Page 89 - Revista da Armada
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na  primeira daquelas cidades confonne   cisco de Almeida. começaram a subir o   porque  estando  ali  algumas  naus  de
        lhe havia sido ordenado pelo rei. Seguiu   rio em direcção à  cidade.   _mouros_ a carregar pimenta. o  rei não
        depois para a ilha de Angediva onde deu   O  objectivo desta  operação  não era   as impedia de o fazerem. apesar dos seus
         início  não  SÓ  à  construção  da  nova   tamo  castigar  o  rei  de  Onor  pela  sua   repetidos  protestos.
         fonaleza como também à construção de   ofensa  como.  principalmente.  destruir   Fidalgo valente mas pouco sensato.
        duas galés e um bergantim para os quais   um certo número de "IulUS de Meca_. que   João Homem quis logo resolver de uma
         levuva  a  madeira já aparelhad(l.   se sabia estarem à carga.  bem como  as   vez o problema.  E. juntando a si o pes-
           Encontrando-se entretido com estes   fustas do corsário Timoja que  utilizava   soal da caravela de Pero Rafael que tam-
        trabnlhos.  foi  D.  Francisco  procurado   aquela  cidade como base.   bém ali se enCOntrava. foi-se às naus dos
        por  um  embaixador  do  rei  de  Onor,   Chegada  a  nossa  notilha  ao  local   .. mouros", tirou-lhes os lemes e as velas
        cidade  silUada  um  pouco  a  sul  de   onde estavam varadas em terra as  refe-  e entregou-os II guarda do feitor para que
        Angediva,  com  propostas de  amizade.   ridas naus e fuslas, ordenou D.  Francis-  aquelas  não  pudessem  fazer-se ao  mar
        Celebrou-se o acordo e foram  trocados   co de Almeida a seu filho  D.  Lourenço   antes da chegada das naus  ponugueSBS.
        os habituais cumprimentos e presentes.   que.  levando consigo um certo número   Feito  isto,  regressou  a Cochim.
           Mas.  alguns  dias  depois,  as  pazes   de batéis, as fosse queimar. enquanto ele   No  caminho.  encontrou  duas  · naus
                                           ficava  com  os  restantes  batéis  em
        quebraram-se  por o  rei  de  Onor se  ter                           de Meca .. que capturou após breves com-
        apoderado duns cavalos que os portugue-  reserva.                    bales.  As  naus  apresadas  não  tinham
        ses tinham capturado num zambuco que   Aproximando-se  da  praia,  D.  Lou-  qualquer  utilidade  para os  Ponugueses
                                           renço de Almeida começou por mandar
        tinham feito dar à costa e que. por causa                            que. nonnalmente, as queimavam depois
        do  estado  do  mar.  não  tinham  podido   varrê-la  com  o  tiro  dos  berços  e  das   de  terem  baldeado  para os seus  navios
        levar para bordo das naus logo a seguir,   espingardas.  após  o  que  desembarcou   todas as mercadorias de valor que trans-
                                           sem oposição e pôs  fogo aos  navios e a
        tendo-os deixado em  terra à guarda  de                              portavam. Mas João Homem não proce-
        alguns  indianos que  ali  viviam.   uma parte da cidade. Acorreu então um   deu assim. Desejoso de fazer figura aos
                                           grande corpo de tropas aguerrido e bem
           Nesla  altura,  a armada de D.  Fran-                             olhos do vice-rei. em vez de pôr fogo às
                                           organizado que pôs em certa dificuldade   naus, meteu em cada uma delas três por-
        cisco de Almeida tinha consigo era com-
                                           D. Lourenço. Vendo isso. D. Francisco
        posta por doze naus. uma caravela e duas                             tugueses e levou-as em sua companhin.
                                           de Almeida enviou-lhe logo reforços que
        galés, já que duas  naus  tinham  nuufra-                            O  pior é que, estando já à  vista  da  nuu
                                           lhe pennitiram. depois de rija peleja. pôr   de D. Francisco de Almeida. que vinha
        gado durante a viagem para a índia. uma
                                           o  inimigo  em  debandada.  Mas  este
        caravela licara em Quíloa. outra fora  for-                          adiantada em relação ao resto da annllda.
