Page 113 - Revista da Armada
P. 113
~ Nota de Abertura
o almoço
dos almirantes (reformados)
Marinha tem tanta força e tanta fasei· Trabalhámos muito, e durante muitos anos,
nação que, ao contrário do que sucede comemos o pão que o diabo amassou. por
A noutras profissões, é com desgosto que mares revoltos, exigiram de nós grandes
a deixamos quando atingimos a idade da sacrifícios. até o de pormos a vida em jogo,
reforma. E não podemos passar sem ela como dedicá.mo-nos à profissão de corpo e alma,
o prova o facto das messes estarem cheias fazendo dela verdadeiro sacerdócio ... tudo para
de oficiais reformados que ali vêm matar chegar ao fim e sermos marginalizados. Não
saudades. só neste aspecto, que nos dói moralmente, mas
Na minha mesa, é assim que designamos também no de vermos a nossa pensão
aquela em que normalmente nos sentamos, degradar-se ano após ano, o que nos afecta
almoçam (pagando ... ) em geral seis almirantes, materialmente.
todos reformados. Será pedir muito que deixem os militares
As conversas são tipicamente navais reformados permanecer no ramo das Forças
- quando eu era comandante do ftVougall ... Armadas, a cujos Quadros Permanentes ainda
quando fui ao Brasil na ccSagres» ... uma vez, na pertencem. até morrer, e que indexem as su~
Guiné ... há anos, navegando no Índico ... - , pensões aos vencimentos dos camaradas do
todas à base de recordações de tempos idos activo, como sucede com os da Reserva licen-
que, infelizmente, não voltam mais. ciados?
E contam-se histórias, umas alegres outras Quanto à primeira pergunta, não temos
tristes. que cada um viveu nesta instituição slli dúvidas em responder que não parece difícil,
generis que é a Marinha, histórias passadas no pois nâo era mais que voltar ao que já foi e
mar, em terra e, até no ar oos tempos em que deixou de ser sem se pedir a opinião aos inte-
a Marinha tinha asas. Tudo por ali passa num ressados.
frémito de saudade que retempera a alma. Quanto à segunda. talvez nem fosse muito
São seis a1miIantes, que o continuam a ser dispendioso e seria certamente um acto de
na Marinha, nos outros ramos das Forças reconhecida justiça social.
Armadas e na sociedade em geral, mas que
deixaram de o ser na Caixa Geral de Aposen -
tações pela qual recebem as suas pensões
desde que passaram à reforma (bem diz o
provérbio que uma desgraça nunca vem só).
Ali, nós somos apenas, e só, pensionistas que
se identificam por um número. E, para que não
tenhamos ilusões enviaram-nos um cartão
onde vem tudo muito bem explicado.
Pode dizer-se que é uma pieguice. mas isto
desgosta-nos profundamente.
3