Page 151 - Revista da Armada
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rratado de Maastricht




                                       A controvérsia







                esde  a assinatura,  em  1957,  do  Tratado  de  Roma  que  contra o terrorismo,  o tránco de droga e a imigração clandes-
                criou  a  Comunidade  Económica  Europeia  e  a  tina.  Embora  as  grandes  decisões  continuem  a ser  tomadas
          DComunidade Europeia de Energia  Atómica, verificou-se  por  unanimidade, acordou-se  no  princípio  das  decisões  por
          um  movimento constante  no duplo sentido do alargamento e  maioria  qualificadas, ou seja  por um sistema de votos ponde-
          do aprofundamento da Comunidade.                     rados  em  função  das dimensões dos  Estados.  Esta  é uma  das
                                                               matérias  controversas,  mas que  parece  indispensável  à toma-
            No  que  respeita  ao  alargamento  a Europa  dos  Seis  passou  da  de  decisões  dentro de  uma  comunidade  que  hoje  tem
          em  1973 à  Europa dos Nove, com  a entrada do Reino Unido,  quinze  membros  e  poderá  vir a ter  mais de vinte.  Neste  sis-
          da  Irlanda  e da  Dinamarca.  Em  1981  os  Estados  membros  tema,  Portugal  tem o mesmo  núm~ro de votos que a Bélgica,
          passavam a ser  Dez,  com  a  entrada, um  tanto  forçada, da  a Holanda, a Grécia, a Suécia e a Austria.
          Grécia  e,  em  1986,  passou-se  à  Europa  dos  Doze,  com  a
          entrada de Portugal e da  Espanha.                    Outra  matéria controversa reside na  fixação das datas e dos
            Muito recentemente,  como se  sab~. já  em  1995.  a Europa  critérios  financeiros  de  convergência  das economias,  com
          enriqueceu-se com  a  adesão  da  Austria,  da  Suécia  e  da  vista ao estabelecimento da  União Monetária.
          Finlândia.                                            Ainda  outra  matéria  susceptível  da  larga  controvérsia,  a
                                                               nível  dos  Estados,  assenta  no  estabelecimento  pelo  Tratado
            No  que  respeita  ao  aprofundamento verificou-se em  1968  de  uma  Política  Externa e de Segurança Comuns que procura
          a entrada em vigor da  União Aduaneira e em  1979 assistiu-se  dar voz  mais activa,  concertada e unãnime à  União  Europeia
          à criação do Sistema Monetário Europeu.              na  cena  política  internacional,  com  base  na  manutenção  da
            Em  1986. antes da  nossa adesão.  foi  assinado o Acto  Único  paz e segurança internas e no respeito nos direitos humanos e
          Europeu  que  deu  origem  ao  -Relançamento da  Construção  nas liberdades fundamentaiS.
          Europeia-,  confirmando  os  objectivos  da  formação  de  um
          mercado interno sem  fronteiras e de uma  união económica  e   Para  rever o Tratado em  1996 existe um  Grupo de Reflexão
          monetária.                                           destinado  a preparar  a Conferência  Intergovernamental  (CIG
            Foi  em  1991  que  se  concluiu,  entusiástica  e  apressada-  96), composto por representantes dos Ministros dos  Negócios
          mente,  o tão  falado  e  criticado  Tratado  de Maastricht.  Em  Estrangeiros  da  União  Europeia.  Os  autores do Tratado pre-
          1993, já  em  consequência,  eliminaram·se obstáculos  à  livre  vêm,  aliãs,  uma  alteração  das  instituições  comunitárias  para
          circulação de mercadorias,  pessoas, serviços e capitais.   tentar  melhorar  o funcionamento  das  estruturas,  tendo  em
                                                               vista (uturos alargamentos.
            Com  o Tratado  de  Maastricht  a C.E.E.  muda  a sua  desig-
          nação  para  União  Europeia,  reforça-se  a cooperação  na
          investigação e  desenvolvimento  tecnológico, na  protecção   o TRATADO  PRECISA EFECTIVAMENTE
          do  ambiente  e  na  coesão económica  e  social, condição   SER  REVISTO
          indispensável  à correcção  das  disparidades  de  riqueza  e  de
          desenvolvimento dentro da União.                      Por  um  lado, como escrevia Carlos Gaspar,  "'0 caminho está
            Para  o efeito criou-se o  Fundo  de  Coesão  destinado  a   minado  de obstáculos  decorrentes  da  rigidez dos critérios  de
          financiar projectos no domínio dos  transportes e do ambiente   convergência  impostos  para  aceitação  da  moeda  única~. São
          e  redefiniram-se  os  Fundos  Estruturais  com  vista  a  uma   poucos os  Estados que  satisfazem  neste  momento os  famige-
          maior eficácia da  política  estrutural nos  Estados-Membros.
                                                               rados critérios e,  pelos vistos,  a França,  considerada  parceira
                                                               indispensável pela Alemanha, vai obrigar a atrasar dois anos o
            o Tratado  criou  a  cidadania  europeia  sem  suprimir  as   processo.
          nacionalidades,  mas  conferindo  novos  direitos  aos  cidadãos
          comunitários:  de votar e ser eleito nas eleições autárquicas e   Por  outro  lado,  existem  actualmente  factores  de  disfun-
          europeias com  base no critério do local de residéncia; de cir·   cionamento:  as  decisões comunitárias são  tomadas longe dos
          culação  e  permanéncia  em  qualquer  Estado-membro;  de   cidadãos;  os  Estados  não  aplicam  integralmente  as  directivas
          petição  perante o  Parlamento  Europeu  e  de  protecção   emanadas  de  Bruxelas;  os  critérios  de  convergência  são
          diplomática  em  países  estranhos à  União,  por  parte  das   exagerada mente  apertados;  a  livre  circulação está  longe  de
          representações de qualquer  Estado-membro.
                                                               ser  uma  realidade;  não  se  encontraram  ainda  soluções  para
                                                               travar  a  crise  do  desemprego;  subsistem  os  perigos  do
            o Tratado  estabeleceu  uma  competência  a  Bruxelas  no   descontrolo  da  imigração;  a  Europa  mostrou-se  impotente
          domínio  industrial, orientada  no  sentido de  reforçar  a   para resolver o problema da Bósnia; existe  um  real alheamen-
          capacidade concorrencial  da  indústria  comunitária  e  prevê  o   to das populações pelos assuntos europeus.
          estabelecimento  de  grandes  redes transeuropeias de  trans-  Não  há  alternativa  para  a integração de  Portugal  na  União
          porte, telecomunicações e energia.                   Europeia.  Benvinda  seja,  pois,  a  Conferência  Intergo·
            O  Tratado  visa  também,  a cooperação  nos  domínios  da   vernamental de 1996.                   e
          justiça  e  da  segurança  interna  e  prevê  a criação  de  uma
          Unidade  Europeia  de  Polícia  (EUROPOll,  facilitando  o inter-                           Serra  Brandão
          cãmbio de informações criminais com o fim  de facilitar a luta                                       CfR
                                                                                            REVISTA OA ARMADA •  M-\lO 96  5
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