                                           reorganizou-se com presteza e. quando
        çuda a  invernar cm  Moçambique. duas                                a tripulação de uma das presas matou os
                                           os  portugueses  estavam  reembarcando
        já  haviam  sido despachadas  para  irem                             três portugueSCl> que a guardavam e pôs-
                                           nos  batéis,  veio  atacá·los  novamente.   -se  cm  fuga.  sem  que  fosse  po~srvel
        bloquear  Calicule  e  uma  outra  fora
                                           sendo  necessário  recorrer  ao  tiro  dos   alcançá-Ia!
        em'iada a Cochim e Coulão. com avisos
                                           berços e das espingardas para o afastar.
        diversos.  O  bergantim  destinava-se  a                                Ficou  o  vice-rei  muito  aborrecido
                                             Nesta acção, além de parte da cida·
        licar  em  Angediva  para  serviço  da                               com O sucedido e teria mesmo demitido
                                           de  de  Onor.  foram  qucimadas  catorze
        fortaleza.                                                           João Homem do seu cargo se os. outro~
                                           _naus de Meca_ e um ceno número das
           Estando a  construção desta  praticu-                             fidalgos  não  tivessem  intercedido  por
                                           fustas de  Timoja.  Dos  indianos.  foram
        JIIctlle conclufda.  D. Francisco de Almei-                          ele.
                                           mortos vinte e dois e feridos muitos; dos
        da paniu com a sua armada para Onor,                                    Entretanto, cm Coulfio. tanto o rei
                                           portugueses apenas morreu um e poucos
        ao largo de cuja barra fundeou no lim da                             como os comerciantes _mouros .. estavam
                                           ficaram  feridos,  sendo um  deles o  pró-
        tarde  desse  mesmo  dia.  que eru  16  de                           indignados com o procedimento de João
                                           prio D.  Francisco de Almeidn. atingido
        Outubro.                                                             Homem.  Após a chegada de mais algu-
                                           num  pé  por  uma  necha.
           Na  manhã seguinte.  mandou alguns   Estando já  toda  a gente  embarcada   mas nau!;.  sentiram-se aqueles com força
        batéis sondar a entrada e fazer um  reco-  nas  naus,  veio  Timoja,  em  pessoa.   bastante para enfrentar os Ponugueses.
        nhecimemo ao longo do rio que dá acesso   apresentar-se àquele. pedindo perdão em   acabando por assahar a feitoria.  Depois
        à cidade, ao mesmo tempo que recebia   seu nome e em nome do rei de Onor por   duma resistência desesperada. o fcitor e
        diversos mensageiros do rei de Onor que   terem quebrado as pazes e solicitando a   mais doze homens que estavam com ele
        iam  e  vinham  eom  promessas  vagas  e   sua renovação. Acedeu D.  Francisco. a   foram  monos.
        incOllcl u~ivas. Pelas informaçõcs colhi-  título  provisório.  e  ne.'isa  mesma  noite   Pera  Rafael.  vendo  o  que  estava  a
        das  pelo~ batéis,  veio  D.  Francisco  a   fez-se  à  vela  rumo  a  Cananor.   passar-se em terra. nada mais pôde fazer
        lklbcr que Ol>  habitantes da cidade esta-                           do que atacar imediatamente com a sua
        vam  a  retif'dr-se  com  os  seus  haveres   COULÃO  (NoH!mbro de  1505)   caravela as naus dos .. mouros_ que CMa·
        para  o  interior  e  que  o  rei  já  linha                         vam mais peno. tendo conseguido incen·
        concentrado  nela  cerca  de  qUlllrO  mil   Logo  que  chegou  a  Angediva.   diar  cinco.  Em  seguida.  paniu  para
        homens.  que  não  cessava  de  reforçar.   D.  Francisco  de  Almeida  mandou  a   Cochim  para dar conta a  D.  Francisco
        Convenceu-se de que as promessas do rei   caravela  de  João  Homem  a  Cananor.   de  Almeida do  ocorrido.
        eram  apenas  um  artifício  para  ganhar   Cochim e Coulão para avisar os feitores   Acabavn este de fundear ao  largo dtl
        tempo  e  decidiu-se  a  atacar Onor.   da sua chegada e do número de naus que   barra  daquela  cidade  quando chegou  ti
           Na  madrugada  do  dia  18.  ainda   tencionava carregar em cada uma dessas   caruvela  de  Pero  Rafael.  Confrontlldo
        escuro.  embarcaram  nos batéis e  numa   cidades  bem como para  saber notícias.   com as solicitaçi}e<; antó'lg6n..icas de acau-
        caravela cerca de seiscentos ponuguel>Cs   Quando João Homem chegou a Cou-  telar  o  negócio  da  pimenta  e  de  não
        que. capitaneados pelo próprio D.  Fran·   Ião,  encontrou  o  fellor  muito agasmdo   deixar passar sem castigo o assalto à fei-
                                                                                                           15
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