Page 222 - Revista da Armada
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As explorações                                                                ,




          do Atlântico Norte e do Arctico








                ViSit3 a Portugal do rei Carlos Gustavoeda rainha Sílvia   do da guerra a ind/útria /laciOl/al, capaz de absOfl'er a SilO e"er·
                da Suécia estabeleceu mais uma ligação entre os povos   gia.
          Adas penínsulas extremas da Europa, fazendo-me recor-  Por seu lado. outro historiador e). não generaliwu o popu-
          dar as exploraçôes allànlicas do hemisfério nOrle c a história da   larizado termo .. viking ...  Para ele, os .. norsemen .. não e ram .. vi-
          busca  duma  passagem  para  o  Pacífico,  pelo  topo do  Mundo.   kings ..  mas  simples  mercadores  c  pacíficos  agricultores ... Vi-
             Em  1959. voei pela  primeira vez na  Global Exprcss Airlinc   kings ..  foram  os saqueadores e  pirmas que assaltaram o  litoml
           que a 5AS iniciou nesse ano, empresa cm que se fundiram todas   da Europa em longos barcos ( .. drakkar»), abertos c sem convés,
           as linhas nacionais escandinavas.  A  rota do pólo foi  o meio de   enquanto os «norscmen» e mpregavam e mbarcaçócs semelhan·
           vencer a proibição da travessia do imenso c hermético território   tes e mais curtas (<<k narr .. ) para o transporte de cargas.
           soviético, como. há séculos. sucedeu com O império otomano in-  Um .. knarr .. do ano 1000. encontrado em Roskild, tem 16.40
           terposto na  rOIa  da ,sede. Só cm  197 1 a  Rússia permitiu outras   metros de comprimento e 4.50 de boca, com tabuado trincado
           rolas  mais  rapidas.  de c  para o  Oriente. com  as  linhas Trans-  e convés parcial, à proa e à popa, podendo transportar carga no
           -5ibcrian  Express (por Moscovo) e  Trans-Asian  Express (por   poço de meia-nau. incluindo gado e cerca de trinta tripulantes
           Samareanda). e. ultim~mente . a linhadireetajaponesa da JAL   epassageiros.
             Dizia a SAS que aquela linha aérea resultava da conjugação   Por sua vez, A.  Villierse) concluía que essas embarcações
           de  vários  factores,  entre  eles.  as  aventuTOsas  explorações  de   eram  tão  importantes que  nelas  sepultava m os chefes.  como
           qj/(mtos. 110 10llgo dos séC/lIas, descobrimm os segredos das in6.f-  confirmou a recuperação de dois barcos hoje expostos em Oslo
           piws paragens geladas. q/le acabaram por ser ronquistada.f e das   - o .. barco tumular» de Oseberg. que continha os corpos duma
           quais irei tentar fazer uma breve síntese.         rain ha e sua serva e o de Gokstad. provavelmente sepultura dum
             A peninsulaescandinávia s6 foi habitadadepoisda Idade dos   rei.  Em qualquer deles foram encontradas ossadas de cavalos e
           Gelos -  ainda o  Bãltico e o  Mediterr[meo eram lagos de água   de cães, ute nsílios domésticos c  náuticos. além de tendas para
          doce - c com a sua fusão e a subida do nível do mar nasceram   abrigo das tripulações, em terra.
          esscs mares interiores. onde se desenvolveria a civilização oci-  Em 1893. uma réplica do .. knarr.. de Gokstad, feza travessia
          dental. Daí que. só no período Neolilico a Escandinávia foi ocu-  do Atlântico cm 27 dias. Tal como o original, o tabuado do casco
           pada pelo homem, cujo desenvolvimento social gerou  nlicleos   foi amarrado às cavernas com filamentos vegetais. sem qualquer
          diferenciados.  conforme  a  geografia.  dando  assim  origem  ao   prego. A princípio. a elasticidade anormal da embarcação pare-
           povo litoral-oceânico norueguês c ao povo interior-continental   ceu  alarmante,  mas  ela  manteve-se  estanque  cm  toda  li  via-
           sueco. cuja primeira  união se  verificou cm  1319 c seria depois   gem(~).
