Page 202 - Revista da Armada
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boa vontade com que coadjuvou o   o sultão de Zanzibar, sem a presen-  diplomática do litfgio  foi  plenipo-
            2. o -tenente Raphael Jacome Lopes  ça  de  Portugal!  Esta  convenção   tenciário, por parte de Portugal, o
            de  Andrade  no  desempenho  do.   estabelecia como limite do reino de  contra-almirante Hermenegildo de
            comissão encarregada de verificar  Zanzibar o  rio  Meningui,  a  sul da   Brito Capelo que seguiu de Moçam·
            alguns pontos da baía de Tungue,   baía do Tungue que se situava den-  bique a Zanzibar, no dia 5 de Julho
            fazer sondagens e  levantar a com-  tro  do território português.   de 1887, embarcado na corveta Bar-
            petente carta»,  louvor  que consta   Como a acção desenvolvida não   tolomou Dias. Para mostrar os bons
                    o
            da OAn. 23, de 6 de Dezembro de  produzisse  o  efeito  desejado,  em   desejos  de concórdia, o  nosso go-
            1877.                             16 de  Janeiro  de  1887  a  corveta  verno, ao contrário de que de inicio
               Julgamos  que  este  plano  não  Afonso de Albuquerque fez-se  ao   resolvera, e a pedido da Alemanha
            chegou a ser publicado dado que só  mar, entrando em Zanzibar no dia  e  da Inglaterra, decide devolver o
            conhecemos desta bafa uma única  23 e o govemador-geral, que seguia  vapor Ki1wa  ao sultão. Esta medi·
            carta impressa pela ttComissão Caro   no  navio,  desembarcou,  acompa-  da provoca um oUcio de Augusto
            tographio.lI em 1889 e cujo levanta-  nhado pelos oficiais, para conferên-  de  Castilllo  para  o  ministro  da
            mento  se  deve  a  outros  oficiais.   dar com o  sultão.          Marinha e Ultramar, com data de 26
            Contudo, esta bafa do Tungue me-     No dia 3 de Fevereiro, o gover-  de Setembro de 1887, em que des·
            rece ainda uma palavra, dado que,   no autorizou Augusto de Castilho   taca a atitude arrogante dos árabes
            Augusto  de  Castilho,  o  autor  da  a  ocupar milltannente o  Tungue.   «em consequência da demora nas
            epístola que consta do documento  Assim, esgotadas as negociações,   negociações  e  também por causa
            n. o 3, teve, a seu respeito um papel  o governador-geral, às 13 horas do   da  explicação  aviltante  para  nós
            relevante. Efectivamente, esta bala  dia  11  de  Fevereiro,  enviou  um   que  eles  deram  à  restituição  que
            de Tungue, foi motivo de um liUgio   ultimato ao  sultão,  para que este   fizemos  do  vapor-presa  Ki1wa,
            entre as nossas autoridades e o sul-  se decidisse  dentro  de  24  horas,   antes de estarem as coisas diploma-
            tão  de  Zanzibar,  que  Augusto de  esclarecendo, entretanto, que lISabe   ticamflnte definidasD.
            Castilho  resolveria  poucos  meses   V.A. perfeitamente que nos tempos   Entretanto o Ministério dos Es-
            depois de ter escrito aquela ca.rto..   modernos  Portugal  se  não  tem   trangeiros propôe Que se discuta a
               A bala de Tungue, situada no   apresentado como nação conquis-   situação  em  Lisboa,  juntamente
            extremo norte da província de Mo-  tadora ou ambiciosa de dilatar os   com representantes da Inglaterra e
            çambique, tinha sido doada o.  Por-  seus  territórios,  mas  que  agora,   da  Alemanha,  solução  que  estes
            tugal em  1510 pelo rei  de Quiloa.   como antigamente, se mostra ciosa  países aceitam. Em consequência,
            No século XIX a própria autoridade  dos seus legitimas  direitos  e  dis-  é  dada por finda a  missão de Her·
            indígena portuguesa - o xeque de  posta a  mantê·los e  a  fazê·los  res·  menegildo  Capelo  em  Zanzibar.
