Page 43 - Revista da Armada
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CURIOSIDADES
                          A ,.1,. II. "'''"'





                                       Passado e Presente




          ..... Toda  li feira i imagem das vaidades dos homens, porque
          lia feim  tI/do se compra e vende com barateza" ...
          Frei AnfÓniodo ROSifrio ("A Feyra Mystica de Lisboa" - 1691).   De acordo com  vários autores consagrados em elementos da
                                                              obra Olissiponense, conslata-se que a origem da feira  da ladra
          " ... Niio sei de divertimellto portllgllês mais rico de tradições   se perde no "P.1SS<1do ignoto dos tempos".
          do que lIma feira" ...                                A Feira  era  um  mercado  lisboeta,  medieval,  que se admite
          JlÍlio Dmllas (Maio de 1943).                       ser anterior à data da constituição da  Monarquia Portuguesa, e
                                                              se tem mantido alé à actualidade.
               onvivemos lado a lado, Hospital da  Marinha e Feira  da   Designi'ldi'lll\lulr(l~ tempos por "Mercado Franco de Lisbo.l ",
               L1dra, desde há já  longos anos, aparentemente sem limites   figu ra  nil  História, desde os primeiros séculos da  monarquia,
          Cou  fronteiras, dois dias por semana, terças-feiras e sáb.ldos,   ligada ao "Chão da  Feira", terreiro como rua longa, "em frente
          de todos os meses do ano, muna exposição sucessiva de bens e mero   aos bastidores mauritanos do Castelo de S. Jorge".
          cadorias, em estado novo ou m.1is ou menos usado, algumas tidas   Todavia, a origem do mercado desaparece no desconhecido
          como antiguidades, com um desfile ininterrupto de pessoas, de   de um  período muito distante, O que não permite determinar
          todas as origens e condição social, até vindas da estranja, de terras   com exactidão os lugares em que se realizou.
          bem distantes, para visitm a Feira da  L1dra, cujo início se perde na   Aquele que os Olissipógrafos apontam como origem,  em
          memória dos tempos.                                  épocas bem longínquas, é o pequeno largo junto do Castelo de
            Numa azáfama constante movem-se objectos e pessoas, destas,  S. Jorge, denominado Chão da Feira.
          umas de fonna contemplativa, outras arduamente empenhadas no   Investigadores diversos ci tam documentos raros que
          desejo de encontrar o que tanto procuram ... E atenção aos larápios!,   referenciam o mercado lisboeta, como existente, já  na época de
          que afinal de contas fa7..em  parte do
          pitoresco de qualquer mercado.
            Para mim basta·me contemplá-Ia
          das janelas do Hospital que se abrem
          sobre ela,  Hospilal que  de certo
          modo e para alguns se confunde
          com  uma antiguidade, pertença da
          Feira da Ladra.
            Recordo-me  por  exemplo  da
          seguinte  peripécia  em  que  fui
          protogonista:
            Encontrando-me de serviço e
          num.l  passagem pelo  "hall" junto à
          entrada inferior do Hospital, em
          direcção ao alnco de urgência, fui
          abordado  por um  baixo e típico
          japonês de meia idade, certamente
          endinheirado, empunhando uma
          boa máquina fotográfica.
           Apontava para o antigo candeeiro
          da entrada.. que outrora fora alimen-
          tado a azeite, e inquiria em voz alta: •
          '1iow much does ii costf'~.
           Enfim!, o candeeiro ainda hoje se
          encontra no seu lugar, mas da  Feira
          da Ladra. dificilmente nos escaparna; ou alheamos, e sen~1a bem  D.  Afonso  11  (1185/1223).  Assim,  a notícia  deste mercado
          presente quando tentamos, desesperadamente coru;eguir um lugar, o  medieval,  remonta  ao século XII,  realizando-se um dia  por
          mais à justa que sej.l, para encaixarmos a nossa  viatura, o que se  semana.
          toma  por vezes infrutífero e desgastante, forçando-nos a ter de nos   Pode admitir-se que "o Chão da Feira" avocou a designação
          deslocarmos a pé, durante largos minutos, obrigando-nos a pas&1r  toponímica  do antigo  mercado que aí diariamente se fazia,  o
          através da Feira, sentindo então dentro de nós o seu vivo pulsar.   qual  foi  considerado,  por eruditos, o avô remoto  mas directo,
           E no referente a cenas, muitas nela  decorreram, desde tempos  da nossa Feira da L.1dr,1.
          remotos, Um.1S m.1is ou menos anedóticas, bem infelizes, e quanto a   O terreno contíguo às muralhas para onde se presume que se
          estas, não podemos deixar de pensar naqueles que nela procuram a  expandia o mercado celebrado noutros casarões térreos, junto
          droga ou que a tentam vender.                       da  Alcáçova,  tomou, talvez daí,  a designação de  "Chão", ter-
           Mas, Feira da Ladra é tradição, é história, e por isso me disponho  reiro possivelmente maior do que o actual e que desde D. Oiniz
          a relatar um pouco da sua já idosa existência, de acordo com dados  se encontrou assim designado ininterruptamente "Chancelaria
          recolhidos de obras de ilustres Olissiponenses.     de O. Diniz- Livro III)".                         "
                                                                                       REVISTA DA ARMADA ·  fEVEREIRO  97  5
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