           século para o pofIo de Lisboa passar a dispor de mais duas docas na   constituído por três sólidos cabrestantes. Além da qualidade do
           Rocha Conde d·Óbidos.                              desenho, Sequeira deixou-nos, assim, um documento do maior
              No que respeita a docas flutuantes tivemos uma de madeira, ex-
           plorada pela firma Sanlos &  c. - que operou no Tejo de  1868 a  t896,   interesse para o estudo da historiografia naval.
           data em que inesperadamente se afundou por avaria nas válvulas.
              (6) «Colecção de Gravuras Portuguezas, Porto e Douro",  1.- série,                A. EstáciodosReis,
           s/data, estampa n. "6.  Agradece-se ao arq. Octávio Lixa Filgueiras por                      cap.-m.-g.
           nos ter indicado esta gravura.
              () Existe um exemplarno MuseudeMarinha, cota GR-/-2/2.
              (8)  "Domingos António  de  Sequeira,  Desenhos»,  Lisboa  1972/   (~'dem, págs. 9a 76.
           /1975, desenhosn. os306a316.                           C ) Idem, págs. 43 e 44




















           Calafetando o  fundo  de  um batelão,  1894 (Arquivo de fotografia  do   Veleiro  virado de querena,  1903 (ArqUIVO de fotografia do Museu de
           Museu de Marinha).                                  Marinha).

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