Page 110 - Revista da Armada
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Património Cultural da Marinha
Património Cultural da Marinha
Peças para Recordar
3. PREVISOR DE MARÉS DE LORD KELVIN
As marés resultam principalmente da atracção exercida pela Lua e pelo
Sol e manifestam-se em cada local pela subida e descida periódica da
superfície das águas oceânicas. Contudo, esta periodicidade não é simples
de descrever: a maré atrasa cerca de 50 minutos por dia, a amplitude varia
de lugar para lugar e ao longo do tempo, e em certos locais a maré parece
por vezes “desaparecer”. As primeiras tabelas de marés foram construídas
por análise empírica de longas séries de observações, segundo métodos
considerados secretos, transmitidos de pais para filhos.
O problema da descrição matemática rigorosa da maré foi resolvido
graças às contribuições de cientistas eminentes, dentre os quais se destacam
Sir Isaac Newton (1642-1727), Laplace (1749-1827), Lord Kelvin (1824-
1907) e Sir George Darwin (1845-1912). No entanto, a previsão rigorosa da
maré requeria a execução de cálculos muito laboriosos, difíceis de executar
com os meios então disponíveis.
O previsor de marés de Lord Kelvin é um computador analógico conce-
bido para resolver por processos mecânicos o problema matemático da pre-
visão rigorosa da maré. O seu funcionamento baseia-se na combinação de
movimentos periódicos gerados por hastes ajustáveis, movidas por rodas
dentadas acopladas a um veio. Estes movimentos são transmitidos através
de um sistema de roldanas a um aparo registador. Para obter uma previsão é
necessário ajustar previamente a posição e o comprimento de cada uma das
hastes para o instante inicial (segundo elementos obtidos a partir da análise
de observações da maré), processo que é de certa forma análogo ao acerto
dos ponteiros de um relógio. Avançando a manivela que comanda todo o
mecanismo, produz-se um registo gráfico a partir do qual é possível cons-
truir uma tabela de marés.
O exemplar da fotografia é baseado no modelo construído por Lord
Kelvin em 1876. Foi o 5º instrumento deste tipo a ser montado pela firma
“Kelvin Bottomley and Baird”, de Glasgow, tendo sido concluído em 1924 e
entregue em 1925 à extinta Direcção de Hidrografia e Meteorologia
Náutica do Ministério da Marinha. Este aparelho foi utilizado durante 41
anos para elaborar previsões de marés. Com ele se produziram as tabelas de
marés para os principais portos de Portugal, abrangendo Portugal
Continental e os Arquipélagos da Madeira e dos Açores, bem como para os
portos do antigo Ultramar Português. As máquinas deste tipo foram substi-
tuídas pelos computadores electrónicos, que permitem obter as previsões de
marés com grande rapidez e precisão. No entanto, os princípios utilizados
na construção do previsor de marés de Lord Kelvin mantêm-se inteiramente
actuais.
O previsor de marés nº 5 de Lord Kelvin pertence ao Instituto Hidrográfico
desde a sua fundação. Actualmente funciona apenas como peça de museu.
Esteve presente na EXPO’98 no Pavilhão do Conhecimento dos Mares.
Instituto Hidrográfico
(Texto de Carlos Oliveira e Lemos CTEN E.H.)