            Tungue,  Amade  Sultane  -  ban-  peitar por todos os modos dignos      Pouco  tempo depois,  o  sultllo
            deou·se com o sultão de Zanzibar,   que tenha ao seu alcance. E,  além   Said  Bargash  morre,  e  este acon·
            de nome Said Bargash, pennitindo  disso, sabe V.A. por referência pró-  tecimento faz interromper as nego-
            que este se apoderasse da região.   pria e de seus súbditos, que como   ciações.  A  bafa  de  Tungue  fica
            Como esta baía ficava a sul da linha  vizinhos que somos temos sempre   nas  mdos  dos  portugueses,  como
            que limitava ao norte o território de  procurado viver nas mais cordeais   se deduz da leitwa do  KDiário  do
            Moçambique, os governadores por-  e estreitas relações de amizade com   Governo)),  de 28 de Julho de 1889
            tugueses  foram  apresentando suo   Vossa  Alteza  e  com  o  seu  POVO)).   que  estabelece  a  criação  dum
            cessivos  protestos  sem  qualquer   O sultão não cedeu e  o  gover·  consulado,  ou  melhor,  a  sua rea·
            resultado. Em 1862, o reino de Zan-  nador-geral, continuando embarca-  bertura  pois,  como  já  dissemos,
            zibar torna·se independente com o   do na Afonso de Albuquerque, saiu   tinha sido encerrado antes do inl·
            auxilio dos ingleses e, natwalmen-  a  12  de  Zanzibar,  depois  de  ter  cio das hostilidades, em Fevereiro
            te, a  situação mantém·se.        arriado a  bandeira portuguesa no  de 1887.
               Augusto de Castilho,  em prin-  consulado,  seguindo  para  o  Tun-  Quando parecia que a  questão
            cipias  de  1887,  dois  anos  depois   gue, onde fundeou a  14. No dia 15   da fronteira setentrional de Moçam-
            de  ter  assumido  as  funções  de   entrou na bafa o vapor zanzibarita   bique  estava aIrumada,  acontece
            governador'geral,  aproveitando  a   Kilwa que foi apresado, tendo sido   que em 1 de Julho de 1890, a Ingla-  •
            presença de urna força naval alemã,   lavrado o  respectivo auto.   terra  e  o.  Alemanha  assinam  um
            à  qual  se juntariam navios  portu·   A  18  começou  o  bombardea·   acordo com a  aquiescência do sul·
            gueses, quis ocupar a bala de Tun-  mento  da  povoação  de  Tungue,   tão de Zanzibar, em que os territó-
            gue, efectivando as disposições de  sendo  Meninguine  batida  pela   rios ao sul do seu reino são cedidos
            um  tratado que  o  governo  portu-  canhoneira  Douro.  Outras  acções   ao  império  alemão,  que  paga por
            guês tinha celebrado com a Alema-  se seguiram em terra que puseram,   eles  uma  certa  soma.  Entretanto
            nha em 30 de Dezembro de  1886.   em fuga as forças  do sultão e  nas   tinham terminado longas e laborio-
               Todavia, verificou·se com gran-  quais  se  distinguiu  o  tenente·  sas negociaçOes entre Portugal e a
            de  surpresa,  que  as  cláusulas  do   ·coronel José  Raimundo  da Palma   Grã-Bretanha, acerca das fronteiros
            referido tratado estavam em antino-  Velho, que foi  condecorado e  veio   de  Moçambique, em que esta po-
            mia com uma convenção ultimada,   a ter o seu nome atribuldo à povoa-  tência reconhece os limites defini·
           em 4 de Dezembro do mesmo ano,     ção de Palma.                     dos no tratado de 30 de Dezembro
           entre os governos da própria Ale-     Estava resolvido o  aspecto mi-  de  1886,  entre  o  nosso  pais  e  a
           manha, da França e da Inglaterra e   litar do conflito, mas para a solução  Alemanha, conConne já referimos.


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