           feitll  e  desfeita.  com  a  Dinamarca e  a  Finlândia, constituindo   Esse aguerrido povo nórdieo surgiu embarcado cm tão frá-
           hoje uma confederação regional de Estados, com aspectos pccu-  geis  embarcaçôes,  fazendo  incrfvcis  viagens, que o  levaram  a
           liares.                                            descobrir  a  Gronelândia.  a  eolonizar  a  Islãndia e  a  invadir  ii
             Limito-me  a  transcreve r  um  ensaio  dumas  memórias  que   Escócia  e  a  Inglaterra.  assenhoreando·se  até  do  ocidente  da
           aguardam editor c que passo a expor,               França e das ilhas mediterrânicas da SicUia e de Malta. deixando
                                                              indicias de ter navegado mé à América - que as sagas designa·
                                  *                           ram por .. Vinlândia ...
                                                                 Nu ma  visita também recente a Portugal. o soberano da No-
             Dum ponto de vista  náutico, não cometerei  erro se alinhar   ruega (Olavo V). evocou a «saga de Snorri Sturluson e de Santo
          os buliçosos navegadores escandinavos  na linha dos fenícios e   Olavo  .. (rei norueguês de I030}que refere a passagem de Sigurd
           portugueses.                                       pcla costa portuguesa e  a  sua contribuição para a  reconquista
             Em seu brumoso mundo físieo, o oceano penetra pela terra   cristã e formação da nossa nacionalidade. afirmando:
          em profundos fiordes. recortando-lhe as montanhas e deixando   Não SOIl o primeiTQ TeI /wrllegllês q/le visita Simra. Diz lll/OS-
          os primitivos habitantes reduzidos a pequenas leivas ao nível do   sa história que o rei-crllzado Sigurd 'T(II'OIl aq/Ii batalha IZII  COII-
          mar. em volta dos povoados. Sobre as cabeças os aborígenes ti·   q/lista do seu castelo e as sagas rezam que daqui par/iII carregado
          nham oscumes gelados dos mo ntes. que os isolavam. deixando-  com o respectivo saque.
          -lhes o Atlântico como única via de comunicação, sobrevivência   Acrescente-se  que  esse  mítico  herói  das «cdas escandina-
          e fortuna. e. por certo. terá sido isso que fez deles uma raça de   vas .. , toma o nome de Siegfried na mitologia teutónica dos "Ni-
          pescadores, colonizadores e piratas.                bctungos ...
             Um historiador('), explicou o instinto vital das suas expedi-  Não pode negar-se admiração pela coragem e perícia desses
          ções náuticas, por a poligamia de certas classes produzir excessos   marinheiros. Enquanto a Eu ropa medieval continuava amarra-
          de j/lI'enwde sem terras. com o amor da guerra e da aventura, ar·   da à imagem ptolomaica da planura da Terra. a sua esfericidade
          glllhosos das SIlOS espadas e cotos de I/Ialha,  das copos vermelhas
          t  do.~ adamos doirados e 10l/gas cabeleiras loiros, sem qualqller
                                                                 eJ  S.  E.  Morisoll  (foi  ml'lllbro da 1I0SS/l  AC/ldemi/l ile  Murill/rll),
          senlimelllo de ,mil/ade como Ilação.  Eram apenas bárbaros  la-
                                                              "The EIITopeall DÚCQI'tryaf  AmeriCII: lhe NOTlhem  Voyuges. , 197/.
          drões do mar. Rapazes e raparigas combatiam ladoa lado, [aulI-  (') "ShipslhTO/lgh Ilrtages-Asagaofthesta. (N, G, M. -/963).
                                                                 (4)  Nastmb/lTCaçtks aT;g;/I/lis vtrificoll-sea;nda mio leT sido milha-
             (') G.  M.  TTevtlyan,  "lIislory  af  f:nglutldM (lTaduçiio  Cosmos,   du a strru, As IlÍbuus fOTum apaTe'hat!us a maclrado. a favor do  I,tio da
          194/1.                                              madeiTa.

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