Page 46 - Revista da Armada
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                  e entre os dramas do mar -  como naufrágios, en-  Se o homem se salva, então, sim, a alegria colectiva que
                  calhes, colisões, água aberta, Ind ndlos - , quantas   assalta a guarnição vibra através do navio inteiro. Mas, se
            D vezes  transmudados  em  tragédia,  sobressai  um,   ele se  nâo apanha, após uma busca  sem  resultado, desce
            com aspectos particulares, que  nenhum oulrO assume -  sobre todos o manto de uma tristeza envolvente que persis-
            o de «Homem ao man..                                te ao longo de toda a viagem.
               Envolvem, os  primeiros.  na  luta que se estabelece, a   Os excertos, que se reúnem nesta coledânea, sob a epi-
            guarniçao inteira, batendo-se pela preservaçao do seu na-  grafe de «Homem ao ma...,., são a descrição de factos vivi-
            vio,  quantas  vezes, é certo,  fruslradamente. Já na emer-  dos, perenemente nxados nas nossas recordações navais.
            gência de  um  únk'O  homem, que vai ao mar, apenas uns   Outros excertos -  poucos -, que também se recolhe-
            poucos se envolvem na salvação de uma vida, também, não   ram, têm o propósito de tentar amenizar , um tanto, a su-
            raro, sem o conseguirem. Aqui, a maior parte da equipa-  cessão dos infelizes episódios que se rememoram . Mas, na
            gem nca-se a  bordo, estática, numa ansiedade, assaltada   verdade, não chegam para desfazer a  triste impressão le-
            pela dúvida acabrunhante de não ler mais por companhei-  gada pela lembrança desses «Homens ao mar., que jamais
            ro um que, ainda há  pouco, ombreava consigo nas fainas   voltaram a  pisar  o  convés do seu  navio -  perdidos, que
            de todas as horas.                                  foram, para sempre, nos desertos desse mar que os traiu ...
               O silêncio, que se estabelece, é profundo. Só os olhos,
            perscrutando  o  mar ,  na  direcção  provAvel do  nAufrago,                              Silva Braga,
            traem a amargura que se apossa de todos.                                                        vla/m.



            I-HOMEM AO MAR
                          1873

               No (fill  20  de  Abril de  /873.  do-  rom/ill'a/ll  tlepois  as fUlldas,  que  de   amurll grande,  rapaz tle primeira via-
            mingo.  ,'igésimo  lerceiro  dia  da  lua,   lIoite com o balallço linham um pouco   gem saldo du  Escola para fazer liroel-
            navegOi'a  a  COrl'ela  _D.  João  I ..  por   br{/luieado.          lIio,  110  largar do sobre de proa lião
            7"4j'de Ia/iII/de sul e /(f9' tle IOl/gitll-  Rel/dem-se o quarto de li/lia; o ofi-  faltoll  a  nel/hum  dos preceitos,  com
            de leste de Greenwich.            ciaI qlle emroll,  assilll qlle .nibill pllra   /(InlO  rigor e escrúpulo como se fosse
               Era  o  trigésimo ql/imo tle  viagem   o degrall (/0 cmm'elllO. c"amolllogo:   milllobra arriscada 011 imporlOllle. pa-
            tle  Stll/liago  (/e  Cobo  Verde  para   - 6 do leme, olU/eestá?    recendo lia afã com qlle falava para a
            L/Umda.                              - SlIdoeste {filarIa e Irês quartos a   verga  e  para  quem  es/(/va  aos cabos
               A 30 de  Março li"lm corlado a Ii-  oeste.                        que se lralava  de carregar e abafar a
            ,,1m por 1"24' oesle e daí para o sul (I   O vemo era sul,  bonança,  às 8 a   gávea debaixo tie pesado aguaceiro, 01
            I'iagelll/inha sido demorat/u por cau-  barca deitara dilas milhas e agora ai,,-  por 4tr tle  laliwde slll,  a  bordo  da
            sa l/e lrol'oadas. bonal/ças e por vezes   da awlmara mais,  de sorle que quan-  charrua tia carreira.
            de culll/aria.                    '/0 a corvelll  I'i"ha no baltlllço a SQ((I-
               Act/bt/l'll/1/ de bt/ler as 8 e os gajei-  vellto as gáveas bmiam algumas vezes   ...
            ras tinham dado parte de que I/a mas-  de Cllconlro aos /1Wl'laréIlS,  prodllzin-
            treação  lIâo  hal'ia  novidade e  a  bal-  do aquele som mO"ó/OIlO e particular
            deação estava qllasecollclllfda. 56 um   qlle Ião bem se casa com o ral/ger do   - Guardião.  mande pôr os cabos
           011  doi.\·  moços alltlm'am  lia lO/da  de   tll/\lio e urvoretlo.   em baixo e apite a limpar amare/os e
            lambaz  em {J/m/IO  a en.wgar alguma   - Larga sobres e giba.  Caça.  Iça.   li rOI/da que vá c"amar o corneta para
           ágllll qlle linha fiwdo de  fI/COI/Iro  ao   A la os braços a SOlavcnlO.   lOcar ti faxina de bateria.
            Irincrllliz e IIO.S esct/leres os guardas ar-  Apiloll-se ti geme. fez-se a mano-  Vieram  os encerados.  começoll a
           m"WI'lIm as sarrelflS e ii  pa/amel/la e   bra e o guarda-marinha que eSlava ti   faxina,  leimulldo os varões da  meia-

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